Conheça o mistério médico de Maria, uma assistente social de 61 anos que, de repente, começa a sentir uma forte febre e dor no abdome.
Conheça a história de Maria, uma senhora que, de repente, começa a apresentar uma forte febre que se revelaria um verdadeiro mistério médico:
Paciente: Maria (nome trocado para proteger a privacidade), assistente social de 61 anos.
Sintomas: febre e dor no abdome.
Médico: Dr. Jean-Luc Reny, chefe da divisão de clínica médica dos Hospitais Universitários de Genebra.
Maria estava exausta e não conseguia trabalhar havia semanas.
Em março de 2018, a assistente social desenvolveu uma febre misteriosa que ia e vinha, e o abdome inferior queimava de dor. O médico de família prescreveu antibióticos por suspeitar de infecção do trato urinário, mas não surtiram efeito. À noite, ela acordava tão encharcada de suor que precisava trocar toda a roupa de cama.
Em meados de abril, Maria tinha perdido mais de três quilos e apresentado dois episódios de uma dor aguda no peito. Raios X do tórax e um ultrassom abdominal tiveram resultados normais. Mas, depois que um exame laboratorial revelou que a contagem de proteína C-reativa estava alta – o que indica inflamação em algum lugar do corpo – Maria foi levada aos Hospitais Universitários de Genebra.
Febre desconhecida
Há mais de 200 causas em potencial para uma febre de origem desconhecida, as mais comuns sendo infecção, doença inflamatória e malignidade. Muitos casos nunca são resolvidos, e um pequeno número de pacientes morre depois de apresentá-la, em geral por câncer.
Ao registrar a história, o Dr. Reny soube que Maria tinha extraído vários dentes alguns meses antes, o que a deixou com a gengiva dolorida, produzindo pus até muitos dias depois. “Os seios da face e os dentes são locais comuns de infecção crônica”, diz ele, mas uma radiografia da boca mostrou que estava tudo curado. Maria também tinha passado algum tempo em áreas florestais, habitadas por carrapatos, mas o teste para doença de Lyme dera negativo. Como Maria se queixou de dores no peito, o Dr. Reny fez um eletrocardiograma e verificou os níveis das enzimas, mas nada descobriu.
No oitavo dia, ele pediu um PET scan (tomografia por emissão de pósitrons), que usa marcadores radioativos para realçar problemas no fluxo sanguíneo ou nas funções de outros órgãos. Em geral um PET scan revela uma doença inflamatória que até então não tinha sido detectada ou um câncer. E, de fato, nesse caso, revelou uma pista importante.
A tomografia indicou um espessamento na parede da aorta com a inflamação, do coração ao abdome, e até as artérias ilíacas em sua pélvis. Com isso, o Dr. Reny pôde reduzir as possibilidades. Uma era sífilis, logo descartada após um exame de anticorpos; e outra era um tipo de vasculite chamado de arterite de células gigantes ou doença de Horton.
Doença de Horton
De acordo com a Organização Nacional para Doenças Raras nos Estados Unidos, a doença afeta 24 a cada 100 mil pessoas acima de 50 anos, e mais mulheres do que homens. Se não for tratada, pode levar à perda da visão. A doença de Horton já havia sido descartada no caso de Maria – ela não relatou sintomas relevantes, como dor de cabeça e sensibilidade do couro cabeludo, e uma biópsia da artéria deu resultado negativo –, mas o Dr. Reny suspeitou de que ela poderia ter uma apresentação incomum da doença. (Biópsias negativas podem ocorrer, pois a localização da inflamação nem sempre é previsível.)
O tratamento mais comum é com prednisona, um corticosteroide. Depois de 24 horas da prescrição, os sintomas de Maria melhoraram – confirmando o diagnóstico. “Aquela dor abdominal intensa de que ela reclamava era lombalgia”, diz ele.
A prescrição de Maria será reduzida aos poucos em um a dois anos. Recidivas podem acontecer, mas são administráveis com o ajuste da dose do medicamento. “Por agora, ela está de volta ao trabalho – e muito agradecida”, diz o Dr. Reny.
Por Lisa Bendall