Diversos boatos circulam na internet associam a cura da doença causada pelo novo coronavírus a uma vitamina. Entenda o que é verdadeiro.
Iana Faini | 6 de Maio de 2020 às 11:49
Em meio à pandemia da Covid-19, diversos boatos na internet associam a cura da doença a uma vitamina, embora não existam estudos científicos que apontem que a enfermidade causada pelo novo coronavírus possa ser curada por qualquer alimento.
Nos Estados Unidos, o cientista indiano-americano Shiva Ayyadurai, 56, fez furor ao dizer que bastavam algumas vitaminas para que o corpo debelasse o coronavírus. Suas afirmações repercutiram nas redes sociais também no Brasil.
Não há milagres em frasquinhos de complexos vitamínicos à venda nas farmácias. Mas manter uma alimentação saudável variada e rica em vitaminas de fato contribui para o bom funcionamento do sistema imune e proteção do corpo contra infecções.
Silvia Cozzolino, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas e pesquisadora do Centro de Pesquisa em Alimentos da USP, destaca o papel do zinco, mineral encontrado nas ostras, mariscos e outras fontes de origem animal e que é importante para o crescimento, reações metabólicas e, principalmente, para a defesa do organismo.
“Ele é o mais importante do ponto de vista do sistema imune. Mais de 500 mil enzimas dependem do zinco para ter o seu funcionamento”, diz, acrescentando que pessoas vegetarianas costumam ter valores baixos no organismo e que nesses casos é recomendada a suplementação.
A presidente da Associação de Nutrição do Distrito Federal, Glaucia Rodrigues Medeiros, acrescenta que a deficiência de zinco, além de comprometer o crescimento, também afeta a resposta imune e o sistema respiratório. Se o consumo for excessivo, porém, pode prejudicar a absorção de outros minerais, como cobre e ferro, além de causar alterações no sistema nervoso, afirmam as especialistas.
“É importante que as pessoas saibam que não existe estudo publicado dizendo que esse ou aquele nutriente vai trazer a cura para a doença”, reforça Medeiros, dizendo ainda que tudo que é possível afirmar é que um sistema imunológico saudável é necessário para combater qualquer vírus.
“A gente tem que pensar que os vírus são oportunistas e vão se manifestar nas pessoas em que o sistema imunológico estiver enfraquecido”; micronutrientes, diz ela, otimizam as funções imunitárias.
As vitaminas A e D também têm papel na defesa do organismo. Medeiros destaca a ação antioxidante da vitamina A, presente em vísceras, fígado, vegetais verde escuros e legumes alaranjados, como a cenoura. É essa ação que faz com que ela ajude a imunidade, além de contribuir para formação dos dentes, do colágeno e na melhora da visão.
Cozzolino acrescenta que também nisso o zinco é importante: ele faz o transporte da vitamina A no organismo. Portanto, se houver carência do mineral, a absorção da vitamina também fica comprometida. A carência da vitamina pode até levar à cegueira, principalmente em crianças, além de diminuir a atividade das células de defesa.
A professora da USP afirma, contudo, que a suplementação dessa vitamina não é indicada para idosos, uma vez que seu excesso não é eliminado pelo corpo. Como efeitos adversos do excesso da vitamina, Medeiros destaca o ressecamento da pele, queda de cabelo e dores no corpo.
A vitamina D é outra campeã de menções na internet por seus supostos benefícios ao sistema imune.
Sua principal função é a distribuição de cálcio nos ossos, mas ela atua em mais de 200 funções no corpo, afirma Medeiros, que também destaca o papel que ela de fato tem no sistema imunológico. “Existem vários estudos relacionando o déficit da vitamina D a doenças autoimunes. A falta dela pode aumentar a inflamação no corpo”, diz.
As nutricionistas destacam que a vitamina é produzida pelo organismo a partir da exposição aos raios solares, bastando 15 minutos diários para garantir a dose recomendada no caso de pessoas jovens. Ela explica que em idosos a síntese da vitamina é menor; por isso, neles a deficiência é mais comum.
São fontes de vitamina D o óleo de fígado de bacalhau, peixe, sardinhas, ovo, atum e vísceras. Assim como a vitamina A, seu excesso não é eliminado do corpo, e um dos efeitos adversos é a calcificação de tecidos pelo corpo, explica Medeiros.
A professora Cozzolino lembra que a vitamina C e a vitamina E, presentes em frutas cítricas e óleos vegetais, respectivamente, assim como o selênio, encontrado na castanha-do-pará, também são importantes para o sistema imune.
Ela recomenda a suplementação no caso de idosos, mas em valores baixos, próximos da ingestão diária, pois diversos fatores, como a maior ingestão de medicamentos nessa faixa etária, comprometem a absorção de nutrientes.
Medeiros pondera que mesmo nesses casos o indicado é consultar um nutricionista, para garantir que todos os nutrientes que faltam sejam repostos. “A falta da vitamina é danosa no corpo, mas o excesso também. O ideal é sempre equilibrar”, diz.
Consultora técnica da Associação Brasileira de Nutrição, ela destaca que é importante dar preferência ao consumo de alimentos não industrializados e lembrar que os nutrientes são complementares entre si.
“Um nutriente não tem ação única no corpo e ele também precisa de outros para funcionar de forma adequada. A gente precisa trabalhar no contexto de saúde como um todo.”