Conheça os fatores de risco para doenças cardíacas

Quanto mais numerosos os fatores de risco de doenças cardíacas, maior o risco. O primeiro passo é conhecer esses riscos e tentar evitá-los.

Douglas Ferreira | 11 de Novembro de 2021 às 18:00

6okean/iStock -

Quanto mais numerosos os fatores de risco, maiores as chances de termos doenças cardíacas. Sendo assim, o primeiro passo para ter um coração saudável é conhecer esses riscos e tentar evitá-los. 

Nós mesmos podemos identificar algumas das nossas zonas de perigo. Para outras, há necessidade de testes e da avaliação de um médico.

Leia também: 7 exames capazes de diagnosticar doenças cardíacas.

Alguns aspectos, como idade, sexo e histórico de doenças na família, nós temos de aceitar. No entanto, a atenção aos aspectos passíveis de controle – hipertensão ou níveis de colesterol, por exemplo – pode reduzir os riscos de infarto ou AVC. E, caso você já tenha sofrido um desses, é necessário estar atento para evitar que a situação se repita.

Um ou mais fatores de risco não condenam você a um infarto. Pense no cinto de segurança. De modo geral, os riscos de ferir-se em um acidente de carro são maiores se você não usar o cinto. O mesmo se aplica às doenças cardíacas. Assim como a falta do cinto de segurança amplia as chances de ferimento em um acidente, colesterol elevado ou hipertensão aumenta as chances de futuras doenças cardíacas. No entanto, a redução ou eliminação desses fatores pode diminuir drasticamente os riscos.

Fatores de risco que você não pode mudar

Talvez pareça estranho preocupar-se com o que não pode ser mudado, mas tomar conhecimento dos seus fatores de risco é essencial se você quiser saber a probabilidade de desenvolver doença cardíaca. Além disso, essas informações podem ajudar o seu médico a chegar a um diagnóstico mais rápido. Aqui estão alguns dos principais riscos possíveis.

Risco hereditário

Se há casos na família de doença cardíaca – em especial infarto em homens com menos de 50 anos e mulheres abaixo de 55 anos –, é provável que o seu risco esteja aumentado. A ameaça mais grave vem de uma condição hereditária, como a tendência a níveis de colesterol elevados e a propensão a obesidade, hipertensão ou diabetes.

Se você possui uma tendência familiar à elevação dos níveis de colesterol, por exemplo, é provável que o médico recomende mudanças na alimentação e/ou prescreva medicação para combater o problema.

Sexo

Os números mostram que a doença cardiovascular é mais frequente em homens do que em mulheres. Além disso, homens apresentam a doença uma década mais cedo. Os pesquisadores não sabem exatamente a razão de as mulheres estarem mais protegidas até a menopausa, mas o estrogênio parece ter influência. Depois da menopausa, os níveis caem, e o risco aumenta. Entre 60 e 70 anos, homens e mulheres vão se aproximando, no que se refere a doenças cardíacas, e elas têm 47% dos infartos fatais.

Idade

O risco de doenças cardiovasculares aumenta com a idade, mas isso não significa um aspecto inevitável do envelhecimento. A maioria das pessoas se beneficia de uma alimentação saudável e de atividade física no decorrer da vida.

Fatores de risco que podem ser mudados

Os fatores de risco que podem ser mudados são mais numerosos do que os que não se pode combater. Isso possibilita reduzir significativamente o seu nível de risco.

Os fatores de risco que podem ser mudados são de duas categorias: condições clínicas que contribuem para doenças cardiovasculares e hábitos de vida que elevam o risco de doença cardíaca. Confira aqui algumas categorias e seus principais fatores de risco:

Condições clínicas

Hábitos de vida

Agora que você já sabe quais são os fatores de risco, entenda como eles afetam a sua saúde.

1. Hipertensão

Para fornecer oxigênio e nutrientes ao corpo e manter o sangue em movimento, o coração precisa bombear com bastante força. Enquanto as paredes das artérias estão lisas e flexíveis, o sangue flui normalmente, e a pressão se mantém baixa. Porém, com o progressivo endurecimento das paredes, as artérias perdem a capacidade de contração e expansão, e precisam fazer mais força para impulsionar o sangue. O resultado é o aumento da pressão arterial, a hipertensão. Assim, as paredes das artérias, muito exigidas, ficam cada vez mais vulneráveis à formação de placas.

A genética responde aproximadamente por 30% dos casos de hipertensão; os outros 70% resultam da concentração acima do normal de líquido na corrente sanguínea – geralmente causada pelo excesso de sal na alimentação – aliada ao estreitamento das artérias em consequência dos depósitos de gordura. Quando não tratada, a pressão alta aumenta em três vezes o risco de doença cardíaca e em sete vezes o risco de acidente vascular cerebral.

Esses números são ainda mais preocupantes porque a hipertensão não costuma apresentar sintomas. De cada três adultos hipertensos, um desconhece essa condição. Medições regulares são o único modo de diagnosticar a pressão alta.

2. Colesterol alto e triglicerídeos

O colesterol é uma substância pegajosa que provém da nossa alimentação. Sem o colesterol não viveríamos, pois ele é necessário a várias funções, inclusive à formação das membranas celulares. Em excesso, porém, ele começa a criar problemas.

Os dois principais tipos de colesterol são: o “mau” (LDL), que pode se acumular e endurecer as paredes das artérias, e o “bom” (HDL), que ajuda a manter as artérias desimpedidas, pois transporta o LDL para ser eliminado pelo fígado.

Quando o colesterol adere as paredes das artérias, formando placas, elas sofrem danos. Ao estreitar a artéria, a placa prejudica o fluxo de sangue para o músculo cardíaco, podendo soltar-se com o tempo e criar um bloqueio completo. Assim, quanto mais elevado o nível de LDL, maior o risco de infarto.

Não existem sinais que indiquem alterações nos níveis de colesterol; somente exames de sangue podem demonstrá-las.

Embora pertençam a categorias diferentes, colesterol e triglicerídeos atuam e têm efeitos semelhantes, e podem tornar-se matéria-prima do perigoso LDL. Estudos apontam forte ligação entre níveis altos de triglicerídeos e um maior risco de doença cardíaca. Gordura abdominal, álcool em excesso, diabetes sem controle e falta de exercício físico favorecem a elevação dos triglicerídeos.

3. Diabetes

O diabetes dificulta o processo de transformação de açúcar em energia. Em condições normais, o corpo converte em glicose uma parte do alimento consumido. A insulina permite que a glicose entre nas células, onde é usada para criar energia. Dois tipos de diabetes desregulam esse sistema tão bem calibrado.

O tipo 1 ocorre quando o pâncreas não produz insulina suficiente para processar a glicose. Já o diabetes tipo 2 ocorre quando as células deixam de responder normalmente à insulina. Ao ter qualquer tipo de diabetes, o seu risco de doença cardiovascular é aproximadamente o dobro da população em geral.

Felizmente para a maioria dos portadores de diabetes, medicação e mudanças no estilo de vida podem evitar um infarto ou um AVC. Com um exame de urina e uma espetada no dedo, o médico pode verificar imediatamente o nível de glicose no sangue.

4. Tabagismo

O cigarro é especialmente nocivo ao coração, pois aumenta em 50% o risco de aterosclerose. Quanto mais cedo e mais cigarros o indivíduo fuma, maior o perigo. Em comparação ao não fumante, um maço de 20 cigarros dobra, no mínimo, o risco de doença cardiovascular; e dois maços ou mais triplicam o risco.

O tabagismo traz consequências nocivas: eleva a frequência cardíaca, a pressão arterial e os fatores que favorecem o entupimento das artérias, destrói o “bom” colesterol e danifica o revestimento interno dos vasos sanguíneos – isso sem considerar os riscos de doenças vasculares, como AVC e disfunção erétil, e doenças pulmonares, como bronquite crônica e enfisema.

A cada tragada a fumaça do cigarro libera gases e centenas de substâncias tóxicas nos pulmões e na corrente sanguínea. O fumante inala também dois venenos poderosos: nicotina e monóxido de carbono.

A nicotina, que provoca uma sensação de euforia e relaxamento, é também um estimulante muito tóxico, e a quantidade contida em um cigarro é suficiente para elevar a frequência cardíaca a um nível nada saudável.

O monóxido de carbono – gás venenoso que sai do cano de descarga dos veículos – se forma na queima do tabaco. Ao ser inalado, ele substitui o oxigênio das hemácias, obrigando o coração a se contrair mais para obter oxigênio e nutrientes. Além disso, a gordura, resultante da exposição à nicotina e ao monóxido de carbono, estreita os vasos sanguíneos, limitando o fornecimento de sangue ao coração.

Com o passar do tempo, intensifica-se o bloqueio dos vasos sanguíneos, acarretando aos poucos um dano permanente ao coração. Essa falta de oxigênio aumenta o risco de infarto. Quanto mais tempo como fumante, maior o risco. Também perigosa é a situação do chamado fumante passivo.

5. Inflamação crônica

Mesmo assustadora para alguns, a inflamação é parte normal do processo de cura do ser humano. A inflamação crônica se instala quando as defesas do sistema imunitário são acionadas e continuam em ação. Nas artérias, pode ter várias causas: infecções por doença da gengiva ou pela bactéria da úlcera do estômago; substâncias liberadas pela gordura abdominal excessiva; e envelhecimento. Além disso, favorece a formação de placas nas artérias.

A proteína C reativa (PCR), produzida no fígado em resposta à inflamação, tem sido apontada como marcador para o risco de doença cardíaca. Em um estudo, homens com altos níveis de PCR tinham triplicado o risco de infarto.

6. Sobrepeso

Nem toda gordura corporal é igualmente ruim. Aqui, o perigo é a gordura abdominal – aquela que se acumula em volta e, às vezes, dentro dos órgãos.

Nas nádegas, coxas e quadris a gordura é relativamente inofensiva. A gordura abdominal, porém, é liberada continuamente na corrente sanguínea. Assim, crescem as chances de hipertensão, entupimento de artérias e aumento dos níveis de colesterol, o que predispõe à doença cardíaca.

A gordura abdominal também dá início a uma cadeia de eventos bioquímicos que leva à resistência à insulina – uma situação precursora do diabetes do tipo 2.

7. Sedentarismo

A “doença do sedentarismo” – falta de atividade física – pode dobrar o risco de doença cardíaca. A atividade física controla o peso, queima a gordura abdominal, reduz a hipertensão e ajuda a regular os níveis de colesterol. Além disso, favorece a absorção de glicose pelas células, diminuindo o risco de diabetes do tipo 2. Nas pessoas pouco ativas, o coração fica “fora de forma”, tornando-se mais vulnerável às doenças.

No entanto, mais de seis em cada dez pessoas não cumprem a meta recomendada de exercício (pelo menos 30 minutos – caminhada rápida, por exemplo – a maior parte dos dias da semana). Para cada cinco mulheres, quatro dizem não fazer atividade física alguma. Portanto, se essa situação lhe parece familiar, já passou da hora de você cuidar do coração e evitar doenças cardíacas.

Quem não apresenta fatores de risco está livre do infarto?

Não completamente. Embora nesse caso a probabilidade de doença cardíaca seja significativamente menor, alguns infartos acontecem aparentemente do nada, na ausência de fatores de risco. Por quê? Mistério.

Uma coisa, porém, é certa: praticar mais exercícios, comer alimentos saudáveis e aprender a dar ao estresse a exata medida são atitudes sensatas, ainda que não haja um risco iminente.

Considere essas atitudes uma política de segurança contra doenças cardíacas e contra muitas outras, inclusive diabetes.


Atenção!

Esta matéria traz informações que ajudam a dar uma boa ideia do seu risco de desenvolver doenças cardíacas. Mas lembre-se de que ela não substitui o exame e os conselhos de um médico. Caso suspeite que possa estar com algum problema, não hesite em marcar uma consulta.