Campanhas de conscientização são essenciais, mas homens ainda evitam cuidados médicos regulares, resultando em vidas mais curtas.
Douglas Neves | 5 de Novembro de 2025 às 16:00
Todos os anos, o Novembro Azul surge como um lembrete de que prevenir o câncer de próstata salva vidas. Mas, na prática, o desafio da saúde masculina no Brasil é muito mais amplo. Mesmo com campanhas massivas de conscientização, os homens continuam morrendo mais cedo, adoecendo mais e procurando menos ajuda médica.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, os homens vivem em média sete anos a menos que as mulheres. E o principal motivo não é biológico, mas comportamental. Quase 60% dos homens brasileiros não realizam consultas de rotina, e 70% só procuram um especialista quando os sintomas já estão avançados. Como resultado desse descuido as doenças cardiovasculares seguem como a principal causa de morte entre homens, seguidas por cânceres evitáveis e transtornos mentais não diagnosticados.
Os números mostram que a resistência começa cedo. Segundo dados da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), em 2023 os homens representaram apenas 34% dos atendimentos nas consultas de atenção primária. O dado inclui idosos, bebês e pacientes com doenças crônicas. Entre os homens de 20 a 59 anos, o índice cai ainda mais: apenas 28%, de acordo com o Ministério da Saúde.
Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) sobre a percepção masculina acerca da própria saúde revela que apenas 32% dos homens com mais de 40 anos se consideram muito preocupados com o tema, e 46% só procuram o médico quando sentem algo. Esse número aumenta para 58% entre aqueles que dependem exclusivamente do SUS.
Apesar do descaso, metade dos entrevistados relatou sentir medo ou ansiedade quando pensa em sua saúde.
“Existe uma crença cultural muito forte de que o homem precisa ser invulnerável, produtivo e racional o tempo todo, e isso o afasta do cuidado”, explica a cardiologista Dra. Thais Moreno, Head de Saúde da Starbem, healthtech especializada em bem-estar corporativo. “Essa cultura do ‘não posso adoecer’ faz com que sintomas importantes sejam ignorados. Quando eles chegam ao consultório, muitas vezes já é tarde demais.”
Segundo a especialista, o autocuidado masculino precisa ser tratado como prioridade de saúde pública e também como uma questão de saúde dentro das empresas. Um levantamento da Starbem, que atende mais de 5 mil companhias em todo o país, mostra que o público masculino ainda resiste a aderir a programas de bem-estar, especialmente os relacionados à saúde emocional.
“Homens são minoria entre os que buscam apoio psicológico nas empresas. Isso mostra como o estigma da vulnerabilidade ainda é um obstáculo real”, observa Thais.
Essa resistência tem consequências graves. A falta de cuidado integral se reflete não apenas na qualidade de vida, mas também no desempenho profissional. Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) indica que o estresse e a depressão reduzem em até 4% o PIB de países emergentes. No Brasil, os afastamentos por transtornos mentais entre homens crescem em ritmo mais acelerado do que entre mulheres.
Para Thais, é preciso ressignificar o conceito de força. “Prevenção é liberdade. Consultar-se regularmente é um ato de coragem, não de fraqueza. E o homem que cuida da própria saúde física e emocional vive melhor, trabalha melhor e inspira outros a fazerem o mesmo”, reforça.
Mais do que uma campanha, o Novembro Azul é um convite à autoconsciência. Procurar o médico é um ato de responsabilidade consigo mesmo e um passo essencial para viver mais e melhor.
O adiamento do cuidado com a saúde pode trazer sérias consequências. No caso do câncer de próstata, por exemplo, a doença se desenvolve sem sintomas aparentes e, em 45% dos casos, é diagnosticada já em estágio avançado. Só em 2022, o Brasil registrou 16.292 mortes pela doença, o equivalente a 44 óbitos por dia. No Distrito Federal, foram 165 mortes por neoplasia maligna de próstata em 2022 e 103 até agosto de 2023. A estimativa é de 460 novos casos por ano entre 2023 e 2025.
Vale lembrar que a visita ao médico durante o Novembro Azul — ou em qualquer época do ano — não se resume ao exame de toque retal. O objetivo principal é fazer uma avaliação completa do estado de saúde, identificando possíveis riscos e prevenindo doenças antes que elas se agravem.
Somente se houver necessidade, o paciente será encaminhado para especialistas ou exames diagnósticos, não apenas para o câncer de próstata, mas também para condições como diabetes, hérnia de disco, alcoolismo, miopia e tantas outras que afetam a qualidade de vida.
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