A nova variante da Mpox assusta por sua alta taxa de letalidade, sendo 10 vezes mais perigosa que as anteriores.
Luana Viard | 21 de Agosto de 2024 às 12:00
Uma nova variante foi um dos fatores que levaram a OMS (Organização Mundial da Saúde) a declarar a mpox como uma "emergência sanitária global" nesta quarta-feira (14). Embora a cepa já tivesse sido identificada anteriormente, a rápida disseminação e as particularidades do vírus despertaram a preocupação dos cientistas.
A OMS emitiu um alerta no dia 14 de junho sobre uma nova variante mais perigosa da mpox, antes chamada de varíola dos macacos. Segundo a entidade, a República Democrática do Congo vem enfrentando um surto da doença desde 2022, e a alta transmissão do vírus entre humanos levou ao surgimento de uma mutação inédita.
“Historicamente, havia um grupo de vírus que circulava na África Ocidental, que é chamado de clado 2, e outro grande grupo de vírus que circulava na República Democrática do Congo e países adjacentes, que se chamava clado 1”, revelou à CNN Giliane Trindade, professora de microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e vice-coordenadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Poxvírus.
De acordo com dados da OMS, a nova variante, chamada 1b, apresenta uma taxa de letalidade superior a 10% entre crianças pequenas na África Central. Em contraste, a variante 2b, responsável pela epidemia global de mpox em 2022, registrou uma taxa de letalidade inferior a 1%.
A cepa 1b se distingue por causar erupções cutâneas que se espalham por todo o corpo, diferentemente das variantes anteriores, que geralmente apresentavam lesões mais localizadas na boca, face e genitais. Por esse motivo, o novo subtipo é considerado mais perigoso do que aquele que provocou a epidemia em 2022.
Um surto particular ocorrido em setembro de 2023 no leste da República Democrática do Congo foi provocado por essa cepa de mpox, que apresentou mutações inéditas até então.
"Essas mutações sugerem que o vírus tem sido transmitido apenas de humano para humano", explica Rosamund Lewis, líder técnica sobre mpox do Programa de Emergências Globais da OMS.
A epidemia global de mpox em 2022 foi amplamente impulsionada pela transmissão sexual. De acordo com dados recentes da OMS, um terço dos casos da nova variante 1b foi detectado entre profissionais do sexo. Além disso, há indícios de que a infecção em mulheres grávidas pode ter consequências graves para o feto.
“Estamos vendo a variante 1 sendo transmitida de pessoa para pessoa por meio do contato sexual em áreas com alta densidade populacional e com grande fluxo de pessoas cruzando fronteiras. Estamos apoiando países para que estejam alertas naquela região.”, explicou Rosamund Lewis.
O recente surto de Mpox, associado à nova variante, fez com que o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, convocasse uma reunião de emergência na sede da organização, em Genebra.
Atualmente, o vírus está presente em 13 países, sendo que, em dois deles — República Democrática do Congo e Burundi —, a transmissão ocorre de forma comunitária. O Centro Africano de Controle e Prevenção de Doenças (CDC África) já havia declarado uma "emergência de saúde pública" devido à disseminação do vírus Mpox no continente.
Tedros destacou que, no ano passado, os casos cresceram "de forma preocupante". Somente neste ano, já foram notificados mais de 14 mil casos e mais de 500 mortes, ultrapassando o total registrado em 2023. Em 2024, houve um aumento de 160% em relação ao ano anterior. O que chamou a atenção da OMS foi a elevada incidência de casos entre crianças menores de 15 anos. No Congo, esse grupo corresponde a 85% dos casos.
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