Saiba mais sobre o que é anorexia nervosa e como identificar os sinais do distúrbio alimentar com mais de 150 mil casos por ano no Brasil.
Mariana Valle | 22 de Setembro de 2021 às 18:00
A anorexia nervosa afeta milhares de pessoas todo ano no Brasil e pode ser fatal. Em um mundopreocupado excessivamente com o peso corporal e com a imagem, algumas pessoas acabam adquirindo certos distúrbios. A bulimia e anorexia nervosa são distúrbios alimentares caracterizados por uma visão distorcida do próprio corpo e obsessão pelo peso. Além disso, a preocupação excessiva com alimentação e exercícios físicos também fazem parte dos sinais da presença desse transtorno psiquiátrico.
Diante desse quadro, quem sofre com essas doenças busca formas de perder peso mesmo estando em seu peso ideal ou até mesmo abaixo da taxa indicada. Assim, ela se torna excessivamente magra, mas permanece acreditando estar obesa. Para evitar o ganho de peso ou continuar emagrecendo, as pessoas afetadas pela anorexia costumam tomar medidas drásticas, muitas vezes colocando a própria saúde em risco.
Apesar do crescente número de homens com anorexia nervosa, jovens mulheres ainda são o maior grupo afetado. Os sintomas costumam surgir por volta da puberdade, quando há grande variação de hormônios e mudanças corporais. Nessa fase, a preocupação com o corpo pode agravar-se, tomando outra proporção e se tornar um distúrbio. Dessa forma, as pessoas afetadas tendem a fazer execícios físicos excessivos, jejuar, vomitar e, até mesmo, tomar laxantes e diuréticos para perder peso de forma mais rápida. Os problemas físicos causados pela anorexia nervosa se assemelham aos da bulimia, podendo ser facilmente confundidos. Dessa forma, veja a seguir as principais diferenças entre os dois distúrbios.
Apesar de geralmente relacionados, os dois distúrbios alimentares possuem algumas diferenças, ligadas principalmente aos sintomas. Os dois transtornos estão, no entanto, ligados ao ganho ou perda de peso do corporal.
Quem tem bulimia, por exemplo, nem sempre apresenta perda de peso. Entretanto, bulímicos tendem à compulsão alimentar, que vem seguida da culpa latente. Assim, muitas pessoas recorrem ao uso de remédios como laxantes ou outras soluções para compensar o que ingeriram em excesso. Essa forma de limpeza gástrica pode ocasionar problemas graves no aparelho digestivo.
Já a anorexia está ligada à perda de peso excessiva, muitas vezes agressiva e em pouquíssimo tempo, o que pode causar problemas físicos ainda mais graves. A desnutrição é a principal causa da morte de pessoas anoréxicas, já que tendem a reduzir significativamente a comida ingerida ou, em muitos casos, param de comer em decorrência da dismorfia corporal. A desidratação também é muito comum, já que tudo que é ingerido é um problema na briga de um anoréxico contra o espelho e a balança.
Além disso, a bulimia é geralmente diagnosticada em pessoas entre 16 e 25 anos. A anorexia, entretanto, afeta geralmente uma faixa etária mais jovem de 12 a 18 anos movidas pelo impulso de alcançar o “corpo ideal” na fase da adolescência. Vale ressaltar que, apesar dos jovens serem os mais afetados, ainda assim, existem muitos casos entre os adultos.
A anorexia nervosa tem uma elevadíssima taxa de mortalidade: 20% da população mundial que foi diagnosticada com a doença veio a óbito. O índice supera até mesmo as mortes por câncer de mama.
Estima-se que no Brasil bulimia e anorexia afetem 100.000 adolescentes, dos quais 90% são do sexo feminino. Dados alarmantes de uma juventude que maltrata a própria saúde em virtude de uma sociedade que hipervaloriza a magreza como padrão de beleza.
Dentre as doenças psiquiátricas, a anorexia é considerada a maior causadora de mortes, considerada assim um problema crescente no Brasil e no mundo. Especialistas acreditam que entre 1% e 10% da população mundial sofra com o distúrbio. Ainda de acordo com eles, a prevalência dos chamados transtornos alimentares no sexo masculino ainda não está bem estabelecida e, segundo alguns autores da área, é subestimada, pois os homens continuam sendo excluídos de muitos estudos pelo baixo número de casos.
Os sintomas estão relacionados à busca incessante pelo baixo peso e à desnutrição causada por ela, sintomas que nem sempre são fáceis de serem detectados.
Muitas pessoas afetadas pelo problema conseguem passar muitos meses – ou até mesmo anos – sem que ninguém ao redor, família, colegas de trabalho e amigos, perceba o que está acontecendo. Por isso é importante reconhecer os principais sinais associados à doença e ficar atento às pessoas suspeitas ou em risco de desenvolver o problema.
A doença costuma se iniciar ainda na adolescência, mas também pode afetar crianças, pessoas na meia-idade ou além. Um estudo apresentado no 9º Congresso Nacional de Organizações de Idosos da Espanha diz que o índice de mulheres europeias com mais de 60 anos com anorexia passou de 1,8% a 5% nos últimos 10 anos.
Ainda não se sabe exatamente o que leva algumas pessoas a desenvolver anorexia, mas assim como ocorre com outras doenças, é provável que exista uma combinação de vários fatores (psicológicos, biológicos e sócio-culturais).
Um exemplo: mulheres jovens com uma irmã ou mãe sofrendo distúrbios alimentares possuem um maior risco, sugerindo um possível fator genético para o problema. Pessoas com anorexia também possuem certas características emocionais e psicológicas que contribuem para o desenvolvimento da doença como baixa autoestima ou distúrbios da ansiedade.
Certas situações estão associadas a um risco maior para o desenvolvimento de anorexia. As principais incluem:
Dieta: pessoas que estão perdendo peso são elogiadas pelos amigos sobre como estão ficando mais bonitas com o emagrecimento. Em extremos, isto pode levar a pessoa a perder peso em excesso.
Ganho de peso: ao ganhar peso, a pessoa pode ser criticada ou ridicularizada. Como resposta, ela acaba desencadeando um processo de anorexia.
Puberdade: os adolescentes enfrentam muitas dificuldades adaptando-se a todas as mudanças que ocorrem neste período. A sensibilidade à flor da pele, as críticas e cobranças e outros fatores de cunho emocional podem levar o adolescente à anorexia.
Mudanças: para uma nova escola, casa ou emprego, o término de uma relação amorosa, a morte ou a doença de um ente querido e outras situações podem causar estresse emocional e resultar na anorexia.
Mídia: a televisão e as revistas de moda freqüentemente supervalorizam a magreza como uma forma de padrão estético. Infelizmente, é difícil determinar até que ponto a mídia reflete ou cria valores presentes na sociedade. Em todo caso, a exposição a estas imagens pode levar meninas e jovens mulheres a acreditar que, quanto mais magras, mais sucesso e popularidade terão.
É importante ter em mente que a anorexia nervosa pode ser fatal. Dessa forma, de acordo com dados do Ministério da Saúde, o índice de mortalidade atinge entre 15% e 20% dos casos. Além disso, desnutrição progressiva coloca o indivíduo afetado à mercê de uma infinidade de doenças.
Toda e qualquer pessoa com suspeita de anorexia deve ser levada para avaliação médica o quanto antes. Ainda assim, a doença também causa danos severos à saúde mental, por isso não é apenas o corpo que deve ser atendido imediatamente: o paciente deve ser analisado também quanto ao seu bem estar emocional e mental.
A anorexia nervosa muitas vezes está associada a outros transtornos mentais como a depressão, ansiedade e TOC. Por isso, o diagnóstico preciso de um profissional é fundamental para dar início ao tratamento adequado.
O tratamento depende da avaliação do risco de morte. Nesse sentido, pessoas muito desnutridas devem ser levadas a um pronto-socorro para internação, hidratação endovenosa e outras medidas de suporte de urgência. A atuação da rede de apoio do anoréxico é essencial nesse momento.
Nos casos sem risco imediato, o tratamento é feito com a ajuda de médicos, psicólogos, psiquiatras e nutricionistas especializados no tratamento de distúrbios da alimentação. Ademais, a internação passa a ser uma opção a partir do momento que o paciente coloca a sua vida em risco e não tem mais controle sobre si.
Existem também clínicas que oferecem atendimento especializado para pacientes sofrendo de distúrbios alimentares. Dessa forma, o paciente pode se recuperar internado em um ambiente diferente daquele que o fez adoecer.
Não existe uma medicação única para tratamento da anorexia nervosa. Porém, alguns médicos podem prescrever o uso de antidepressivos e outras medicações psiquiátricas que ajudem a aliviar a depressão e a ansiedade.
Um dos maiores desafios ao tratar a anorexia é o fato da pessoa não aceitar o tratamento ou não enxergar sua necessidade. Até mesmo para aqueles que desejam o tratamento, a anorexia é uma batalha difícil e pode durar toda a vida. Os sintomas podem desaparecer, mas a pessoa afetada permanecerá vulnerável. Assim, poderá sofrer novas ondas da doença com o surgimento de gatilhos mentais ou nos períodos de maior estresse.