Hipertensão e doenças renais: uma via de mão dupla

Muitos pacientes renais crônicos possuem hipertensão ou diabetes. Entenda a relação entre essas doenças e previna-se!

Julia Monsores | 19 de Abril de 2021 às 14:00

majorik0207/iStock -

A hipertensão arterial sistêmica, conhecida popularmente como pressão alta, atinge mais de um bilhão de pessoas no mundo, sendo reconhecidamente o principal fator de risco para as doenças cardiovasculares como acidente vascular cerebral e infarto agudo do miocárdio. Além disso, a hipertensão também é um dos principais fatores de risco da Covid-19.

No Brasil, estima-se que aproximadamente 35% dos brasileiros sejam hipertensos. E segundo um estudo realizado pela Escola de Economia de Londres, Instituto Karolinska (Suécia) e Universidade do Estado de Nova York, a estimativa é que o número de hipertensos nos países em desenvolvimento, como o Brasil, cresça 80% até 2025. 

Por ser uma doença que muitas vezes ocorre de forma silenciosa, a hipertensão pode passar despercebida. No entanto, também pode trazer complicações aos rins. Assim como as disfunções nos rins também podem provocar o aumento da pressão.

Continue acompanhando esse post para entender melhor! E aproveite e confira 15 coisas que você precisa saber sobre pressão alta.

O que é a hipertensão?

Imagem: BrianAJackson/iStock

Definida como a força que o sangue exerce sobre artérias e veias ao circular no corpo, a pressão arterial é controlada por um complexo sistema regulador que envolve o coração, os vasos sanguíneos, o cérebro, os rins e as glândulas suprarrenais. Normalmente, a pressão arterial sofre pequenas alterações durante o dia. Porém, quando ela permanece constantemente alta é sinal de hipertensão.

Tabela de leitura da pressão arterial. Imagem: Editora Seleções.

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A hipertensão, em 90% dos casos, ocorre por causas desconhecidas, e é denominada de hipertensão essencial. Mas há alguns fatores de risco para seu surgimento, como por exemplo:

No geral, a hipertensão é uma doença silenciosa, pois não apresenta sintomas. Assim, pode revelada apenas depois de um check-up ou, o que é mais grave, após um AVC ou infarto. Além disso, algumas pessoas também relatam dor de cabeça e zumbido nos ouvidos quando a pressão arterial está muito alta.

A faixa da “pré-hipertensão” – com números de 120/80 a 140/90 – para algumas pessoas é considerada uma zona segura. Mas não é bem assim. E isso porque, nesses casos, há um aumento de até 58% no risco de morte por doenças cardíacas.

“Apenas metade desses brasileiros hipertensos sabe ser portador dessa enfermidade, e desses, menos da metade está com os níveis pressóricos controlados, realizando tratamento adequado. Isso já seria um sinal de alerta incontestável, aumentando o risco das doenças cardiovasculares para nossa população, todavia existe ainda uma estreita e mórbida relação da pressão arterial e os rins muito menos difundida que faz a maior parte da população ignorá-la”, explica a nefrologista e intensivista Dra. Lectícia Jorge, que tem doutorado em lesão renal aguda pela USP e é gerente Nacional de Serviços Hospitalares da Fresenius Medical Care.

Hipertensão afeta desempenho dos rins

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Os rins realizam a filtragem e a eliminação de substâncias prejudiciais ao nosso organismo, como amônia, ureia e ácido úrico. Além disso, os rins são órgãos fundamentais no controle da pressão arterial, uma vez que produzem hormônios que aumentam a pressão todas as vezes que eles reconhecem que estão recebendo pouco sangue, por exemplo, ou quando eles estão “inflamados” em um contexto de glomerulonefrite.

No entanto, a Dra. Lectícia Jorge explica que a hipertensão é muito prejudicial aos rins. E isso porque esses órgãos possuem estruturas de vasos delicadas, que podem romper com a pressão alta.

“A hipertensão arterial e a perda de proteína na urina são reconhecidamente os dois fatores de risco principais que aceleram a progressão da doença renal. Quando essa estrutura delicada é submetida a um regime de alta pressão ela se distende e se danifica permitindo a perda de proteínas e a formação de lesões de esclerose, que são como cicatrizes”, explica.

Assim, essa distensão acaba provocando lesões na estrutura que em última análise fará pacientes que possuem problemas renais perderem seus rins mais rapidamente e pacientes que não possuem começarem a ter problemas. “Em todas essas situações, a perda da função renal será tão mais rápida quanto maior for o descontrole pressórico e muitas vezes o principal tratamento para desacelerar o processo é o controle pressórico rigoroso”, aponta a Dra. Lectícia Jorge.

Recomendações de saúde

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Considerando a relação existente entre hipertensão e doenças renais, a Dra. Lectícia Jorge ressalta alguns pontos importantes para cuidar pressão arterial e dos rins:

“1. Pacientes com hipertensão arterial devem realizar investigação de doenças renais visando descartar que a causa da hipertensão seja problemas renais.

2. As doenças renais que causam hipertensão são diversas, mas vale ressaltar algumas principais como: estenose de artéria renal, hiperaldosteronismo primário, glomerulopatias primárias (como nefropatia IgA), glomerulopatias secundárias (como lúpus eritematoso sistêmico e nefropatia diabética).

3. Recomenda-se que todo paciente hipertenso faça exames da sua função renal ao diagnóstico e posteriormente uma vez no ano, além de exames urinários. Se alterações urinárias forem encontradas, uma consulta com nefrologista está indicada. Os exames de imagem do rim, dos vasos do renais e das glândulas adrenais são muitas vezes indicados, porém eles dependem de uma avaliação médica que leva em consideração idade, história e exame físico.

4. Pacientes com problemas renais devem controlar a pressão arterial rigorosamente visando retardar a progressão da doença renal e reduzir o risco de lesões cardiovasculares. Aqui vale ressaltar que pacientes renais possuem um risco cardiovascular altíssimo, extremamente maior que a população geral, sendo essas doenças a primeira causa de óbito nesse grupo de pacientes”, conclui.


Fonte: Dra. Lectícia Jorge (CRM 118.505) é médica nefrologista e intensivista, tem doutorado em lesão renal aguda pela USP e é gerente Nacional de Serviços Hospitalares da Fresenius Medical Care.