Metade das pessoas que sofrem infarto nem mesmo tem colesterol elevado. O problema é causado por uma cascata de eventos mais complexos.
Elen Ribera | 2 de Junho de 2020 às 20:00
Apenas metade das pessoas que sofrem infarto tem colesterol alto. Isso não significa que suas taxas de colesterol não sejam importantes – elas são. Mas, claramente, o colesterol não é toda a história.
Os cientistas identificaram outras questões de saúde que desempenham papel importante se seu coração continua a bater ou se um dia você vai ser levado às pressas para a emergência de um hospital.
Algumas das questões funcionam atreladas ao colesterol para aumentar esse risco, enquanto outras causam problemas por si sós. Mesmo que seu colesterol seja elevado, concentrar-se em reduzi-lo, sem prestar atenção às demais questões de saúde, pode deixá-lo – e a seu coração – em perigo.
Seu médico deve solicitar um exame de colesterol que inclua contagens do HDL (o colesterol “bom”) , do LDL (o colesterol “ruim”) e dos triglicerídios. (Se seu colesterol estiver alto, você pode precisar de exames anuais.)
A hipertensão arterial não é um problema cientificamente novo. Talvez seja esse o motivo por que as pessoas em geral subestimem sua gravidade. Ou talvez elas não se deem conta exatamente de como a pressão alta prejudica o coração.
Pense em quando você estende a mangueira do jardim: se bloquear a extremidade da mangueira parcialmente com o polegar, ela inflará e a água vai espirrar para fora em torno do dedo.
Acrescente um bico de pulverização e, se não tomar cuidado, você aumenta a pressão o suficiente para arrancar a sujeira da mobília do jardim ou a pintura das paredes externas de sua casa que está descascando. E tudo o que fez nos dois casos foi estreitar a abertura pela qual a água deve passar.
O sangue é bombeado por meio delas desde o coração e corre pelo corpo, antes de voltar pelas veias para o coração e os pulmões, a fim de colher oxigênio e ser bombeado para fora. Mas, quando a pressão arterial sobe por qualquer razão – como estreitamento das artérias –, o sangue, que não consegue se espremer para fora pela extremidade da “mangueira”, é forçado para cima contra as paredes da artéria com força cada vez maior.
Com o tempo, a pressão pode criar protuberâncias em partes fracas das paredes das artérias, forçando o corpo a fazer reparos que as enrijecem e reduzem a sua flexibilidade. E, ainda, como o sangue sob pressão dispara através das artérias, pode soltar placas e detritos, que talvez se alojem em passagens estreitadas, bloqueando o fluxo de sangue para o coração e desencadeando um infarto.
Mesmo se a pressão alta não conduzir a um infarto, ela obriga o coração a trabalhar mais para fazer o sangue passar pelo sistema circulatório. Isso sobrecarrega o músculo cardíaco, fazendo com que o coração aumente de tamanho e se enfraqueça, e, por fim, venha a falhar.
Tudo isso ajuda a explicar por que você não consegue chegar perto de um consultório médico sem que alguém ajuste um aparelho de pressão em seu braço. A pressão alta – hipertensão arterial – é o risco cardíaco mais fácil de se diagnosticar e tratar.
No último século, essa simples medida ajudou a identificar pessoas cujo coração poderia traí-las a qualquer momento. A Organização Mundial da Saúde estima que, em qualquer época determinada, 600 milhões de pessoas com pressão alta estejam sob risco de sofrer um infarto.
O risco aumenta conforme a pessoa envelhece: nos países desenvolvidos, o cidadão comum de meia-idade tem uma chance de 90% de desenvolver pressão alta em algum momento da vida. Por que a pressão arterial sobe e permanece elevada ainda é um certo mistério.
Ganhar peso pode aumentá-la. Assim como também o exercício físico. Mas essa atividade é boa para você, desde que a execute regularmente. Fazer a pressão arterial subir e depois deixá-la cair parece que ajuda a criar resiliência no sistema circulatório e aumenta a elasticidade das artérias.
Os hormônios do estresse podem contrair os músculos lisos que envolvem as artérias, fazendo com que os vasos sanguíneos se estreitem. O coração tem de trabalhar mais, para fazer circular o sangue. O estresse também aumenta os batimentos cardíacos, o que aumenta a pressão arterial.
Algumas pessoas têm dificuldade de processar o sódio, que pode se acumular no corpo, atraindo mais e mais líquido, e aumentando o volume do sangue. Como o sistema circulatório é fechado, não há lugar aonde o líquido extra possa ir, então as veias e artérias incham como um balão d’água cheio demais.
Caminhar várias vezes na semana provocará uma redução importante nos valores de sua pressão arterial. Estudos sugerem que o exercício regular pode fazer cair o valor mais alto (pressão arterial sistólica) em até 13 pontos, em média, e o valor mais baixo (pressão arterial diastólica) em até 8.
Os especialistas estão presos em uma discussão acalorada sobre o perigo que o sal imprime quando o assunto é a pressão arterial. Pesquisas mostram que apenas um terço da população é “sensível ao sal”. Quando essas pessoas comem até mesmo um pouco de sódio (um componente do sal), sua pressão dispara.
Como os rins fazem um péssimo trabalho ao processar o sódio, ele rapidamente se acumula na corrente sanguínea, atraindo líquido e aumentando a pressão arterial.
Para os demais, porém, de acordo com as evidências disponíveis, o sal não é um problema. Ele é um problema até menor se você fizer a maior parte de sua comida.
Em um estudo de 2004 que se tornou referência, pesquisadores de Harvard relataram que uma dieta sem sódio com grãos integrais, hortifrútis frescos e gorduras saudáveis reduzia as leituras de pressão arterial em apenas até 2 pontos, quando comparada a uma versão rica em sódio da mesma dieta.