Tratamento precisa de medicamentos e amparo familiar para maior eficácia.
Luana Viard | 28 de Agosto de 2024 às 15:30
O vício em pornografia é um tema que tem ganhado destaque nas discussões sobre saúde mental e dependência. Na última semana, o influenciador digital Gustavo Tubarão abordou em suas redes sociais seu problema com o vício em pornografia.
O jovem de 24 anos revelou a seus mais de 11 milhões de seguidores no Instagram que havia passado quase um ano e meio sem acessar esse tipo de conteúdo, mas recentemente teve uma “recaída”.
A dependência de pornografia segue um mecanismo semelhante ao que causa o vício em drogas e álcool. No entanto, identificar e tratar o uso excessivo de pornografia é mais desafiador e requer apoio familiar para que a recuperação seja bem-sucedida.
É o que declara o psiquiatra Daniel Proença Feijó, que ocupa o cargo de secretário-geral do departamento de sexologia da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) ao site Folha de São Paulo.
"As dependências que antes nos preocupavam eram principalmente as químicas. Hoje, nossas preocupações se voltam para as dependências digitais, que estão se tornando cada vez mais comuns no Brasil, afetando tanto crianças quanto adultos", explica o profissional.
De acordo com Feijó, independentemente do tipo de vício, as mudanças nos neurotransmissores do cérebro relacionados ao prazer, como dopamina e serotonina, são bastante semelhantes.
Quando o sistema nervoso central detecta que o corpo está recebendo quantidades elevadas de dopamina e serotonina através de estímulos externos, como drogas ou pornografia, ele diminui a produção natural desses neurotransmissores.
Com a redução na produção de neurotransmissores, a pessoa começa a buscar mais intensamente esses estímulos externos para compensar a falta de prazer.
O cérebro então se ajusta a essa nova condição por meio de um processo conhecido como neuroplasticidade. A partir desse ponto, inicia-se um ciclo vicioso, centrado na busca por prazer e gratificação instantânea.
Embora todos os vícios compartilhem um mecanismo neurobiológico semelhante, a dependência de pornografia é mais difícil de identificar. Um dos principais obstáculos é o estigma em torno do tema, pois muitos que sofrem desse vício tendem a ocultar seu problema e demoram a procurar ajuda, explica o médico.
"O dependente em pornografia tem muita vergonha de tocar naquele assunto. É difícil ele chegar e dizer 'eu tenho um vício em pornografia, meus celulares são cheios de fotos, eu vivo o dia a dia olhando sites pornográficos'. Se torna algo aterrorizante para ele", esclarece Daniel.
Além disso, identificar o vício em pornografia é mais complicado devido à ausência de critérios objetivos que definam um nível aceitável de consumo.
O crucial é perceber quando esse comportamento se torna excessivo e começa a impactar negativamente a vida cotidiana. No entanto, superar o estigma associado a discutir o transtorno é um passo essencial para lidar com a questão.
Uma outra distinção entre o vício em pornografia e o vício em drogas é o tratamento. Enquanto as drogas são restritas e ilegais, a pornografia é amplamente acessível. O conteúdo está disponível a qualquer hora com apenas um clique, sem necessidade de deslocamento ou custos extras.
"As drogas são proibidas, então o paciente tem medo de ser preso. Já a pornografia é uma dependência que não tem proibição do consumo", afirma o psiquiatra. "Tem paciente que, durante a consulta psiquiátrica, quer abrir o celular na frente [do médico] para ver alguma coisa".
Uma das primeiras abordagens para lidar com essa situação é restringir e monitorar o acesso à pornografia, utilizando ferramentas que bloqueiam sites com esse tipo de conteúdo. Além disso, o especialista sugere manter o paciente ocupado a maior parte do tempo com atividades como hobbies, exercícios físicos, trabalho ou estudos.
O tratamento da dependência de pornografia frequentemente envolve o uso de medicamentos que diminuem o desejo sexual. Um exemplo é a paroxetina, um inibidor seletivo da serotonina, que reduz significativamente o apetite sexual do paciente. A neuroplasticidade cerebral é crucial durante essa fase do tratamento.
Feijó esclarece que o cérebro de um indivíduo com vício em pornografia precisa passar por um processo de reeducação para deixar de depender dos estímulos externos que antes proporcionavam prazer. "O cérebro faz uma nova formação, uma reeducação daquilo que ele precisa", afirma o especialista.
A combinação de um diagnóstico difícil, a necessidade de apoio contínuo e a importância da prevenção e educação destaca a complexidade deste problema e a necessidade de uma abordagem abrangente para a recuperação. É importante buscar ajuda e perder a vergonha de tocar em assuntos como esse.
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