A morte do comediante Paulo Gustavo chocou o Brasil na última terça-feira (4). Entenda por que a morte de famosos gera mais luto e comoção.
A morte do comediante Paulo Gustavo, aos 42 anos, chocou o Brasil na última terça-feira (4). Internado com Covid-19 há mais de 50 dias no Hospital Copa Star, no Rio, foi tratado com ECMO, uma espécie de pulmão artificial, mas seu estado de saúde piorou e ele não resistiu. Paulo Gustavo deixou o marido, o médico Thales Bretas, e dois filhos, Gael e Romeu. A prefeitura de Niterói, cidade natal do ator, decretou luto de três dias, e nas redes sociais muitos fãs e admiradores compartilharam lembranças da trajetória de Paulo Gustavo.
Mas por que a morte de famosos gera mais impacto em nossas vidas? Para explicar esse cenário, conversamos com o Dr. Junior Silva, que é especialista em luto e depressão.
O que é o luto?
O luto é um período natural na vida de quem sofreu uma perda. A maioria das pessoas passa por isso em algum momento. Todos são diferentes e se recuperam em ritmos diferentes.
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“O luto é um conjunto de sentimentos de uma perda significativa, que pode ser gerada por uma morte ou qualquer situação que temos a certeza que é irreversível. Ou seja, não temos mais o que fazer ou viver com aquela pessoa ou situação”, acrescenta o Dr. Junior Silva.
De acordo com o especialista, o luto é importante, uma vez que é uma oportunidade de organizar sentimentos, encerrando uma etapa da vida e recomeçando outra.
“Quando reprimimos o luto corremos o risco de trazer consequências emocionais lá na frente, pois o que não é resolvido um dia nossa mente vai cobrar. Eu atendo uma paciente dos Estado Unidos que não conseguiu viver o luto da perda da mãe, houve negação e devido à distância não conseguiu chegar a tempo para se despedir e vivenciar aquele encerramento de ciclo. Essa negação do luto trouxe consequências físicas nela, ou seja, tinha dores psicossomáticas que tinham raiz emocional, onde a maioria dos sintomas era o que a mãe tinha na luta pelo câncer. Quando ela vivenciou o luto e se reconciliou com seus sentimentos e a perda, suas dores desapareceram”, explica.
Mas por que a morte de pessoas famosas mexe com a gente? Por que ficamos tristes e abalados com a perda de uma pessoa que não conhecemos pessoalmente? De acordo com o psicanalista, ao perdermos um familiar, perdemos alguém que gerou diferentes sentimentos, como, por exemplo, felicidade, mágoas, tristezas, alegrias.
“É um conjunto de sentimentos e ações que fomos convivendo ao longo da vida. O que não acontece quando perdemos uma celebridade. A celebridade nos inspira, nos transmite alegria, fé e momentos divertidos. Ao perder uma pessoa famosa que admiramos, perdemos alguém que fala o que não falamos, faz o que não conseguimos, devolve o riso, a inspiração, devolve a esperança que não vemos em nós”, explica.
Especificamente em relação ao comediante Paulo Gustavo, podemos observar que ele provocava muita simpatia nas pessoas ao seu redor, graças a seu jeito extrovertido e sua história de vida.
“O Paulo Gustavo foi um pessoal incrível e um profissional maravilhoso. Ele transmitia fé e esperança não só nos seus papéis, mas também na sua essência. Ele nos divertia e nos dava esperança de uma vida melhor e mais leve”, acrescenta o Dr. Junior Silva.
Por que não estamos preparados para a morte?
Normalmente, nós, ocidentais, temos muita dificuldade em lidar com a morte — e até mesmo de falar sobre ela. E isso porque nós não fomos ensinados a perder.
“Não saber como lidar com a morte é algo cultural. Por exemplo, um país pequeno chamado Butão é considerado o país mais feliz do mundo. E como eles lidam com a morte? Eles não veem a morte como fim, mas como uma passagem para uma nova vida onde a pessoa tem o direito de viver o novo. Eles fazem algumas reuniões pós morte para relembrar o legado, o bom que esta pessoa construiu, tendo consciência que se fez o melhor sem dívida um com outro”, explica o psicanalista.
Para aprender a passar pelo luto com mais facilidade, algumas estratégias podem ser adotadas.
“A dificuldade de viver o luto acontece muito quando nos sentimos em dívida com quem nos deixou. Por exemplo, aqueles pensamentos de ‘não fiz isso, não disse aquilo, e agora não posso mais’. Assim, vivenciar com mais facilidade é reconhecer o quanto foi importante o outro em nossa vida e que tudo que vivenciamos de positivo ou negativo se tornará daqui para frente um legado de vida e não de destruição. Dependendo das dívidas que temos e como lidamos, precisamos às vezes de um auxílio profissional”, explica.
O aconselhamento terapêutico individual ou em um grupo de apoio nunca é sinal de fraqueza. Ao contrário: é um sinal de que você quer ir além daquele sentimento doloroso, e não ficar refém dele.
O que podemos aprender com o luto?
De acordo com o Dr. Junior Silva, o luto é uma oportunidade de aprendermos que tudo na vida tem fim, que os ciclos terminam e novos começam. Assim, é importante vivermos o hoje como se todos os dias fossem o último: felizes com nossas escolhas, cercadas de pessoas que amamos e enchendo nossos dias com muita alegria e bons momentos.
“O luto bem vivido nos traz o reconhecimento da importância que outro deixou de especial, pois o que perdemos pode não estar mais presente no dia a dia, mas estará no coração para o resto da vida. Uma coisa muito importante é que o luto não é o fim. E sim o começo de um novo tempo de alguém ou de algo que nos ajudou a ser o que somos hoje! Como Padre Marcelo Rossi sempre diz: Saudade sim, tristeza não”, conclui.