Todos conhecemos alguma pessoa idosa que sofreu uma queda e uma lesão. Confira algumas dicas para aprender a evitar as quedas (ou diminuir seus danos).
Todos conhecemos alguma pessoa idosa que sofreu quedas e lesões, seja uma entorse de tornozelo, seja coisa pior. Talvez o pai ou a mãe tenha escorregado quando se abaixou para acariciar um cachorro. Ou o avô tropeçou no meio-fio e lá ficou, pedindo ajuda. Ou talvez tenha sido você. Agora, com a maior parte da geração da década de 1950 chegando aos 70 anos, com as pessoas vivendo mais do que nunca e o serviço de saúde já forçado ao máximo, o problema promete piorar.
Os governos estão correndo atrás. Em 2017, quase 20% da população da Europa tinha 60 anos ou mais, número que, como se espera, deve subir para 35% em 2050. Mas a União Europeia baseia sua estatística de idosos e quedas em dados recolhidos entre 2010 e 2012. E o relatório mais recente da Organização Mundial da Saúde sobre o tema já tem 12 anos. Na época, descobriu-se que a cada ano entre 28% e 35% das pessoas com mais de 65 anos caem; no caso das pessoas com mais de 70, a probabilidade aumenta para 32% a 42%, dependendo de onde moram. No Brasil, um estudo de 2018, financiado pelos ministérios da Saúde, da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, mostrou que 25% dos idosos já sofreram quedas.
O número de quedas que resultaram em mortes disparou
Programas como esse da Holanda ajudam os idosos a se manter firmes. Na França, um projeto-piloto chamado “Pare à chute”, ou seja, “Prepare-se para a queda”, constatou que, em instituições da região de Paris, o número de idosos em risco que conseguiram não cair entre fevereiro de 2016 e abril de 2017 aumentou de 91,6% para 94,6%. E, no Reino Unido, a entidade Age UK tem um programa de prevenção de quedas em seu site, com dicas como exercícios e lembretes para consultar o oftalmologista.
Mas, como há cada vez mais idosos, estudos recentes também mostram que o número de quedas que resultaram em mortes disparou. Pesquisadores da Universidade Erasmo de Rotterdam, por exemplo, descobriram que o número total de pessoas dos Países Baixos com mais de 80 anos que morreram depois de uma queda subiu de 391 em 2000 para 2.501 em 2016. E um estudo americano constatou que, entre 2000 e 2016, o número de adultos com 75 anos ou mais que morreram nos EUA depois de cair mais do que dobrou: passou de quase 52 por 100 mil indivíduos para 122.
Fatores agravantes
O professor Steve Robinovitch, da Escola de Ciência da Engenharia da Universidade Simon Fraser, na Colúmbia Britânica, no Canadá, observa que o envelhecimento da população significa mais gente com fatores agravantes. Como perda óssea e muscular, demência e catarata (a opacificação da lente do olho que ocorre com a idade e prejudica a visão).
Vários remédios afetam o equilíbrio, como os que tratam ansiedade, insônia, alergia e dor. Os pés podem ficar deformados com a artrite. E talvez haja dificuldade para esticar quadris e joelhos; articulações fundamentais para andar de forma adequada – tudo isso provoca instabilidade e muda o modo de andar.
“Os idosos vão cair”, diz o professor Robinovitch. “Realmente precisamos buscar maneiras de minimizar o risco de lesões. É como dirigir: há limite de velocidade, air bags e lombadas.”
Dicas para evitar quedas (ou diminuir os danos)
Algumas sugestões para prevenir ou mitigar as quedas são puro bom senso, como comer direito e não usar chinelos de dedo nem salto alto. Os protetores de quadril, em versões adesivas ou como roupa de baixo e com cerca de 18 milímetros de acolchoamento de cada lado, são recomendados mas não populares – porque deixam a pessoa mais gorda.
Quanto às quedas em si, o site da Associação Americana de Aposentados oferece dicas de uma dublê profissional para cair corretamente: mantenha cotovelos e joelhos dobrados, proteja a cabeça, não tente impedir a queda e, se puder, caia sobre as partes “carnudas” do corpo, como as nádegas.
Projetos futuristas para evitar quedas
O professor Robinovitch observa que estão sendo elaborados projetos futuristas como os exoesqueletos. Esses contêm computadores e programas que percebem quando motores minúsculos precisam ativar os “músculos” elétricos que imitam os músculos humanos e as garras que atuam como tendões. Sua equipe terminou recentemente um estudo clínico de quatro anos em 150 quartos de dormir randomizados em casas de repouso para idosos a fim de examinar a eficácia do piso “moldável” ou macio, no qual, teoricamente, é possível cair com pouco ou nenhum dano. A meta era encontrar o equilíbrio entre a maciez e a capacidade do piso de aguentar cadeiras de rodas e outros equipamentos pesados.
“Usamos uma subcamada de borracha de 25 milímetros de espessura sob o vinil hospitalar”, diz ele. “No laboratório, quando simulamos quedas sobre o quadril e a cabeça, o piso reduziu 35% o impacto sobre o quadril e 70% sobre a cabeça. Do ponto de vista da física, faz sentido.”
Outros fatores que ajudam a mitigar as lesões das quedas são mais intangíveis. Por exemplo, embora Noruega, Suécia, Dinamarca e Finlândia estejam entre os dez melhores países do mundo para os idosos, com excelente serviço social e assistência médica gratuita, um estudo de 2017 sobre a variação das quedas de idosos em 12 países europeus constatou que os idosos da Escandinávia sofreram o maior número de fraturas ósseas por causa de quedas.
A importância do sol
Carmen Franse, pesquisadora de pós-doutorado, especulou que a deficiência de vitamina D pode ser a causa subjacente. “É possível, porque eles recebem muito menos sol no inverno”, explica ela.
Ainda assim, os especialistas afirmam que a maneira mais eficaz de prevenir quedas e cair melhor são os programas de exercícios específicos. Principalmente quando incluem agilidade, repetições com pesos e trabalho de equilíbrio. Converse com seu médico e peça a indicação de um fisioterapeuta que tenha experiência com programas desse tipo.
Johanna Gustavsson, que pesquisa idosos e quedas como parte de seu trabalho como professora do Departamento de Ciências da Vida e do Ambiente da Universidade Karlstad, na Suécia, vai mais além: “Junto com os exercícios, acho que o mínimo possível de mudança ambiental é o caminho.”
E continua: “É comum os membros da família acharem que tornam a casa mais segura para os entes queridos se mudarem ou removerem móveis ou tapetes, considerados um risco de quedas. Mas isso altera o ambiente conhecido, o que cria mais problemas do que resolve.”
Se você achar que as mudanças são necessárias, ela enfatiza que é importante perguntar ao idoso de que mudanças gostaria e quais pode aceitar.
por Lisa Fitterman