Microbiota intestinal: médica explica importância na prevenção de doenças

Você sabe o que é a microbiota intestinal? Conversamos com a Dra. Vera Lúcia, que explica a função da flora intestinal para a nossa saúde.

Julia Monsores | 28 de Janeiro de 2021 às 15:00

Imagem: Natali_Mis/iStock -

Também conhecida como flora intestinal, a microbiota intestinal reúne mais de 10.000 tipos de bactérias, vírus e fungos no trato digestivo. Em conjunto, eles têm um papel fundamental no controle de bactérias patogênicas.

Ao longo do tempo, diversos estudos científicos vêm buscando compreender a importância da microbiota intestinal para o tratamento e prevenção de doenças.

Para explicar melhor esse cenário, conversamos com a Dra. Vera Lúcia Ângelo, gastrenterologista pela Federação Brasileira de Gastrenterologia.

A influência do tipo de parto na microbiota intestinal 

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Hoje já se sabe que o tipo de parto influencia diretamente a composição da microbiota intestinal. Quando o parto é normal, a criança herda a microbiota da mãe, prevalecendo dois grupos de bactérias principais: os Lactobacillus e a Prevotella spp. 

Já no parto por cesárea, esses microrganismos são diferentes, estando presentes sobretudo o Staphylococcus e Corynebacterium Propoonibacterium spp.

No caso da cesárea, são maiores as chances de haver bactérias que causam doenças. Além de aumentar o risco do desenvolvimento de doenças atópicas — como alergias, urticárias, eczemas e outros.

O aleitamento materno é um dos principais contribuintes para a formação adequada da microbiota intestinal, e exercem grande influência nos primeiros 1.000 dias de vida da criança.

A diversidade de microrganismos presentes na microbiota intestinal costuma aumentar após a adolescência, e respondem de formas diferentes em cada indivíduo.

De acordo com a Dra. Vera Lúcia Ângelo, uma alimentação saudável aliada a uma composição de bactérias boas na microbiota intestinal gera uma resposta mais satisfatória a diversos tratamentos.

“Quando a alimentação é saudável e há predominância de bactérias boas na composição da microbiota intestinal, a resposta aos tratamentos é muito mais eficiente, assim como a recuperação do equilíbrio da microbiota intestinal após o tratamento”, explica.

Os perigos do desequilíbrio da microbiota intestinal

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A composição da microbiota intestinal na fase adulta é totalmente distinta de sua composição na infância. E isso porque, ao longo do tempo, essa composição vai sofrendo alteração, embora mais lentamente à medida que envelhecemos.

Assim, quando há um desequilíbrio entre bactérias boas e ruins, a chamada disbiose, a recuperação da microbiota também é mais lenta.

Em alguns casos, pode levar de um a dois anos para voltar ao seu equilíbrio, o que reduz a capacidade de absorção dos nutrientes e prejudica a absorção de diversas vitaminas. 

Já no caso dos idosos, observa-se que o desequilíbrio da microbiota intestinal gera complicações com recuperações ainda mais lentas.  

A disbiose pode desencadear diversas doenças, como por exemplo:

Além disso, esse desequilíbrio da microbiota também afeta o sistema imunológico.

“As células do sistema imune estão, em maioria, na microbiota intestinal. Dessa forma, quando há baixa imunidade, as defesas anti-infecciosas do organismo são afetadas e abrem brechas para novas doenças, deixando a recuperação do indivíduo cada vez mais complicada”, esclarece a especialista. 

A importância dos prébioticos, probióticos e simbióticos 

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De acordo com a Dra. Vera Lúcia Ângelo, uma alimentação saudável, constituída de alimentos prebióticos, probióticos e simbióticos, é fundamental para preservar o equilíbrio da microbiota intestinal. E isso em todas as fases da vida.

Leia mais: probióticos e prebióticos — tudo o que você precisa saber sobre eles

“Os prebióticos são, em geral, os diversos tipos de fibras, entre solúveis e insolúveis. As fibras solúveis são as mais recomendadas para bebês e idosos por serem de fácil digestão, além de dar sensação de saciedade e evitar diarreias. Alimentos como chuchu, abóbora, ervilha, aveia, cevada, mandioca e cenoura são bastante recomendados, sendo que a cenoura é a melhor fibra solúvel que existe”, recomenda.

Os probióticos auxiliam o processo digestivo, uma vez que são compostos por microrganismos vivos que se alimentam de fibras. Além disso, também fortalecem o sistema imunológico, quando administrados em quantidades apropriadas.  

Existem diversos tipos de probióticos. No entanto, o que difere um do outro é a cepa probiótica. Cada uma tem uma função específica no organismo e age para combater uma patologia específica.

“Para os bebês, os Lactobacillus e o Bifidobacterium são os mais recomendados, sendo que entre os Lactobacillus, as cepas rhamnosus e reuteri são as mais indicadas”, esclarece a médica. 

Dentre as opções disponíveis, oLactobacilos rhamnosus GG (LGG®) é a cepa mais estudada no mundo e que apresenta resultados positivos no equilíbrio e proteção da microbiota intestinal.

O LGG® é um bacilo Gram-positivo obtido a partir do intestino de um adulto saudável, totalmente sequenciado geneticamente, revelando-se mais 300 proteínas específicas – o que diferencia essa cepa das demais.

Além disso, pode ser usada em todas as faixas etárias, incluindo bebês, crianças, adultos, gestantes e idosos.

A Dra. Vera alerta ainda que é preciso levar algumas questões em consideração antes de escolher o probiótico ideal.

“Ele deve estar especificado por gênero e cepa, conter bactérias vivas, ser administrado em dose adequada e, principalmente, ter demonstrado ser eficaz em estudos controlados em humanos”, finaliza. 

Dra. Vera Lúcia Ângelo é gastrenterologista pela Federação Brasileira de Gastrenterologia, Especialista em Doenças Funcionais pelo Hospital Israelita Albert Einstein e Mestre e Doutora e Patologia Geral UFMG.


Referência 

1.Funkhouser LJ, Borderstein SR. Momsknows best: the universality of maternal microbial transmission. PLoS Biol. 2013;11(8):e1001631.