Após o diagnóstico, Daisy precisou se adaptar a uma nova dieta e estilo de vida.
No dia em que notou manchas vermelhas no corpo, Daisy Holstine, de 36 anos, achou que fosse apenas uma alergia passageira. Mas, ela não podia imaginar que a partir daquele dia sua vida nunca mais seria a mesma.
A moradora de Mountain Home, no Arkansas (EUA), conta que os primeiros sintomas foram durante uma viagem a Nashville quando manchas vermelhas surgiram de repente na pele, mas desapareceram após um antialérgico. Nada que chamasse tanta atenção.
Dias depois, as manchas vermelhas voltaram a aparecer, mas dessa vez estavam piores e vieram acompanhadas de uma coceira que tomava todo o seu corpo – do couro cabeludo à sola dos pés. Foi então que Daisy notou que algo muito errado estava acontecendo.
Preocupada, Daisy buscou atendimento médico para entender a causa do que estava acontecendo. Mas o que ela não sabia é que a causa de tudo poderia ser algo que vem se tornando cada vez mais comum nos Estados Unidos: a síndrome alfa-gal.
O que é a síndrome alfa-gal?
A síndrome alfa-gal (AGS) é uma alergia grave a carne vermelha e laticínios desencadeada pela picada de um carrapato conhecido como estrela-solitária. Antes rara, atualmente a condição tem se espalhado rapidamente nos EUA, especialmente em regiões como Arkansas, Tennessee e até o estado de Nova York.
De acordo com dados oficiais, os carrapatos estrela-solitária vêm se espalhando pelos EUA, avançando do Sudeste rumo ao Nordeste e até ao Meio-Oeste. Só no condado de Suffolk, em Long Island, eles já respondem por cerca de 4% de todos os casos registrados no país.
No último verão, centenas de pessoas em Martha’s Vineyard foram forçadas a adotar dietas veganas temporárias em pleno auge da temporada de churrascos. Isso tem impactado até mesmo o comércio local, fazendo com que alguns restaurantes tivessem que se adaptar e criar menus veganos.
Diagnósticos errados e uma vida virada de cabeça para baixo
Enfermeira gestora de casos remotos da United Healthcare, Daisy mora em uma área rural do Arkansas e viaja bastante a trabalho, muitas vezes visitando casas de pacientes – o que tornava o diagnóstico possível. Ainda assim, ela nunca tinha visto um carrapato preso à pele, nem apresentado qualquer sinal clássico de picada.
Por ser extremamente cuidadosa com insetos, justamente por saber dos perigos associados, para Daisy, o diagnóstico parecia improvável. Além disso, o exame de sangue para AGS era caro e não era coberto pelo plano de saúde, o que fez com que seu médico recomendasse observar a evolução dos sintomas e a encaminhasse a um dermatologista.
Após a consulta com o dermatologista, Daisy foi diagnosticada com uma urticária crônica e começou o tratamento com anti-histamínicos, corticoides e injeções de imunossupressores. O resultado foi um verdadeiro caos.
Como nada resolvia o problema, os médicos passaram para Daisy um medicamento potente usado para tratar câncer e doenças autoimunes chamado metotrexato. Isso fez com que ela sofresse com letargia e queda de cabelo, mas ainda assim, ela não sentia nenhum alívio dos sintomas.
"Eu estava desesperada nessa altura. Passei de um comprimido por dia para 10 ou 15", contou Daisy ao New York Post.
Com tantos tratamentos sem resposta e nenhum alívio à vista, Daisy acabou recorrendo também a um antidepressivo e a um ansiolítico.
Cansada e sem saber o que fazer, Daisy recorreu a algo que nunca imaginou usar como ferramenta médica: o ChatGPT. Após relatar o seu caso, a plataforma de IA sugeriu que ela seguisse uma dieta sem glúten e sem carne vermelha, optando por peixes e vegetais sem tempero. Para a surpresa de Daisy, pela primeira vez desde que havia começado o tratamento há cinco meses ela estava sem urticária.
“Fiquei uma semana inteira sem urticária”, disse ela.
Contudo, quando Daisy reintroduziu a carne vermelha em sua dieta, a urticária voltou com força total. Foi assim que o diagnóstico de AGS se confirmou.
"Quase chorei ao receber o diagnóstico", disse Daisy. "Finalmente descobrimos o que estava acontecendo comigo."
De amante de churrasco a vegana por necessidade
Ao mesmo tempo que o diagnóstico oficial de AGS trouxe um alívio para Daisy, ele também impôs uma mudança radical no seu estilo de vida.
“Eu sempre amei um bom bife”, contou. “Jamais passou pela minha cabeça viver sem carne.”
E não se tratava apenas de mudar a dieta; Daisy precisou rever toda a sua rotina, do café da manhã aos cosméticos que usava. Isso porque, embora o AGS não provoque reações a todos os produtos de origem animal, Daisy achou mais fácil eliminar o risco completamente do que ficar obcecada com cada ingrediente dos produtos que comprava. De repente, ela se viu em busca de pasta de dente vegana, cosméticos e até detergente para roupa.
Tem cura para a síndrome síndrome alfa-gal?
Embora atualmente não haja cura para a AGS, daisy estava determinada a retomar a vida que tinha antes. Foi então que, após uma longa pesquisa, ela conheceu uma terapia alternativa chamada SAAT, um tipo de acupuntura auricular usada para dessensibilização alérgica.
O método consiste em inserir uma microagulha permanente em um ponto da orelha ligado ao fígado, órgão envolvido na reação alérgica. A agulha fica ali por quatro semanas.
Os resultados, embora ainda não sejam totalmente confirmados e precisem de mais estudos, são promissores. Em uma pesquisa com 137 pacientes, 96% relataram remissão dos sintomas.
Nas primeiras noites, Daisy mal conseguia dormir de tão consciente das agulhas. Mas, aos poucos, começou a ter esperanças.
Após a etapa inicial, veio o momento mais aguardado: reintroduzir carne vermelha. Primeiro, apenas o cheiro. Depois de três dias, ela experimentou pela primeira vez , mergulhando um ovo cozido no caldo da carne. Por um instante, tudo pareceu bem. Mas então veio um calafrio e uma urticária discretíssima no braço.
Seu quiroprático disse para ela fazer uma pausa de três dias e tentar novamente. Desde então, ela retomou o teste de degustação e não teve mais urticária, mas ainda não chegou a comer carne vermelha.
"Eu quero muito um Whopper (hambúrguer), mas tudo bem, estou quase lá", disse ela brincando. "Já consigo ver o fim à vista."
Apesar da esperança de Daisy em voltar a comer carne, especialistas alertam que o único tratamento conhecido é evitar completamente carne vermelha e outros produtos derivados de mamíferos. Isso porque qualquer exposição pode desencadear uma reação grave. A gravidade da condição ficou ainda mais evidente na última quarta-feira (12), quando foi confirmado o primeiro caso de morte relacionado à síndrome alfa-gal.