Médicos têm observado que as inflamações provocadas pelo novo coronavírus, Covid-19, podem formar coágulos sanguíneos que provocam AVCs.
Julia Monsores | 22 de Maio de 2020 às 20:00
Novas descobertas médicas têm identificado que o novo coronavírus pode desencadear casos de acidente vascular cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrames, em alguns pacientes — inclusive naqueles com menos de 50 anos.
“Os médicos estão identificando uma relação entre o coronavírus e o risco de incidência de AVC. Porém, como ainda estamos lidando com um vírus novo, é difícil apontar exatamente o motivo”, diz Jeremy Payne, médico do Arizona.
Todos nós estamos em alerta máximo para os sintomas do Covid-19, que tem a febre, a exaustão e a falta de ar como alguns dos principais. Mas o SARS-CoV-2, como o vírus é oficialmente conhecido, também pode causar complicações no sangue, mesmo para os assintomáticos.
Por isso, confira agora o que os médicos e pesquisadores sabem até o momento — além dos sinais de alerta de um AVC e o que fazer se você suspeitar que está tendo um.
E não deixe de conferir também 13 mitos sobre o coronavírus em que você deve parar de acreditar.
Cerca de 80% dos casos de derrames são originados por coágulos sanguíneos. Já o outro tipo — AVC hemorrágico — resulta de uma artéria rompida que sangra no cérebro.
Quando os coágulos se formam, eles podem bloquear os vasos sanguíneos que fornecem oxigênio ao cérebro. E assim, causar o que é conhecido como derrame isquêmico. Além disso, eles também podem bloquear o suprimento de sangue para os pulmões e danificar os tecidos — um evento conhecido como embolia pulmonar.
Há diversas razões para o surgimento de coágulos sanguíneos, como por exemplo:
Como muitos dos fatores de risco para AVC se desenvolvem ao longo da vida, isso explica por que a maioria dos casos — quase 3/4 deles — ocorre em pessoas com mais de 65 anos. Além disso, após os 55 anos, o risco dobra a cada década.
Dado que o AVC é tipicamente uma condição que atormenta os idosos, os médicos ficaram alarmados quando começaram a notar derrames em pessoas mais jovens que haviam testado positivo para o Covid-19.
Uma pequisa publicada em abril de 2020 no New England Journal of Medicine relatou cinco casos de AVC na cidade de Nova York em pacientes com menos de 50 anos de idade.
“O vírus parece infectar o revestimento dos vasos sanguíneos”, diz Jason Tarpley, médico neurologista de Santa Monica. “O endotélio, um revestimento interno liso dos tecidos sanguíneos que pode impedir a formação de coágulos, é infectado pelo coronavírus. E assim, causa uma série de eventos que levam à formação de coágulos”.
Tarpley acrescenta que o Covid-19 também eleva os níveis de uma proteína relacionada aos coágulos sanguíneos, denominada Dímero-D. “Uma elevada presença de Dímero-D correlaciona-se com uma maior taxa de mortalidade”, explica.
“As inflamações parecem aumentar o risco de derrame, pois elas tendem a desencadear a coagulação do sangue e ativar placas nos vasos sanguíneos e artérias, tornando-os mais pegajosos e instáveis”, diz Payne. Ele acrescenta que é por essa razão que também aumenta-se a incidência de derrames na temporada de gripe, e salienta que esse mecanismo pode estar atuando de forma semelhante nos pacientes com Covid-19.
“Pode ser uma reação inflamatória geral, pois as pessoas estão adoecendo com o vírus e o sistema imunológico está agindo em resposta, ou pode ser devido aos fatores de risco de um indivíduo combinados à capacidade do vírus de causar coagulação”, diz Payne.
Payne diz que há uma percepção geral entre os médicos de que os pacientes com Covid-19 correm maiores risco de terem coágulos sanguíneos (seja nos pulmões, coração ou em qualquer outra parte do corpo) e isso está impactando o tratamento dos casos.
“Muitos hospitais podem colocar pacientes em uso de medicamentos para afinar o sangue desde o início, que é o que faríamos tradicionalmente se alguém tivesse um coágulo sanguíneo”, diz Payne. Os medicamentos para diluir o sangue evitam a formação de coágulos e também previnem que aqueles já existentes aumentem.
Porém, mesmo que ideia de que o vírus possa aumentar o risco de derrame seja assustadora, é preciso lembrar que ainda não há muitos casos notificados.
Infectados ou não, todos devem conhecer os sintomas de um derrame. Além disso, a recomendação é que se procure ajuda médica imediatamente.
Os principais sintomas são:
O Dr. Tarpley explica que o isolamento social, que de acordo com especialistas ainda é cedo para terminar no Brasil, tem feito com que menos pessoas busquem ajuda médica. E assim, aumenta-se o risco de consequências sérias, às vezes até mesmo mortais.
“Estamos vendo uma diminuição significativa no número de pacientes que estão chegando ao hospital para serem avaliados”, explica. “Mas não é porque menos pessoas estão tendo derrames. O tempo é importante e quanto mais rápido você receber atendimento médico, melhor será.”