Phd em obesidade e cirurgia bariátrica, o médico Cid Pitombo vê com preocupação o avanço da obesidade no Brasil. Confira!
Julia Monsores | 12 de Setembro de 2022 às 17:00
Em 2013, a Organização Mundial de Saúde (OMS) enquadrou a obesidade como uma doença. Inclusive, para muitos especialistas, já estamos vivendo uma epidemia da obesidade. Segundo estatísticas da OMS, há cerca de 350 milhões de obesos no mundo. Em termos globais, cerca de 2,5 milhões de mortes por ano podem ser atribuídas a esse quadro.
Além disso, estima-se que quase 18 milhões de crianças com menos de 5 anos são obesas.
PhD em obesidade e cirurgia bariátrica, o médico Cid Pitombo vê com preocupação o avanço da obesidade e explica que muitas das doenças relacionadas a ela surgem com a idade mais avançada e são, muitas vezes, irreversíveis.
“A obesidade está muito relacionada a diversas doenças crônicas. O maior risco é para o diabetes mellitus. No Brasil, a prevalência de diabetes em adultos com peso normal/baixo é de 5,4%, e na população com obesidade é mais que o dobro (14,0%). Além disso, a chance é 2,4 vezes maior para homens e 1,8 vezes maior para mulheres.
Já a possibilidade de ter o diagnóstico de hipertensão é 2,8 vezes maior entre os homens e 2,4 vezes maior entre as mulheres obesas. E, segundo a OMS, 13 em cada 100 casos de câncer, no nosso país, são atribuídos ao sobrepeso e à obesidade”, explica Dr. Cid Pitombo.
Segundo o médico, é muito comum os jovens dizerem: quero comer e ser feliz. Mas também, para ele, que já operou mais de 5.000 obesos, também era muito comum ver a tristeza e o desespero de quem adoecia. Além disso, muitos ficam depressivos quando se encontram cheios de limitações por motivos de saúde.
“Ser gordo não significa ter uma doença, mas há uma chance bem maior do que num indivíduo mais magro de a pessoa desenvolver alguma doença no futuro, e isso é o que deve ser evitado. A Covid-19 atingiu em cheio os obesos e auxiliar no emagrecimento da população é um caso de saúde pública.
Cerca de 60% da população brasileira já está acima do peso, enquanto 20% já é considerada obesa. No futuro, nossos sistemas de saúde não darão conta de tanta gente doente. As consideradas primeiras comorbidades na Covid-19, que são as doenças cardiovasculares, estão diretamente ligadas ao acúmulo de gorduras nas artérias.”
Pitombo acrescenta que não se pode minimizar o problema, ou seja, achar que as pessoas conseguem resolver sozinhas a obesidade.
“O obeso só chega ao acúmulo excessivo de peso porque tem disfunções em seu organismo que o levam a sofrer vários processos juntos, que culminam na maior retenção de calorias. O aumento de apetite e prazer com a alimentação ocorre, sim, em muitas pessoas, mas nem todo obeso come muito. Existem fatores biológicos, genéticos, ambientais, sociais e psicológicos atuando na base do problema. Dessa forma, essas pessoas precisam de ajuda para emagrecer e não de preconceito, colocando-o como culpado de sua situação”, explica.
Sobre o movimento de aceitação do corpo, conhecido como body positive, Pitombo acrescenta: “apoio plenamente a ideia de que os obesos precisam se amar, amar seus corpos, até mesmo para quererem se cuidar com o esforço necessário. Mas não podem desistir de emagrecer porque, na juventude, estão com a saúde bem controlada. Emagrecer é difícil e as pessoas devem abandonar a ideia de que podem conviver com a obesidade, pois ela está ligada a muitas doenças”, explica.
O médico separou as 15 principais doenças que acometem mais os obesos do que indivíduos com peso normal. Confira quais são:
Estar acima do peso pode aumentar muito o risco de um derrame cerebral, quando o sangue para de fluir para o cérebro. Saiba mais sobre AVC aqui.
A obesidade também pode ter um efeito profundo na saúde mental. Isso inclui um risco maior de depressão, baixa autoestima e problemas com a imagem corporal.
A obesidade pode provocar colesterol alto, diabetes, pressão alta e todos esses problemas podem levar a complicações cardíacas, entre elas o infarto.
A obesidade pode deixar as vias respiratórias obstruídas, pois o excesso de gordura corporal fica acumulado nos órgãos, como na parede da traqueia e nos músculos da língua, favorecendo a obstrução das vias aéreas.
A apneia do sono é constatada em 70% dos obesos. Em obesos mórbidos, por exemplo, a prevalência pode chegar a 80%. A doença pode ocorrer em qualquer idade, mas está presente principalmente em homens obesos, na faixa de idade entre 40 e 60 anos.
A gordura visceral que se instala no fígado pode levar a problemas e até mesmo a uma falência do órgão.
Há alto risco do refluxo gástrico, quando ácidos do estômago voltam para o esôfago, ocorrerem em pessoas com obesidade.
Segundo a OMS, 13 em cada 100 casos de câncer no Brasil são atribuídos ao sobrepeso e à obesidade. Os mais comuns, que podem ser relacionados ao excesso de peso, são os de fígado, rins, colo-retal e pâncreas. Mas até o câncer de mama pode ter essa relação.
Obesos costumam apresentar erupções ou dermatites, sobretudo em dobras ou vincos da pele.
O excesso de peso pode provocar a formação de pedras na vesícula, que demandam uma cirurgia para retirar.
A obesidade pode tornar o corpo resistente à insulina e provocar o acúmulo de glicose (açúcar) no sangue, aumentando o risco de desenvolvimento do diabetes. A população obesa tem o dobro de incidência de diabetes do que os demais.
Uma das possíveis evoluções da hipertensão e do diabetes é a falência renal, isto é, os rins param de funcionar e a pessoa precisa fazer hemodiálise para sobreviver.
A obesidade e a falta de exercícios podem levar ao enfraquecimento e à perda de massa óssea e muscular. Os rins afetados também podem prejudicar a absorção de cálcio, e as fraturas podem ocorrer.
A obesidade pode prejudicar a capacidade de ovular e engravidar, assim como pode levar a mais problemas de gestação, como a pressão alta que pode provocar pré-eclâmpsia ou eclâmpsia.
O excesso de peso aumenta a pressão nas articulações, podendo culminar em dor e rigidez.
O coração é um órgão composto por músculos, sendo o responsável pelo bombeamento de sangue para todo o corpo. A hipertrofia ventricular acontece quando o músculo do coração aumenta muito de tamanho, o que pode resultar em parada cardíaca repentina.