Você certamente já deve ter ouvido falar dela, mas será que você sabe o que é amnésia? A amnésia é o principal distúrbio da memória; é um sintoma cujas causas e manifestações são tão diversas quanto variadas.
Você certamente já deve ter ouvido falar dela, mas será que você sabe o que é amnésia? A amnésia é o principal distúrbio da memória, é um sintoma cujas causas e manifestações são tão diversas quanto variadas. Trata-se de uma perda total ou parcial da capacidade de recordar experiências ou acontecimentos, podendo ocorrer de forma temporária ou permanente. Devido à complexidade da memória em seu funcionamento dentro do nosso cérebro, a amnésia é um sintoma bastante complicado de explicar com precisão. Por esta razão, pacientes com amnésia vêm se tornando uma fonte valorosa para compreendermos um pouco melhor como funciona nossa memória.
Quais são as principais causas da amnésia?
Os sintomas variam muito de acordo com a origem do distúrbio. Mas, na maioria dos casos, as lembranças ligadas à memória episódica são especialmente frágeis. As principais causas são:
- Acidente com traumatismo craniano.
- Acidente vascular cerebral, tumor cerebral, crise epilética, infecção cerebral, distúrbio neurodegenerativo (doença de Alzheimer, por exemplo), doença psiquiátrica etc.
- Carência de vitamina B1 (ligada ao alcoolismo crônico, por exemplo).
- Intoxicação causada por monóxido de carbono, doses excessivas de alguns medicamentos etc.
- Choque psicológico.
- Cirurgia do cérebro por lesão cerebral.
Manifestações da amnésia
Como dito anteriormente a amnésia pode se manifestar de diferentes formas e com intensidade diferentes. Abaixo listamos e detalhamos as principais, confira:
A síndrome amnésica
É possivelmente a forma mais grave de amnésia. Na maioria dos casos, é provocada por lesões que afetam os dois hemisférios do cérebro, nas regiões ligadas à memória episódica.
Por vezes, a perda da memória se limita aos minutos que antecederam o acidente – por exemplo, depois de um traumatismo craniano que provocou uma perda breve de consciência. Mas, nos casos mais graves, ela pode se estender por várias décadas: o doente perde então uma parte substancial de seu passado. Esse déficit de lembranças armazenadas não é, no entanto, o que mais incapacita. As pessoas que sofrem de síndrome amnésica também encontram dificuldades em memorizar novas lembranças. Elas vão esquecendo o que fizeram durante o dia, o conteúdo das conversas, o nome e o rosto das pessoas encontradas, o que viram… Essa incapacidade de fixar novas lembranças pode aprisionar a pessoa no tempo. Ela já não percebe a passagem dos anos e acredita ter a mesma idade que tinha no momento do acidente.
Algumas parcelas da memória ficam preservadas, como a memória de trabalho. O amnésico pode reter durante alguns minutos uma curta lista de palavras ou números e depois enunciá-los, mas, logo que ele deixar de se concentrar no exercício, irá esquecê-los. A memória das aptidões, ou memória procedural, também se mantém. Além disso, estudos recentes indicam que essas pessoas podem adquirir novos conhecimentos gerais, como nomes de novas celebridades ou palavras que entraram recentemente no vocabulário: a memória semântica parece, portanto, ser preservada.
A síndrome de Korsakoff
Entre os dependentes, o excesso de álcool pode levar a uma carência de vitamina B1, o que provoca lesões cerebrais. A consequência é uma incapacidade de fixar novas lembranças, acompanhada de uma amnésia que atinge os acontecimentos passados. A pessoa, que muitas vezes não tem consciência do distúrbio, tende a confabular. A sua memória implícita parece, no entanto, ficar preservada. Serguei Korsakoff (1854-1900), psiquiatra russo que identificou a síndrome, conta, por exemplo, que um de seus pacientes, que não se lembrava de já o ter visto naquele dia, lhe dizia “bom dia” cada vez que eles se cruzavam, mas sem estender a mão – o que parece mostrar que ele havia guardado a lembrança implícita do primeiro encontro.
Amnésias seletivas
Outras amnésias atingem tipos precisos de informação. Na demência semântica, ligada à degeneração de certos neurônios do lóbulo temporal externo, os pacientes perdem o sentido das palavras e dos conceitos: é, portanto, essencialmente a memória semântica que fica afetada. Na amnésia frontal, causada por lesões dos lóbulos frontais, é sobretudo a evocação espontânea das informações que se torna deficiente: a pessoa é incapaz de repetir uma lista de palavras, mas pode reconhecer algumas delas, o que revela ao mesmo tempo um distúrbio de atenção e uma incapacidade de recuperar informações com uma finalidade precisa. Há ainda algumas amnésias que afetam a memória dos rostos, objetos ou gestos.
A síndrome do buraco negro
Essa estranha síndrome pode atingir pessoas saudáveis, geralmente com mais de cinquenta anos. Durante a crise, que dura apenas algumas horas, a pessoa perde o acesso a uma parcela de seu passado e esquece instantaneamente tudo o que acabou de acontecer. No entanto, ela permanece perfeitamente capaz de dirigir, ou até mesmo, se for um professor, de dar uma aula!
Esse “ictus” amnésico corresponde, portanto, a uma perda brutal, seletiva e transitória da memória episódica. A causa seria uma disfunção temporária de um vasto circuito cerebral, que inclui a região do hipocampo e o córtex pré-frontal.
A doença de Alzheimer
A perda da memória é o primeiro sinal da doença de Alzheimer, que se caracteriza por uma atrofia do hipocampo. As lembranças antigas ficam mais bem preservadas do que os fatos recentes, mas a memória do trabalho e a memória semântica são rapidamente afetadas. À medida que a doença evolui, as perdas podem tomar proporções dramáticas, e a pessoa afetada pode até mesmo esquecer que possui uma família.
A memória procedural, a dos automatismos adquiridos ao longo dos anos, no entanto, permanece preservada por um longo período. Assim, uma pessoa pode cantar uma cantiga de ninar ou executar alguns passos de dança, e ao mesmo tempo ser incapaz de falar. Mesmo que com o passar dos anos nem o repertório de gestos seja poupado (escrever, vestir-se, lavar-se), a programação automática permanece eficaz por mais tempo do que a execução automática dos movimentos. Dessa forma, a pessoa, que diante da mesa posta permanece desorientada, põe-se a comer a partir do momento em que um garfo é colocado em sua mão.
A partir da constatação acima, surgiu a ideia de criar programas de reeducação que tenham como base essa parte ainda funcional da memória, no intuito de tentar instaurar novos automatismo que facilitem a vida cotidiana. O princípio é facilitar o aprendizado implícito pela repetição dos gestos, sem dar instruções orais – ou seja, “fazer com que faça” e não “dizer o que fazer”. Para ajudar a pessoa a criar referências em uma nova casa, muitas vezes é mais eficiente acompanhá-la em silêncio pelo trajeto, segurando-a pelo braço, do que lhe explicar o percurso, explicando cada etapa (“primeiro à direita, depois à esquerda” etc.).
Transtorno de estresse pós-traumático
Guerra, atentado, agressão: um acontecimento violento pode provocar um transtorno de estresse pós-traumático profundamente incapacitante. A lembrança tende a invadir o cotidiano da pessoa, que rememora sem cessar o que vivenciou, e assim permanece assombrado pelos acontecimentos. Nesse caso, o processo normal de apagamento da lembrança não foi acionado.
Excepcionalmente, um acontecimento desse tipo pode ter efeito inverso: a vítima esquece parcelas inteiras do passado e por vezes até seu nome e endereço. Essa amnésia dita psicogênica pode durar apenas algumas horas ou se prolongar durante vários meses.
O impacto de tais experiências sobre a memória resulta de uma estimulação da amígdala, uma estrutura que intervém nas emoções, principalmente do medo. Essa reação pode ser bloqueada pela administração, nas horas seguintes à agressão, de propanol (um betabloqueador geralmente indicado para o tratamento de hipertensão arterial), que não apagará a lembrança do acontecimento traumático, mas poderá eliminar o sofrimento associado à ela.