Sou normal ou maluco? A resposta é sempre "sim" e "sim. Mas se você está sem controle sobre suas atitudes, procure ajuda profissional.
Redação | 28 de Novembro de 2018 às 17:00
Você leva uma vida bem normal. Tem amigos, se diverte e curte passar 20 minutos procurando a pasta de dente na farmácia em vez de pedir ajuda a um funcionário. Pode acreditar: esse comportamento é normal, porque todos nós somos um pouco… pois é, esquisitos. Na maioria dos casos, esses comportamentos são curáveis ou controláveis.
Pedimos a psiquiatras, psicólogos e outros profissionais de saúde que avaliassem vários comportamentos estranhos que incomodam nossos leitores e nosso pessoal. Afinal, talvez você reconheça algum desses comportamentos e se pergunte: Sou normal ou maluco? A resposta é sempre “sim” e “sim”.
Por que não fico à vontade perto de crianças?
Não tenho nada a dizer a quem tem menos de 12 anos. Nem acho criança fofa. Então, o que há de errado comigo?
“Escuto isso o tempo todo”, diz Charlynn Ruan, psicóloga clínica de Los Angeles que, ironicamente, trabalha principalmente com mães. “Muitas dizem: ‘As únicas crianças de que gosto são meus filhos.’” Contudo, na raiz desse temor, mais comum do que se pensa, está o medo de passar vergonha.
Entretanto uma preocupação comum é que da boca das crianças venha a verdade que ninguém quer ouvir. “Aquele homem tem um cheiro esquisito, mãe.” “Uau! Moça, você deve comer muito.” “Por que o seu rosto tem tantas rugas?”
Além disso, há o fator constrangedor dos pais amorosos – ou, pior ainda, avós! – ali por perto, convencidos de que tudo que os filhos dizem deveria ser gravado em letras de bronze. Não admira que você não fique à vontade conversando com esses monstros assustadores.
Nota N ou M (de 1 a 10, com 10 sendo definitivamente pirado): 2
Você não é tão maluco assim.
Não consigo tomar decisões de jeito nenhum.
Escolher entre um livro e um passeio pode tomar a tarde inteira. Assim como, levei um tempo enorme para decidir escrever este bilhete.
A incapacidade de tomar decisões menores – e não só dedicar algum tempo a sopesar as opções – é um transtorno real, afirma o Dr. David M. Reiss, psiquiatra de Rancho Santa Fe, na Califórnia. Assim, ela pode provocar paralisia funcional: se não consegue mesmo decidir o que fazer, você não faz nada. O nome disso é abulomania, diz a psicoterapeuta e escritora Tina B. Tessina. “Quem tem abulomania é normal em praticamente todos os outros aspectos. Mas enfrenta problemas gravíssimos quando precisa fazer certas escolhas, a ponto de ser difícil recuperar o funcionamento normal.”
Isso costuma acontecer com quem é criado por pais tão rígidos e controladores que a criança não aprende a tomar decisões, pois tudo lhe é imposto, diz a Dra. Charlynn. Mas também pode se dever à ansiedade, nossa velha conhecida. Nesse caso, a pessoa fica obcecada com o impacto da decisão e se preocupa tanto que decide não decidir. Nos dois casos, a terapia é de grande auxílio.
“A terapia a longo prazo é melhor”, diz a Dra. Charlynn, “porque a pessoa precisa ter contato com alguém que apoie sua tomada de decisão.”
Se a raiz for a ansiedade, um antidepressivo pode ser necessário.
Nota N ou M: 7
Este comportamento pode ser enlouquecedor, mas a terapia ajuda.
Prefiro passar 20 minutos procurando o que preciso nas prateleiras da loja…
do que pedir ajuda ao atendente.
Provavelmente, aqui há duas fobias em ação: o medo de parecer pouco inteligente e o medo de se impor a alguém, explica o escritor Dr. Friedemann Schaub. Em ambos os casos, a pessoa não quer ser um fardo para o funcionário, embora ele seja pago exatamente para servi-la.
Mas escondido atrás do medo de pedir ajuda está o medo secundário de ser um imbecil por não retribuir. “Há a vergonha de sair da loja sem comprar nada depois de ocupar o tempo dos outros”, diz o Dr. Schaub. Sem pedir ajuda, você consegue sair de mãos vazias sem culpa.
A verdade é que a maioria dos funcionários está entediada e adoraria a distração – e a sensação momentânea de realização – ao ajudá-lo. “Todos querem ser necessários”, diz Alan Hilfer, psicólogo clínico de Nova York.
“Às vezes, vejo um turista perguntando alguma coisa e mal posso esperar para ir até lá e dizer: ‘Posso ajudar?’”
Se não encontrar o que procura, pergunte. Você pode deixar alguém mais feliz… e até encontrar o que quer.
Nota N ou M: 3
Meio maluquinho, mas muito curável.
Roo as unhas.
Tudo bem, muita gente rói. Mas passei a roer as cutículas e até os dedos, a ponto de sangrar. Isso não pode ser normal, não é?
É. Não é normal. Todos já arrancamos casquinhas e roemos unhas, mas, quando começamos a tirar sangue, já passou do ponto. A Dra. Charlynn atendeu pessoas que se beliscavam até formar verdadeiros buracos na pele. Esses pacientes parecem drogados, diz ela. “Mas é só ansiedade.”
Segundo ela, o que acontece é que a parte do cérebro que decide entre lutar ou fugir está com um pequeno defeito. Ela fica presa no modo “Tenho de fazer alguma coisa”. Você fica agitado, mas na verdade não está numa situação que exija fugir ou lutar. Talvez esteja sozinho na sala, mas toda aquela energia ansiosa precisa servir para alguma coisa, e a resposta é roer – loucamente.
A Dra. Charlynn sugere procurar um psiquiatra para tomar antidepressivos, “que reduzem a ansiedade”. Ao mesmo tempo, o médico pode trabalhar com você algumas técnicas de modificação do comportamento.
Mas lembre-se: a ansiedade se autoperpetua. Ela só para quando você começa a enfrentar o que a provoca. Portanto, quanto mais cedo pedir ajuda, mais cedo o que rói você por dentro (ou seja, você) vai melhorar.
Nota N ou M: 8
Isto é grave. Procure ajuda antes que a situação piore.
Meus amigos adoram abraços, e eu detesto!
Não tenho medo dos germes e adoro meus amigos. Mas prefiro um aperto de mão. Isso é tão errado assim?
“Poderia ser eu fazendo essa pergunta”, diz o Dr. Forman, da Faculdade Albert Einstein. “Acho os abraços supercomplexos. Quanto tempo devem durar? Com que força apertar? Onde ficam as mãos? É preciso usar os dois braços? Abraçar gera muito mais perguntas do que respostas.”
Com o passar dos anos, parece que os Estados Unidos têm abraçado mais, e o Dr. Forman culpa a TV, principalmente os programas de entrevistas, nos quais os convidados costumam ser recebidos com abraços. Ou talvez seja a cultura do grupo de amigos se espalhando. Você vê seu colega e lhe dá um grande abraço de bêbado, como no filme A ressaca.
Seja qual for a razão, não há problema em escapar de um abraço estendendo a mão. Por exemplo, quer que fique mais caloroso? Use a outra mão para segurar o antebraço da pessoa. Muito contato e afirmação. Sem abraço.
E, se até isso incomodar, troque de país. Em cerca de metade do mundo, abraçar é que é grosseria. Nota
Nota N ou M: 1
Você não é maluco; só está preso a uma cultura que gosta de abraços.
Tenho compulsão de cumprimentar todo mundo que passa por mim no escritório e na rua.
Isso me parece (a mim e a todo mundo) meio exagerado, mas não consigo parar. Sou muito esquisito?
É provável que você venha de um lugar amistoso. A psicóloga Charlynn morou em Atlanta, cujos habitantes são muito amistosos e conversadores, mesmo que seja no cubículo vizinho do banheiro. “Uma mulher começou a conversar comigo”, conta ela, “e minha reação foi: ‘A gente devia fingir que nem vê os pés uma da outra! Ou seja, você não está cumprindo as normas sociais aqui!’ Mas é assim que eles são: superamistosos.”
Se sua meta é tornar a saudação mais fria, tente cumprimentar os outros com um sorriso amistoso sem desacelerar. Por outro lado, “nem tudo tem de ser analisado”, diz o Dr. Aaron Pinkhasov, diretor de saúde comportamental do Hospital Universitário Winthrop de Nova York, em Mineola. O problema não é como você saúda os passantes; é se está ficando com tanta vergonha disso que começa a evitar os encontros, desviando-se ou ficando só em sua mesa, por exemplo.
No entanto, se isso estiver acontecendo, lembre-se: ser amistoso não é crime. E, na verdade, o Dr. Forman diz que, “se só houver isso de errado, você está muito bem”.
Nota N ou M: 1
Você só precisa de uma boa estratégia para cumprimentar.
Leia também outras 5 situações para saber se você é normal ou louco
Sou viciado em giz.
Não para escrever – para comer. Por que não fico com vontade de comer hambúrguer com fritas?
O desejo de comer itens não alimentícios, como areia, pó de café, fósforos e naftalina, se chama alotriofagia, a ingestão de forma persistente de substâncias que não têm valor nutritivo. É mais comum em crianças e grávidas. Não se sabe a causa, mas “parte dela se deve à busca de nutrientes pelo corpo”, talvez a um transtorno metabólico, diz o psiquiatra Dr. Reiss. Ele acrescenta que, se os itens comidos forem muito esquisitos (mais esquisito do que naftalina?), a causa pode ser psicológica. “Já vi pessoas com síndrome de Munchausen, ou seja, que adoecem de propósito para receber cuidados médicos, engolindo de tudo, de facas a sangue”, diz o Dr. Reiss. “Um paciente comeu um garfo. Não sei como, mas ele conseguiu engolir.”
O segredo é consultar logo o médico para descobrir se você precisa de algum nutriente e por quê. Se não for o caso, procure um psiquiatra.
Nota N ou M: 9
É um problema grave se for mais do que um desequilíbrio nutricional.
Isto é supersombrio, …mas costumo imaginar maneiras de envenenar minha família e meus amigos quando preparo o jantar para eles. Gosto deles, então por que penso assim?
Às vezes, as coisas que se escondem na parte mais sombria do subconsciente – tortura, morte, atos cruéis com a sogra – simplesmente vêm à tona, diz o Dr. Alan. “É um pensamento passageiro, uma parte sombria que muitos guardam reprimida e que, de vez em quando, resolve aparecer. Em seguida, pensamos: ‘Nossa, que esquisito.’”
No entanto, por que fantasiamos sobre derrubar alguém da passarela de pedestres? Talvez por reconhecermos que a vida é frágil: uma decisão ruim de nossa parte, e cai o pano.
Contudo, pode resultar da raiva latente. “Pode haver algum tipo de agressão não resolvida”, diz o Dr. Schaub. É provável que o candidato a envenenador não queira mais cozinhar para pessoas que nunca retribuem. A princípio, “Isso não significa que queira realmente matá-los; o pensamento é só uma metáfora”, diz ele. Isto é, fica fervendo como o jantar – com um temperinho especial.
Nota N ou M: 3
Você é maluco – se quiser mesmo assassiná-los. Caso a base seja a raiva, resolva-a. Caso contrário, não se preocupe.
Minha mãe idosa começou, recentemente, a dizer coisas…
…como “Ah, as crianças estavam bem aqui”. Mas não estavam. Não há crianças onde ela mora. Será o início da doença de Alzheimer?
O que você descreve é bem comum e recebe o nome de demência por corpos de Lewy. Embora menos frequente que a doença de Alzheimer, costuma acometer “um idoso que nunca teve alucinações na vida eque não para de dizer que vê crianças, parentes falecidos ou pequenos animais”, observa a Dra. Charlynn.
A doença afeta a parte do cérebro dedicada à visão, de modo que o idoso, às vezes, realmente “vê” uma coisa que não vemos. Por mais que seja triste, como em todas as formas de demência, não há cura.
Em contrapartida, a notícia um pouco melhor é que as alucinações parecem fazer companhia à pessoa, pelo menos por algum tempo. Se perguntar o que as crianças (ou os animaizinhos amistosos) estão fazendo, “eles responderão: ‘Estão ali, perto da planta’”, diz a Dra. Charlynn.
No entanto, em outra época, elas eram chamadas de anjos ou espíritos, o que, de certo modo, são.
Nota N ou M: 8
Remédios receitados pelo médico podem tornar menos intensas as alucinações.
Sempre que faço uma pergunta a alguém – onde fica algum lugar, por exemplo –, minha mente viaja.
Em vez de ouvir como chegar aonde quero ir, me concentro nos botões feios da camisa da pessoa ou no pedacinho de alface preso no seu dente. Por que não consigo me concentrar?
Pode ser que você esteja se esforçando tanto para ser um bom ouvinte que, em vez de escutar, já sai pensando na frente.
De fato,“Isso acontece muito nos primeiros encontros”, observa o Dr. Alan. “Você faz uma pergunta e não presta atenção por tempo suficiente porque já está pensando na próxima pergunta que vai fazer para mostrar que está prestando atenção.”
A princípio, a solução é treinar para se concentrar mais. Já que é possível fazer isso, diz a psicoterapeuta Tessina, ligando a TV ou o rádio por pouco tempo e fazendo um esforço sincero para prestar atenção. Então desligue o aparelho e tente se lembrar do que foi dito. Logo seu cérebro não vai se distrair com tanta facilidade.
Nota N ou M: 3
Não é muito maluco, só fácil de… Ei, como se chama aquela cor? Não é exatamente vermelho.
Por Lori Kolman
O que você achou dos casos acima? Normais ou malucos demais? Conte pra gente nos comentários!