Novo teste pode ser uma solução eficaz para mulheres com histórico de abortos ou que buscam engravidar após os 35 anos.
Aos 40 anos, Marina já havia passado por diferentes tentativas frustradas de engravidar. Após exames, ela descobriu que parte da dificuldade estava relacionada à qualidade dos seus óvulos. “Eu me sentia esgotada emocionalmente”, conta. Foi então que, orientada por seu médico, decidiu recorrer à fertilização in vitro (FIV) com o uso de um teste genético pré-implantacional — o PGT-A — que avalia a saúde cromossômica dos embriões antes da implantação.
Casos como o de Marina têm se tornado cada vez mais comuns. No Brasil, cresce o número de mulheres que optam por engravidar após os 35 anos — faixa etária em que há maior probabilidade de produzir embriões com o número incorreto de cromossomos, o que pode levar a dificuldades na concepção e ao aumento do risco de aborto espontâneo.
O que é o teste genético pré-implantacional (PGT-A)
De acordo com o ginecologista e especialista em reprodução humana Dr. Rodrigo Rosa, diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e sócio-fundador do Mater Lab, o PGT-A é um exame realizado em embriões formados por fertilização in vitro para avaliar o mapa cromossômico antes da transferência para o útero.
“O objetivo é identificar, na análise cromossômica dos embriões, se eles têm o número certo (23 pares) de cromossomos (euploides), que são embriões com maiores chances de nascimento, ou se contam com o número errado de cromossomos (aneuploides). Há ainda aqueles embriões chamados ‘mosaicos’, que apresentam algumas células normais e outras anormais”, explica o médico.
Esse tipo de análise permite selecionar embriões saudáveis, com maior potencial de desenvolvimento, o que pode reduzir o número de tentativas de FIV e o impacto emocional e financeiro do tratamento.
Novo estudo indica melhores resultados em mulheres acima dos 35
Um estudo inédito publicado no Journal of Clinical Medicine, conduzido por pesquisadores do King's College London, do King's College Hospital e do King's Fertility, trouxe evidências importantes sobre o tema, sendo o primeiro ensaio clínico randomizado controlado a focar exclusivamente em mulheres entre 35 e 42 anos, grupo com maior risco de produzir embriões com anormalidades cromossômicas.
O estudo acompanhou 100 mulheres submetidas a tratamento de fertilidade no King's Fertility. Metade das participantes fez o teste genético (grupo PGT-A) e a outra metade não (grupo controle).
“O trabalho mostrou que o teste PGT-A apresentou uma taxa cumulativa de nascidos vivos maior após até três transferências de embriões, com 72% no grupo PGT-A versus 52% no grupo controle. Mulheres no grupo PGT-A conseguiram engravidar em menos transferências, reduzindo o tempo até a concepção, um fator importante para mulheres em idade reprodutiva avançada”, completa o Dr. Rodrigo Rosa.
Esses resultados indicam que o uso direcionado do PGT-A pode melhorar a eficiência dos tratamentos de fertilidade, especialmente em casos de mulheres com idade reprodutiva mais avançada.
Um ponto interessante é que o estudo também considerou embriões mosaico, que possuem tanto células normais quanto anormais, algo ainda pouco explorado em pesquisas anteriores.
“O estudo também inovou ao incluir embriões mosaico, aqueles contendo células normais e anormais, que são frequentemente encontrados em fertilização in vitro, mas raramente incluídos em pesquisas”, diz o médico.
PGT-A não é para todos os casos, mas pode fazer diferença
Embora o PGT-A ainda não seja recomendado para todas as pacientes, os resultados indicam que o exame pode ser vantajoso em situações específicas, como em mulheres com mais de 35 anos, histórico de abortos recorrentes ou que desejam reduzir o número de ciclos de FIV.
“À medida que o número de mulheres que começam a constituir família após os 35 anos está aumentando, isso aumenta o risco de implantação malsucedida e abortos espontâneos, então o uso direcionado de PGT-A nessa faixa etária pode ajudar mais mulheres a ter filhos mais cedo, além de reduzir o impacto emocional de ciclos repetidos sem sucesso”, esclarece o Dr. Rodrigo Rosa.
O especialista reforça ainda que ensaios multicêntricos maiores são necessários para confirmar os resultados, mas os indícios já apontam para maior taxa de sucesso e redução do desgaste físico e emocional.
“Nos casos de mulheres com mais de 35 anos ou com abortos recorrentes, o custo do teste PGT-A é mais vantajoso do que ter que repetir as transferências até obter transferir o blastocisto euploide (aquele com maior chance de nascimento)”, finaliza o médico.
Um passo a mais rumo à maternidade segura
Para mulheres como Marina, o teste representou esperança renovada após anos de tentativas. Após passar pelo processo com acompanhamento médico e o uso do PGT-A, ela conseguiu engravidar de forma bem-sucedida.
“O mais importante foi entender que havia um motivo genético por trás das falhas anteriores”, conta. “Saber que eu estava transferindo um embrião saudável trouxe paz e confiança para continuar tentando.”
Fontes:
- Dr. Rodrigo Rosa – Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.
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