Hepatologista explica as causas e sintomas da hepatite medicamentosa e alerta para o risco do consumo de medicamentos sem prescrição.
Douglas Ferreira | 2 de Março de 2021 às 11:00
Você já ouviu falar em hepatite medicamentosa? O tema ganhou destaque nos últimos meses, após médicos virem a publico para alertar sobre o perigo do consumo indiscriminado da Ivermectina e outros medicamentos, ressaltando como tomar medicamentos sem receita em excesso pode contribuir para o desenvolvimento dessa grave doença.
A ineficácia da Ivermectina no tratamento contra a Covid-19 já foi confirmada pela sua própria fabricante, a empresa Merck. Porém, meses antes, o remédio foi amplamente procurado nas farmácias do Brasil por ser recomendada, erroneamente, como um tratamento preventivo para o novo coronavírus.
É importante lembrar que o medicamento se trata de um antiparasitário, usado contra piolhos, por exemplo, e não é capaz de combater ou evitar a infecção pelo vírus Sars-CoV-2.
Apesar desse fator, inúmeros pacientes relatam terem tomado altas doses de Ivermectina para evitar pegar Covid-19. O resultado: aumento de casos de hepatite medicamentosa e transplante de fígado.
Em entrevista, o Dr. Guilherme Berenhauser, Hepatologista no Hospital Albert Einstein, explicou que a hepatite medicamentosa trata-se de uma inflamação do fígado causada por algumas substâncias as quais o paciente está exposto, principalmente medicamentos, e pode dar os primeiros sinais pouco tempo após o organismo ser atingido pelo agente agressor.
“A hepatite medicamentosa pode ser causada por medicamentos ou suplementos nutricionais. Em alguns casos, a hepatite tóxica medicamentosa se desenvolve horas ou dias após a exposição a um agente agressor. Em outros casos, pode levar meses de uso regular antes que os sinais e sintomas apareçam”, comenta o especialista.
Os sintomas da hepatite medicamentosa aparecem de forma repentina. No entanto, os sintomas mais comuns são:
Apesar de os sintomas costumarem sumir com a interrupção da exposição do paciente ao agente agressor, a hepatite tóxica medicamentosa pode causar danos permanentes ao fígado.
“Os sintomas da hepatite tóxica medicamentosa geralmente desaparecem quando a exposição ao agente agressor é interrompida. Mas a hepatite tóxica pode causar danos permanentes ao fígado, causando cicatrizes irreversíveis no tecido hepático (cirrose) e, em alguns casos, insuficiência hepática, que pode ser fatal”, explica o Dr. Guilherme Berenhauser, Hepatologista do Hospital Albert Einstein.
Além do alerta constante para o mau uso da Ivermectina, diversos outros medicamentos considerados de baixo risco por não exigirem prescrição médica podem agredir o fígado e gerar a hepatite medicamentosa tóxica.
“Os analgésicos de venda livre, sem necessidade de receita médica, como paracetamol, aspirina, ibuprofeno e naproxeno podem danificar o fígado; especialmente se tomados com frequência ou combinados com álcool. Podemos citar, também, as estatinas usadas para tratar o colesterol alto, antibióticos e a associação de outros medicamentos como a amoxicilina-clavulanato, fenitoína, azatioprina, niacina, cetoconazol, drogas antivirais e esteróides anabolizantes”, revela o Dr. Guilherme Berenhauser.
Substâncias naturais e até suplementos vitamínicos também podem acabar agredindo o fígado e causar problemas mais graves. Por isso, é necessário consultar um especialista antes de iniciar qualquer tratamento.
“Os fitoterápicos, como ervas e suplementos também podem agredir o fígado. Algumas ervas são consideradas perigosas para o fígado, incluindo, aloe vera, cohosh preto, cascara, chaparral, confrei, kava e efedra. Nessa época da busca ilimitada pela saúde, não podemos esquecer de citar o uso indiscriminado e abusivo de suplementos vitamínicos também”, lembra o médico hepatologista.
A hepatite medicamentosa é uma doença grave, que pode gerar a insuficiência do fígado ou danos crônicos. É necessário tratamento imediato e acompanhamento do paciente. Nos casos mais graves, pode ser necessário o transplante do órgão.
“A hepatite medicamentosa pode levar a uma insuficiência hepática aguda, evoluindo até a morte. O paciente também pode evoluir para um dano hepático crônica, culminando com a cirrose hepática”, esclarece o Dr. Guilherme Berenhauser.
Com o diagnóstico correto da doença, o primeiro passo é identificar o medicamento ou substância que causou a hepatite medicamentosa e suspender o uso. Caso não seja suficiente, o médico pode recomendar o uso de corticoides até que os exames do fígado voltem ao normal.
“O pilar fundamental do tratamento é a suspensão da medicação que causou a agressão ao fígado, associado ao tratamento dos sintomas secundários a essa agressão”, conta o especialista.
Por se tratar de uma doença que traz riscos, é importante que o paciente faça uma consulta anual com um hepatologista e realize exames para avaliar a saúde do seu fígado.
Atenção:
Para ter o diagnóstico correto dos seus sintomas e fazer um tratamento eficaz e seguro, procure orientações de um médico.