Aconchego pode ser uma massagem nos pés ou nas costas, ficar de mãos dadas, deitar a cabeça no peito de outra pessoa e dormir de conchinha.
Rayane Santos | 4 de Setembro de 2021 às 14:00
Em consequência das precauções da Covid-19, muitos sofrem de uma epidemia secundária: gente que precisa muito de um abraço. Cinquenta e quatro por cento das 40 mil pessoas que participaram da pesquisa Touch Test da BBC, realizada em 112 países, disseram não receber interação física suficiente: um braço no ombro, um toque solidário ou um longo aconchego.
E isso foi antes do começo da pandemia. Em abril de 2020, quando os lockdowns da Covid entravam em vigor, esse número subiu para 60%, de acordo com um estudo publicado na revista Medical Research Archives, da Sociedade Europeia de Medicina. O problema ocorria quer a pessoa morasse sozinha, quer não. Os profissionais de saúde deram nome a essa doença que afeta uma parte tão grande da sociedade: fome de toque.
“Nascemos querendo aconchego e nunca deixamos de querer”, diz James Cordova, professor de Psicologia e psicólogo clínico da Universidade Clark, perto de Boston. Aconchego pode ser uma massagem nos pés ou nas costas, ficar de mãos dadas, deitar a cabeça no peito de outra pessoa. E também sentar-se no colo ou lado a lado no sofá, com as pernas se tocando, dormir de conchinha e outros tipos de toque amoroso, como os abraços.
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É claro que não é para todo mundo. Algumas pessoas não se sentem bem quando tocadas, embora quase 90% dos participantes do Touch Test dissessem gostar de afeto físico dos parceiros e 79% afirmassem que gostavam de ser tocados por amigos. Esse instinto de buscar o toque humano é mais poderoso do que se pensa.
“O aconchego aumenta o nível de oxitocina, o hormônio da união, e reduz o nível de cortisol, o hormônio do estresse”, diz a Dra. Lina Velikova, imunologista e professora assistente da Universidade de Sófia, na Bulgária. Os mesmos hormônios afetam o sistema cardiovascular, o sono e até a saúde mental.
Cordova acrescenta: “O aconchego ativa o sistema nervoso parassimpático, traz sentimentos de calma e tranquilidade e reduz os sentimentos de ansiedade e tristeza.” A pressão arterial costuma estar ligada ao estresse, e tudo que reduz o estresse pode baixá-la. Além disso, a oxitocina tem efeito protetor sobre o coração.
As pessoas que recebem abraços regularmente têm menos probabilidade de adoecer quando expostas ao vírus do resfriado do que as que não recebem afeto físico, de acordo com uma pesquisa publicada na revista Psychological Science.
Um estudo publicado em 2018 na revista Proceedings of the National Academy of Sciences constatou que o ato de pegar como consolo a mão de uma pessoa querida diminui a dor, principalmente quando a pessoa tocada é alguém muito íntimo. “Até um pequeno contato físico pode fazer bem aos dois”, diz Sabrina Romanoff, psicóloga clínica no Lenox Hill Hospital, em Nova York.
Mais de 60% dos que responderam à pesquisa Touch Test disseram que um abraço do parceiro antes de dormir tinha efeito positivo sobre o sono, graças à oxitocina liberada, explica a Dra. Velikova. O abraço também ajuda a digestão e permite um sono mais repousante.
Além de se concentrar somente no parceiro, em amigos íntimos, filhos e netos – as crianças, é claro, adoram um aconchego –, você pode ir além dos seres humanos. Os animais de estimação são bons de aconchego. Há uma razão para a terapia com animais existir: acariciar e amar os bichos faz a gente se sentir melhor.
Cordova explica: “Acho francamente que o aconchego deveria ser uma das receitas mais básicas de desenvolvimento humano.”