O Transtorno Afetivo Bipolar é uma doença que afeta grande parte da população mundial. Descubra o que é a bipolaridade, quais são os sintomas e as causas.
A bipolaridade, ou transtorno bipolar, é uma doença que afeta cerca de 45 milhões de pessoas no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O transtorno pode ter diferentes causas, como as sociais, biológicas ou até mesmo as neuroquímicas, e o principal sintoma é a alteração constante de humor, com momentos de depressão e outros de extrema euforia.
Leia também: Psicólogo online: o que saber antes de fazer terapia à distância
O Transtorno Afetivo Bipolar, como também pode ser conhecido, não tem cura e aparece com mais frequência na faixa dos 20 aos 40 anos, tanto em homens quanto em mulheres, de acordo com o Ministério da Saúde.
Dos portadores da doença, 50% tentam ao menos uma vez se suicidar, e 15% deles realmente perdem a vida – estimativa feita pela Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA).
Para explicar um pouco mais sobre o que é a bipolaridade e quais são os sintomas e causas, conversamos com o Psicólogo Clínico Luiz Alves, que faz parte do ambulatório PROEPSI na UFMG e integra o Laboratório de Avaliação e Intervenção em Saúde, também da UFMG.
O que é bipolaridade?
A bipolaridade é uma doença, que tem como principal característica o aumento de atividade e energia. “A pessoa com o transtorno começa a se sentir excessivamente disposta para realizar tarefas do dia-a-dia ou os planos que começa a elaborar”, explica Alves.
“Importante ressaltar que esse aumento de energia, apesar de parecer positivo para a atualidade, pode causar impactos e prejudicar o funcionamento social, interpessoal, laboral e psicológico do indivíduo”.
Existe mais de um tipo de bipolaridade?
Bipolaridade não corresponde a apenas uma doença – por isso, o termo utilizado é “Transtorno Bipolar e outros transtornos associados”. Dois tipos comuns de bipolaridade são Transtorno Bipolar tipo I e Transtorno Bipolar tipo II, sendo que os dois não correspondem a formas mais ou menos graves da doença.
Em vez disso, são dois tipos diferentes. Os dois levam à ocorrência de episódio de mania, que são justamente os períodos em que há o aumento de energia e de atividade.
“Nesses episódios, as pessoas se sentem, quase todos os dias, muito motivadas para alcançar uma meta, elaboram planos grandiosos e apresentam uma autoestima mais elevada que o comum. Contudo, no tipo I, a duração desses episódios é maior que no tipo II. Ainda, no tipo I, não é necessário haver um episódio depressivo após esses episódios de mania, isto é, um período com redução da motivação, do interesse e sentir-se triste e/ou vazio quase todos os dias. Enquanto, no tipo II, a ocorrência desses episódios depressivos é obrigatória para o diagnóstico.”
Além desses dois tipos de bipolaridade, há ainda outros que se relacionam à mudança mais rápida entre episódios de mania e episódios depressivos, ao surgimento de sintomas após o uso de medicamentos/outras substâncias ou a outras condições médicas.
Quais são as causas do transtorno bipolar?
As causas dos transtornos bipolares, assim como nos outros transtornos mentais, não estão totalmente definidas. Hoje, sabe-se que há influências genéticas e ambientais. Pessoas que têm familiares com o transtorno podem ser mais vulneráveis e serem mais impactadas com acontecimentos estressantes da vida.
“Tanto essa hereditariedade quanto os acontecimentos da vida de uma pessoa podem contribuir para o surgimento da bipolaridade. Isso não quer dizer que é certo o desenvolvimento do transtorno em pessoas com familiares que tenham bipolaridade, mas que há maiores chances. Focar em fatores protetores pode ser uma forma de prevenir o surgimento da doença.”
Quais são os sintomas da bipolaridade?
Além dos sintomas citados, é muito comum, quando está ocorrendo um episódio de mania:
- Redução da necessidade de dormir e fácil sentimento de descanso com poucas horas de sono;
- Aumento da vontade de falar (e, talvez, de forma mais acelerada);
- Aumento repentino de motivação para objetivo específico;
- Impulso ou tendência a praticar atividades de risco, ou com consequências negativas, como compras excessivas, práticas sexuais fora do que é comum para a pessoa, investimentos financeiros mais incertos e jogos de azar.
Já nos episódios depressivos, as pessoas podem falar que estão se sentindo mais tristes, para baixo, sem vontade de fazer as coisas que antes gostavam, sem sensação de prazer ou satisfação para o que antes gostava de fazer.
Luiz Alves ressalta a importância de que as pessoas próximas e os profissionais estejam atentos a comportamentos auto-lesivos, pois o risco de suicídio em pacientes com transtornos bipolares é alto.
“Como pode haver essa passagem de período com mais energia para outros com menos, dependendo do tipo de bipolaridade, as pessoas podem se sentir culpadas. Por isso, é importante tanto o paciente quanto os familiares recebem um suporte profissional que ofereçam orientações sobre o transtorno”, explica o psicólogo.
É comum que o surgimento dos sintomas aconteça no fim da adolescência e início da vida adulta, por volta dos 20 e poucos anos. Casos com surgimento mais tardios, como após os 50 anos, devem ser investigados com mais cautela por poderem se relacionar a outros quadros médicos, psiquiátricos ou neurológicos. A presença de outros transtornos, como transtornos de ansiedade e abuso de álcool e/ou outras drogas, é muito comum.
Qual o tratamento? Existe cura para a bipolaridade?
O transtorno bipolar é, geralmente, crônico. Isto é, pode ocorrer durante muito tempo ao longo da vida. Mas existem tratamentos que facilitem o dia-a-dia de quem sofre com o transtorno.
O primeiro tratamento a ser recebido após o diagnóstico é o farmacológico, com o uso de medicações. Algumas medicações como estabilizadores de humor, antipsicóticos, antidepressivos e lítio são comumente associados.
“O tratamento com medicamentos e psicoterapia pode ajudar a pessoa a conhecer os fatores de risco, que ajudam os sintomas a aparecerem, e os fatores de proteção, que auxiliam na redução dos sintomas e evitam o surgimento de novos. Desse modo, os acompanhamentos psiquiátricos e psicológicos podem dar mais qualidade de vida para o paciente.”
O que fazer em caso de crise?
De acordo com o psicólogo Luiz Alves, os casos de crise devem ser encaminhados para hospitais ou para os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), pois eles podem oferecer um atendimento de emergência de forma a diminuir os sintomas mais agudos do transtorno.
Os CAPS, inclusive, contam com equipes multiprofissionais que podem dar esse suporte mais apropriado.
Como ajudar as pessoas com bipolaridade?
Além dos sintomas da doença, as pessoas com bipolaridade podem sofrer pela falta de compreensão de familiares e amigos. “Uma forma de ajudar as pessoas com bipolaridade é oferecer orientações sobre como o transtorno acontece, quais são os sintomas principais, o que fazer quando há crises, como se utilizar dos fatores de proteção para evitar novos surgimentos dos sintomas”, afirma Alves.
A estigmatização também deve ser combatida, já que contribui para o sentimento de exclusão ou discriminação.
“O que deve ficar claro e ser guardo, em síntese, é a necessidade de se buscar um diagnóstico correto e que o tratamento seja adequado a cada paciente. Equipes de saúde mental, principalmente psiquiatras e psicólogos, devem sempre considerar as diferenças individuais para que haja mais adesão ao tratamento.”
Atenção:
Para ter o diagnóstico correto dos seus sintomas e fazer um tratamento eficaz e seguro, procure orientações de um psicólogo ou médico.