Paciente: Chris, corretor de seguros de 38 anos Sintomas: Dores de cabeça incapacitantes ao se levantar Médica: Dra. Christine Lay, neurologista do Centro
Julia Monsores | 10 de Janeiro de 2020 às 17:00
Chris jogava hóquei e golfe, esquiava e treinava o time dos filhos em seu bairro de Toronto. Então, em 2008, ele pegou uma forte virose. Levou o verão inteiro para se recuperar, mas um dos sintomas, uma dor de cabeça constante, persistiu.
A dor era excruciante e implacável. Surgia assim que Chris ficava de pé ou até quando sentava ereto na cama. A única posição que dava alívio era deitado, de preferência com a cabeça mais baixa do que o restante do corpo. Até se curvar para amarrar os cadarços do sapato provocava agonia instantânea. Quando o filho pequeno levantava os braços pedindo colo, Chris ficava triste por não poder se abaixar para pegá-lo.
Qualquer esforço, como torcer num evento esportivo, também provocava sofrimento. “Espirrar ou tossir era como enfiar um espeto em meu olho”, diz Chris.
O médico de família o encaminhou para um neurologista, que achou que era enxaqueca e lhe passou medicamentos que não ajudaram. Chris, que tinha enxaquecas ocasionais desde a adolescência, sabia que eram dores diferentes. Uma tomografia e uma ressonância do cérebro não mostraram nenhum tumor, e um segundo neurologista não conseguiu oferecer qualquer teoria adicional. “Era como se as pessoas dessem de ombros e dissessem: estou ouvindo o que você diz e posso ver que o afeta, mas não sei ligar os pontos”, conta Chris.
Então, um amigo lhe falou da Dra. Christine Lay, neurologista especializada em transtornos de cefaleia no Women’s College Hospital. Chris conseguiu um encaminhamento, mas a lista de espera era de 15 meses. “A dor de cabeça é a segunda maior causa de incapacidade no mundo inteiro, mas são poucos os médicos que tratam esses pacientes”, explica a Dra. Lay.
Enquanto isso, a vida de Chris desmoronava. “Tudo era difícil”, diz ele, que evitava jantar fora e viajar. Ia trabalhar, mas passava quase o dia inteiro deitado de costas na mesa da sala de reuniões, com a cabeça pendurada na borda enquanto dava telefonemas. Às vezes, não conseguia voltar para casa. “Eu recebia um telefonema: ‘Venha me buscar’”, relata Amy, mulher de Chris. “Ele estava a um quarteirão e meio de casa. O rosto ficava contraído e cinzento.”
Por fim, Chris conseguiu ser atendido pela Dra. Lay no início de 2010. Para ela, as dores de cabeça pareciam causadas pela baixa pressão provocada pela redução do líquido cefalorraquidiano que circunda o cérebro. Quando perde a capacidade de boiar, o cérebro pende e puxa dolorosamente as membranas que o cercam. A médica desconfiou que Chris perdia líquido por algum ponto do canal medular.
Os vazamentos de líquido cefalorraquidiano são subdiagnosticados porque não costumam aparecer nos exames por imagem do cérebro. A Dra. Lay pediu uma ressonância especializada, que examina os vasos sanguíneos. Embora não encontrasse o vazamento, ela viu que as veias estavam intumescidas, sinal revelador de que o corpo tentava mandar mais sangue para compensar a perda de fluido em torno do cérebro.
Embora agora Chris tivesse uma explicação provável, a dor de cabeça não poderia ser curada enquanto a fonte do vazamento continuasse misteriosa. A cirurgia exploratória estava fora de questão; qualquer lesão acidental à medula seria irreversível. A Dra. Lay e o Dr. Richard Farb, neurorradiologista que, desde então, se tornou especialista em exames por
imagem de vazamentos de líquido cefalorraquidiano, experimentaram, no decorrer dos anos, várias radiografias com contraste chamadas mielogramas, enquanto a tecnologia ia melhorando, mas nada encontraram. “Eles me diziam: não podemos consertar o que não encontramos”, conta Chris.
Mas a Dra. Lay explica: “Fui criada para pensar que sempre há esperança. Nunca digo que acabou, que não há mais nada a fazer.” Ela sugeriu que Chris tentasse várias abordagens que às vezes ajudavam outros pacientes com dor, como meditação, acupuntura e remédios. Então, em 2014, Lay mandou Chris a um colega em Los Angeles para uma cirurgia que aliviaria os sintomas. O médico reduziu o saco tecal, que fica na base da coluna, para forçar mais fluido a subir para o cérebro. Deu certo durante dois anos.
Ao verificar os últimos exames de Chris, o Dr. Farb achou uma anomalia minúscula
Farb, que foi junto para aprender, viu a equipe fazer mielogramas com os pacientes deitados de bruços, não só de costas, para que o contraste se espalhasse em diversas direções e facilitasse encontrar os vazamentos. Quando as dores de cabeça de Chris voltaram com força total, Farb tinha inovado ainda mais e fazia mielogramas com os pacientes de lado.
Em março de 2018, ao verificar os últimos exames de Chris, Farb achou uma anomalia minúscula e chamou o paciente para novos exames. “Ele me prendeu numa maca que girava e se inclinava”, diz Chris. “Então, falou: Lá está! Nunca vou esquecer. Nós dois choramos.”
O líquido cefalorraquidiano de Chris drenava por um defeito no lado direito do canal medular, no meio das costas, e uma conexão venosa anormal o levava para o sistema circulatório. Esse tipo de vazamento de fluido se chama fístula venosa, e é impossível saber com certeza o que a causou em Chris.
Em maio daquele ano, Chris retornou a Los Angeles para a cirurgia reparadora. Durante a recuperação, ainda teve dores. Passara 12 anos superproduzindo fluido, e agora a pressão era alta demais. Mas, depois de algumas semanas tomando diuréticos, as dores de cabeça de Chris finalmente sumiram.
As fístulas venosas de líquido cefalorraquidiano, antes tão fugidias, agora podem ser encontradas em 90% dos pacientes graças ao aprimoramento da técnica. Chris é grato por estar entre as histórias de sucesso. “Na verdade, nem tenho palavras”, confessa ele. “Quando estava doente, não era um bom marido, não era um bom pai. Agora tenho tudo de volta.”