Descubra como o diabetes pode afetar sua saúde de maneiras inesperadas e a importância do diagnóstico precoce.
O Dia Mundial do Diabetes, celebrado em 14 de novembro, costuma reforçar a importância do diagnóstico precoce e do controle da doença. Mas, você sabia que além das consequências já amplamente conhecidas como alterações na visão, no coração e nos rins, existem outras complicações menos comentadas, mas igualmente importantes, que podem surgir quando a glicemia permanece alta por muito tempo?
Antes de entender cada uma delas, vale relembrar o básico: o diabetes engloba condições nas quais o corpo não utiliza a insulina adequadamente ou não produz esse hormônio em quantidade suficiente. A insulina, fabricada pelo pâncreas, funciona como uma “chave” que permite a entrada da glicose nas células. Quando esse mecanismo falha, a glicose se acumula no sangue, causando o quadro conhecido como hiperglicemia.
Esse excesso de açúcar circulando altera processos importantes do organismo e, se não for controlado, pode afetar desde a pele até grandes vasos sanguíneos. “Os impactos vão muito além do que as pessoas imaginam”, explica a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
A seguir, quatro complicações pouco conhecidas que merecem atenção.
1. Cicatrização lenta e risco maior de infecções
Cortes que custam a fechar, feridas que voltam a abrir ou cirurgias com recuperação mais difícil podem ser um sinal de que a glicemia está descontrolada. Isso porque o excesso de açúcar reage com proteínas, lipídios e até com o DNA, alterando seu funcionamento.
De acordo com a cirurgiã plástica Dra. Beatriz Lassance, essa “bagunça molecular” prejudica a resposta natural do corpo diante de um trauma. “O processo de cicatrização depende de uma verdadeira orquestra de células e reações químicas. No diabetes mal controlado, essa harmonia se perde: as células de defesa ficam comprometidas, o colágeno se forma de maneira irregular e a pele se reorganiza mais lentamente”, explica.
O resultado é um risco maior de infecção, fechamento inadequado das feridas e recuperação prolongada. A boa notícia? Quando o diabetes está bem controlado, a cicatrização tende a ocorrer tão bem quanto em pessoas não diabéticas.
2. Problemas vasculares que podem atingir olhos, coração e pernas
Outro efeito silencioso da glicose alta é o dano direto às paredes dos vasos sanguíneos. Existem dois processos principais envolvidos: aumento do colesterol acumulado (aterosclerose) e glicação proteica (quando o açúcar provoca inflamação dentro dos vasos).
Esse desgaste pode afetar tanto vasos muito finos quanto artérias de grande calibre, explica a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita. Segundo ela, a microangiopatia (dano aos vasos pequenos) é uma das responsáveis pela retinopatia diabética, que pode evoluir para perda de visão. Já a macroangiopatia (em vasos maiores) está associada a infarto, derrame e à má circulação nas pernas, aumentando riscos de feridas crônicas e até amputações.
Apesar de assustadoras, essas complicações podem ser prevenidas. “Manter a glicemia controlada é capaz de reduzir significativamente o impacto da doença nos vasos”, reforça a especialista.
3. Alterações na fertilidade e complicações na gestação
A relação entre diabetes e saúde reprodutiva costuma ser pouco comentada, mas merece atenção. De acordo com o ginecologista e especialista em reprodução humana Dr. Rodrigo Rosa, quando a doença está descompensada, ela pode:
- reduzir a fertilidade;
- aumentar o risco de aborto;
- elevar a probabilidade de pré-eclâmpsia;
- favorecer parto prematuro;
- e elevar o risco de macrossomia (bebês com mais de 4 kg);
- o bebê também pode nascer com episódios de hipoglicemia.
Mas o cenário muda quando o diabetes está sob controle. “Pacientes com hemoglobina glicada dentro da faixa adequada, seja usando medicamentos ou insulina, têm risco muito menor”, explica o médico. Ele lembra ainda que as causas do diabetes importam: quando está relacionado a hábitos de vida e obesidade, há mais fatores envolvidos que afetam a fertilidade.
4. Complicações na saúde bucal que podem afetar o corpo inteiro
A boca também sente os efeitos do diabetes e, muitas vezes, é um dos primeiros sinais de descontrole glicêmico. Pessoas com a doença têm maior predisposição a gengivite, periodontite, sangramento e infecções orais.
Segundo o cirurgião-dentista Dr. Mário Sérgio Giorgi, esses problemas não ficam restritos à boca. “As doenças gengivais podem alterar o nível glicêmico, dificultar a cicatrização e aumentar o risco de processos infecciosos”, destaca. É um ciclo perigoso: a glicemia alta favorece inflamações na boca, e essas inflamações, por sua vez, dificultam o controle da glicemia.
A prevenção exige acompanhamento profissional regular e uma rotina de higiene individualizada, incluindo:
- escovas de cerdas macias e cabeça pequena;
- escovas interdentais;
- técnicas específicas para limpar áreas difíceis;
- cremes dentais enzimáticos, menos abrasivos;
- visitas preventivas mais frequentes ao dentista.
Muitas dessas complicações listadas acima são evitáveis quando o diagnóstico é precoce e o tratamento é levado a sério. Controlar a glicemia, manter hábitos saudáveis e fazer consultas regulares com especialistas são medidas que reduzem drasticamente os riscos. O diabetes é uma condição crônica, sim. Mas também é uma condição controlável, e conhecer as possíveis complicações é um passo essencial para manter a qualidade de vida.