Estima-se que de 1% a 2% dos habitantes de países ocidentais sejam afetados pela gota. Saiba mais sobre essa doença!
Redação | 23 de Março de 2022 às 15:00
A gota é uma das formas mais comuns de artrite. Essa doença é antiga e debilitante é caracterizada por dor, sensibilidade e vermelhidão nas articulações. Estima-se que de 1% a 2% dos habitantes de países ocidentais sejam afetados.
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Além disso, a incidência de gota dobrou nos últimos 20 anos. E isso, provavelmente, devido à epidemia crescente de obesidade e à alimentação moderna com excesso de carne. A seguir, entenda mais sobre a gota e conheça os métodos de prevenção, tratamento e mais.
A gota é uma doença inflamatória que atinge, em especial, as articulações. Ela ocorre quando a taxa de ácido úrico no sangue alcança níveis mais altos que o normal.
Durante uma crise aguda de gota, geralmente iniciada da noite para o dia, a articulação acometida torna-se muito dolorida, além de ficar vermelha, quente e inchada.
“Muitos pacientes relatam que até o peso do lençol pode se tornar insuportável”, diz o Dr. Geraldo Castelar, professor associado da disciplina de reumatologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Não admira: na crise de gota, em nível microscópico, milhares de cristais minúsculos de ácido úrico, afiados como agulhas, enchem a articulação, tão irritantes e dolorosos quanto cacos de vidro.
A probabilidade de ter a doença é maior para alguém que tem ou teve um caso de gota na família. Além disso, a gota ataca principalmente homens acima dos 40 anos, com o quádruplo da probabilidade das mulheres com menos de 65. Porém, depois da menopausa, a diferença se reduz e as mulheres ficam mais suscetíveis.
Segundo as recomendações, a presença de gota é um alerta para problemas renais, diabetes e cardiopatias. Os pacientes com gota têm o quádruplo da probabilidade de morrer de doença renal quando comparados aos que não a têm. É preciso averiguar a função renal e fazer exames para verificar fatores de risco, como diabetes e doença cardiovascular.
Todos nós produzimos ácido úrico e a maior parte dele é eliminada pelos rins. Quem tem gota produz ácido úrico demais ou os rins não eliminam o suficiente.
Porém, é possível aumentar a probabilidade de não a contrair essa doença evitando o excesso de peso e controlando a ingestão de alguns alimentos e bebidas, como os que se seguem:
A purina é um composto natural que se converte em ácido úrico no organismo. A alimentação rica em carne vermelha, miúdos e frutos do mar está associada ao nível elevado de uratos no sangue.
O consumo deveria ser reduzido. A desidratação pode provocar uma crise, portanto é preciso beber uns dois litros de água por dia.
Um estudo encabeçado pelo Dr. Hyon Choi, professor de reumatologia na Escola de Medicina da Universidade de Boston, constatou que o consumo de grande quantidade de frutose, principalmente sob a forma de refrigerantes, está fortemente associado ao aumento do risco de gota.
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Embora muitos reumatologistas acreditem que podem diagnosticar a gota apenas olhando uma articulação vermelha, inchada e dolorida, e embora esse sintoma, combinado a um exame de sangue que revele nível de urato sérico superior a 6,8 mg/dL (0,4 mmol/L), seja forte indício de gota, as recomendações multinacionais afirmam que, para diagnosticar a gota de forma definitiva, o médico deve pesquisar a presença de cristais de ácido úrico no líquido sinovial dos pacientes com artrite e suspeita de gota.
“Essa é uma das poucas doenças que podemos diagnosticar no consultório. Aspiramos a articulação, olhamos no microscópio e lá estão os cristais“, diz o Dr. Christopher Burns, reumatologista da Escola de Medicina de Dartmouth, nos Estados Unidos.
Com o tempo, se o nível elevado de ácido úrico no sangue não for tratado, as crises de gota se tornarão cada vez mais frequentes. E, assim, espalham-se para outras articulações e podem provocar lesões irreversíveis.
A maioria das crises de gota passa em três a sete dias, mas a dor e o inchaço podem ser tratados com analgésicos e anti-inflamatórios não esteroides. O medicamento colchicina, derivado do açafrão-do-prado, é usado há séculos para tratar crises de gota e ainda é eficaz. Além disso, corticosteróides como a prednisona também são úteis.
A maioria dos pacientes que sofreram uma primeira crise de gota terão uma segunda crise nos dois primeiros anos da doença. Com o passar do tempo, a menos que o nível de ácido úrico no sangue seja controlado, o intervalo entre as crises será cada vez menor.
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A primeira linha de tratamento medicamentoso é o alopurinol, que reduz a produção de ácido úrico pelo organismo. O alopurinol tem se mostrado eficaz há quase 40 anos. A maioria dos pacientes gotosos necessita tomar esta medicação pelo resto da vida.
Cerca de 2% dos pacientes, em geral no início do tratamento, podem apresentar reação alérgica. Alguns casos raros podem levar ao óbito. Alternativamente, caso o paciente não tenha histórico de cálculo renal, ele pode ser tratado com um medicamento que aumenta a eliminação renal de ácido úrico, a benzbromarona.
A terapia com alopurinol deve começar com 100 mg por dia e ir aumentando a dose aos poucos, 50 ou 100 mg por vez, para garantir que a substância é bem tolerada, até o exame de sangue mostrar um nível abaixo de 6 mg/dL (0,36 mmol/L).
“Doses baixas são ineficazes, deixam os pacientes em risco de sofrer efeitos colaterais e sem o benefício de dissolver os cristais”, diz a Dra. Sivera. Depois de começar o tratamento, os pacientes precisam fazer pelo menos um exame de sangue para ter certeza de que a meta do nível sérico foi atingida.
Há quem tenha nível elevado de ácido úrico no exame de sangue sem nunca ter sofrido uma crise de gota, eliminado um cálculo renal e nem apresentado sinais de tofos. Essas pessoas devem ser orientadas a reduzir o nível de ácido úrico com alimentação e exercícios, mas não precisam começar o tratamento medicamentoso.
“Hoje há tratamentos muito eficazes. Ninguém precisa sofrer crises recorrentes de gota. Caso sofram, devem procurar um especialista“, diz o Dr. Burns.
Com o passar dos anos, o nível elevado e não tratado de ácido úrico pode provocar acúmulos de cristais em tecidos e articulações, conhecidos como tofos. Além de interferirem na estética, os tofos são capazes de destruir a articulação, comprometendo sua função, e comprimir nervos.
Para dissolver os tofos, os especialistas recomendam a terapia para baixar o nível de ácido úrico até a meta de 5 mg/dL (0,3 mmol/L), o que apressa a redução dos tofos. Só se considera a cirurgia nos casos mais graves.