A resposta imune gerada pela asma pode ajudar a combater a infecção da Covid-19.
Ao contrário do que acreditava-se há pouco durante a pandemia da Covid-19, a asma pode não ser mais um fator de risco para contrair uma forma grave da doença. Um estudo realizado com pacientes hospitalizados no Sistema Único de Saúde (SUS) avaliou que a condição pode ser capaz de proteger o organismo na infecção pelo coronavírus. Os resultados foram divulgados recentemente na revista Frontiers Medicine.
Os resultados foram avaliados de acordo com a necessidade das unidades de terapia intensiva, intubação e óbitos.
"Apesar de desenvolverem mais sintomas clínicos, os pacientes com asma foram menos propensos a morrer de Covid-19 em comparação com indivíduos sem asma", afirmou o biólogo Fernando Augusto Lima Marson, um dos autores da pesquisa, da Universidade São Francisco (USF).
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Dentre o total de pessoas hospitalizadas com Covid-19, apenas 3,8% tinham o fenótipo asma. Entre os pacientes que precisaram de suporte ventilatório invasivo, 74,4% dos pacientes com asma faleceram, enquanto 78% dos pacientes sem asma foram a óbito.
Para o grupo que utilizou suporte ventilatório não invasivo, a comparação se mostrou semelhante. Destes, 20% dos pacientes que morreram eram asmáticos, enquanto 23,5% dos que morreram não apresentavam o fenótipo asma.
Com os pacientes que não precisaram de nenhum suporte ventilatório, o cenário se repete mais uma vez. Cerca de 11% dos asmáticos morreram versus 15,8% das mortes em doentes que não tinham asma.
O trabalho realizou um estudo epidemiológico usando as informações dos pacientes no OpenDataSUS para verificar a gravidade dos casos de Covid-19 entre os hospitalizados com e sem asma no SUS. A avaliação incluiu dados demográficos, como sexo e escolaridade, perfil de sinais clínicos e comorbidades.
Também é importante ressaltar que um outro estudo, publicado em 2021 na revista Plos One, já teria observado a resposta imune gerada pela asma como combate ao Sars-Cov-2. Na pesquisa, a taxa de asmáticos curados foi o dobro da dos que morreram e a asma não apareceu como fator de risco de mortalidade.
Confira abaixo a tabela que ressalta a comparação de diversas comorbidades com o agravamento da Covid-19 no Brasil:
Por que a asma protege contra a infecção do coronavírus
A hipótese levantada pelo grupo de pesquisadores da pesquisa com os dados do SUS é que a asma é capaz de gerar uma resposta imune no organismo, o que causaria dificuldades para a infecção e agravamento do coronavírus.
O que acontece é a baixa produção de citocinas inflamatórias no organismo de pessoas com asma. Essas citocinas são proteínas que aumentam a capacidade do organismo destruir células tumorais, vírus e bactérias. Isso gera uma resposta imune com ação das células de defesa (linfócitos) TCD4+Th2.
“A predominância da resposta Th2 é benéfica porque pode regular e diminuir o impacto da fase tardia da hiperinflamação, que é um ponto crítico em infecções respiratórias graves”, explica o professor Marson, que coordena o Laboratório de Biologia Celular e Molecular da USF.