Diversos boatos circulam na internet associam a cura da doença causada pelo novo coronavírus a uma vitamina. Entenda o que é verdadeiro.
Em meio à pandemia da Covid-19, diversos boatos na internet associam a cura da doença a uma vitamina, embora não existam estudos científicos que apontem que a enfermidade causada pelo novo coronavírus possa ser curada por qualquer alimento.
Nos Estados Unidos, o cientista indiano-americano Shiva Ayyadurai, 56, fez furor ao dizer que bastavam algumas vitaminas para que o corpo debelasse o coronavírus. Suas afirmações repercutiram nas redes sociais também no Brasil.
Especialistas recomendam alimentação balanceada
Não há milagres em frasquinhos de complexos vitamínicos à venda nas farmácias. Mas manter uma alimentação saudável variada e rica em vitaminas de fato contribui para o bom funcionamento do sistema imune e proteção do corpo contra infecções.
Silvia Cozzolino, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas e pesquisadora do Centro de Pesquisa em Alimentos da USP, destaca o papel do zinco, mineral encontrado nas ostras, mariscos e outras fontes de origem animal e que é importante para o crescimento, reações metabólicas e, principalmente, para a defesa do organismo.
“Ele é o mais importante do ponto de vista do sistema imune. Mais de 500 mil enzimas dependem do zinco para ter o seu funcionamento”, diz, acrescentando que pessoas vegetarianas costumam ter valores baixos no organismo e que nesses casos é recomendada a suplementação.
A presidente da Associação de Nutrição do Distrito Federal, Glaucia Rodrigues Medeiros, acrescenta que a deficiência de zinco, além de comprometer o crescimento, também afeta a resposta imune e o sistema respiratório. Se o consumo for excessivo, porém, pode prejudicar a absorção de outros minerais, como cobre e ferro, além de causar alterações no sistema nervoso, afirmam as especialistas.
“Vírus são oportunistas”
“É importante que as pessoas saibam que não existe estudo publicado dizendo que esse ou aquele nutriente vai trazer a cura para a doença”, reforça Medeiros, dizendo ainda que tudo que é possível afirmar é que um sistema imunológico saudável é necessário para combater qualquer vírus.
“A gente tem que pensar que os vírus são oportunistas e vão se manifestar nas pessoas em que o sistema imunológico estiver enfraquecido”; micronutrientes, diz ela, otimizam as funções imunitárias.
As vitaminas A e D também têm papel na defesa do organismo. Medeiros destaca a ação antioxidante da vitamina A, presente em vísceras, fígado, vegetais verde escuros e legumes alaranjados, como a cenoura. É essa ação que faz com que ela ajude a imunidade, além de contribuir para formação dos dentes, do colágeno e na melhora da visão.
Cozzolino acrescenta que também nisso o zinco é importante: ele faz o transporte da vitamina A no organismo. Portanto, se houver carência do mineral, a absorção da vitamina também fica comprometida. A carência da vitamina pode até levar à cegueira, principalmente em crianças, além de diminuir a atividade das células de defesa.
A professora da USP afirma, contudo, que a suplementação dessa vitamina não é indicada para idosos, uma vez que seu excesso não é eliminado pelo corpo. Como efeitos adversos do excesso da vitamina, Medeiros destaca o ressecamento da pele, queda de cabelo e dores no corpo.
Deficiência de vitamina D pode aumentar inflamação no corpo
A vitamina D é outra campeã de menções na internet por seus supostos benefícios ao sistema imune.
Sua principal função é a distribuição de cálcio nos ossos, mas ela atua em mais de 200 funções no corpo, afirma Medeiros, que também destaca o papel que ela de fato tem no sistema imunológico. “Existem vários estudos relacionando o déficit da vitamina D a doenças autoimunes. A falta dela pode aumentar a inflamação no corpo”, diz.
As nutricionistas destacam que a vitamina é produzida pelo organismo a partir da exposição aos raios solares, bastando 15 minutos diários para garantir a dose recomendada no caso de pessoas jovens. Ela explica que em idosos a síntese da vitamina é menor; por isso, neles a deficiência é mais comum.
São fontes de vitamina D o óleo de fígado de bacalhau, peixe, sardinhas, ovo, atum e vísceras. Assim como a vitamina A, seu excesso não é eliminado do corpo, e um dos efeitos adversos é a calcificação de tecidos pelo corpo, explica Medeiros.
Vitaminas C e E também são importantes
A professora Cozzolino lembra que a vitamina C e a vitamina E, presentes em frutas cítricas e óleos vegetais, respectivamente, assim como o selênio, encontrado na castanha-do-pará, também são importantes para o sistema imune.
Ela recomenda a suplementação no caso de idosos, mas em valores baixos, próximos da ingestão diária, pois diversos fatores, como a maior ingestão de medicamentos nessa faixa etária, comprometem a absorção de nutrientes.
Medeiros pondera que mesmo nesses casos o indicado é consultar um nutricionista, para garantir que todos os nutrientes que faltam sejam repostos. “A falta da vitamina é danosa no corpo, mas o excesso também. O ideal é sempre equilibrar”, diz.
Consultora técnica da Associação Brasileira de Nutrição, ela destaca que é importante dar preferência ao consumo de alimentos não industrializados e lembrar que os nutrientes são complementares entre si.
“Um nutriente não tem ação única no corpo e ele também precisa de outros para funcionar de forma adequada. A gente precisa trabalhar no contexto de saúde como um todo.”
GÉSSICA BRANDINO / FOLHAPRESS