Segundo a pesquisadora, um dos aspectos mais importantes do novo colírio é seu caráter preventivo. Se ministrado nas fases precoces da doença, o medicamente atuará como um protetor da retina.
Redação | 4 de Março de 2018 às 13:00
As simples gotinhas de um novo medicamento podem salvar a visão de milhares de pessoas com diabetes.
Hoje, mais de 16 milhões de adultos (8,1%) sofrem de diabetes no Brasil e a doença mata 72 mil pessoas por ano no país, de acordo com um recente relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS). Desse total, 90% dos pacientes de diabetes do tipo 1 e 60% do tipo 2 devem desenvolver retinopatia diabética (RD) em algum grau ao longo da vida, uma das principais enfermidades associadas à doença principal.
A RD ocorre quando os capilares (pequenos vasos sanguíneos) na parte de trás do olho incham e formam bolsas. À medida que mais vasos sanguíneos vão sendo bloqueados, o paciente pode passar de um quadro leve a grave. Depois de alguns anos, a RD costuma progredir para um tipo mais agressivo, o proliferativo, que é quando os vasos ficam totalmente obstruídos e não levam mais oxigênio à retina. Como parte dela pode começar a morrer, novos vasos vão surgindo para contornar o problema; ao mesmo tempo, isso também pode causar uma espécie de cicatriz, provocando distorções, descolamento e até glaucoma.
Mas agora uma boa notícia parece de chegar dos laboratórios de inovação da Universidade de Campinas (Unicamp): pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) desenvolveram um colírio capaz de tratar a retinopatia. De acordo com a professora Jacqueline Mendonça Lopes de Faria, uma das responsáveis pelo projeto, a descoberta é fruto de uma pesquisa que já dura cerca de duas décadas. “A tecnologia que desenvolvemos é consequência de um longo estudo para entender o mecanismo de ataque das células nervosas e de irrigação sanguínea no tecido ocular.”
“Em modelos experimentais, o colírio apresentou importantes efeitos neuroprotetores.”
O colírio, cuja composição já está disponível para licenciamento, foi testado em ratos de laboratório experimentalmente diabéticos e mostrou resultados promissores. A docente da FCM frisa, no entanto, que o medicamento ainda precisa ser testado em humanos. “Em modelos experimentais, o colírio apresentou importantes efeitos neuroprotetores. Mas o principal diferencial dessa tecnologia é fazer o princípio ativo passar pelas barreiras oculares e chegar à retina sem a necessidade de um procedimento invasivo”, conta Jacqueline. Atualmente, as únicas opções disponíveis para o tratamento da retinopatia diabética envolvem injeções no globo ocular, uso de laser ou cirurgia.
Mas, segundo a pesquisadora, um dos aspectos mais importantes do novo colírio é seu caráter preventivo. Se ministrado nas fases precoces da doença, o medicamente atuará como um protetor da retina, evitando que o paciente desenvolva outras complicações ligadas a ela. “O colírio poderá ser aplicado antes que o paciente apresente comprometimento da visão, já que atua nos mecanismos precoces da retinopatia diabética e de outras doenças isquêmicas da retina, como estresse oxidativo e nitrosativo. Por ser de uso tópico, não deve impor qualquer risco aos pacientes”, explica a pesquisadora.