O beijo não é exclusivo da espécie humana, mas, segundo especialistas, fomos projetados para beijar. Temos o design perfeito para isso.
Elen Ribera | 12 de Junho de 2020 às 20:00
O beijo romântico é um termômetro. Com os lábios, com suavidade ou paixão, pode-se avaliar se vai dar certo ou não um relacionamento. Mas será simples assim? O beijo significa muito mais do que isso.
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Terri e Ray se conheceram em um restaurante onde ambos trabalhavam como garçom e garçonete. Embora o dinheiro fosse pouco, ele a convidou para sair. Tiveram vários encontros, durante os quais brincavam nos balanços das praças públicas, riram e se divertiram como adolescentes, apesar de já terem mais de 20 anos.
No fim de um desses encontros, chegou o momento que ambos aguardavam. Antes de se despedir, Ray perguntou: “Posso beijar você?” Ela aceitou sem a menor dúvida e, embora meio nervosa, permitiu. Os dois concordam que não foi um momento épico nem espetacular, não houve paixão arrebatadora ao estilo hollywoodiano, mas aquele beijo marcou o início de 24 anos de uma história de amor que ainda está firme e forte.
Embora pareça coisa de romance, o caso de Teri e Ray tem uma explicação científica: o beijo é muito mais do que um simples gesto de intimidade. Com essa primeira aproximação física, certamente o jovem casal anteviu, mesmo sem saber, o sucesso do futuro relacionamento.
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Um estudo liderado pelo psicólogo Gordon Gallup mostra que beijar é uma maneira de trocar, de forma subconsciente e por meio dos sentidos, informações importantes sobre a pessoa à nossa frente para saber se ela é ou não o par ideal. Essa intuição biológica não falhou no caso de Terri e Ray; eles têm dois filhos saudáveis e felizes.
As possíveis consequências do beijo não parecem exageradas quando analisamos o que acontece no organismo no momento do contato. “Dos 12 pares de nervos cranianos que temos, cinco são estimulados quando beijamos, enviando mensagens dos lábios, da língua e do nariz ao cérebro, que processa todos os movimentos que acontecem”, diz Dr. Amaury Mendes Júnior, pós-graduado em Sexologia pela Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Trinta e quatro músculos funcionam ao mesmo tempo e há liberação de oxitocina. “Também conhecida como ‘hormônio da união’, o nível de oxitocina aumenta depois do beijo”, acrescenta ele.
Na hora de beijar, o nariz tem papel importante. Não se trocam só olhares significativos, mas também aromas, antes e depois do beijo. Há algum tempo, não se acreditava que os seres humanos pudessem perceber os feromônios, que promovem o namoro e o acasalamento em muitas espécies de animais. No entanto, um estudo de 2003 demonstrou que o olfato pode ser fundamental na biologia reprodutora humana. O estudo mostra que os seres humanos têm receptores de feromônios na membrana mucosa do aparelho olfatório cujo papel é importantíssimo na maneira como nos relacionamos com o sexo oposto.
Essa pode ser uma pista de como as mulheres conseguem perceber a compatibilidade genética dos homens, e estes, a fertilidade da mulher.
Examinando a cadeia evolutiva, é fácil imaginar a origem desse delicioso costume humano. “Alguns primatas alimentam seus filhos boca a boca, primeiro mastigando a comida e depois passando-a para o filhote; essa pode ser sido a origem do beijo”, diz Amaury. Tanto o primatológico Frans de Waal quanto o etólogo Eibl-Eibesfeld apoiam a teoria: o beijo sem transferência de comida é uma expressão quase universal de amor e afeição entre os seres humanos. Parece que nossos ancestrais direitos também tinham o mesmo costume, porque alguns estudos antropológicos indicam que as hominídeas, por exemplo, as mulheres de Cro-Magnon, alimentavam os filhos boca a boca.
Nossos “primos” chimpanzés também se beijam; não só para alimentar, mas, como saudação ou, segundo a antropóloga física Diana Platas, como reconciliação depois de um conflito. Diana, da Associação Mexicana de Primatologia, descreve como o beijo é sinal de afeição e confiança entre os chimpanzés bonobos, muitas vezes envolvendo a língua. De acordo com o primatólogo holandês Frans de Waal, “nenhum ator de Hollywood consegue igualar a paixão demonstrada por dois bonobos ao se beijar”.
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Os beijos não são exclusivos da espécie humana, mas o etólogo inglês Desmond Morris afirma que somos a única espécie com lábios que se dobram para fora e com uma cor distinta que os diferencia do restante da pele. Os lábios são visualmente atraentes e muito sensíveis, pois têm a epiderme mais fina do corpo e muitas células nervosas sensórias convergem neles.
Fomos projetados para beijar. Pelo menos 90% da população do mundo pertence a uma cultura na qual se trocam beijos. Mas, como esse número não é absoluto, podemos nos perguntar se o beijo não é meramente um reflexo ou uma conduta adquirida.
Beijar é um ato aprendido e mais frequente em algumas culturas do que em outras. Mas o ato de beijar em si pode ser considerado instintivo. Vejamos, por exemplo, o reflexo de sugar: ele não acontece apenas quando o bebê precisa se alimentar, é também um ato que o tranquiliza.
Sigmund Freud achava que a origem do beijo está no modo como os bebês se alimentam. “Hoje sabemos que, para sugar, usamos os mesmos músculos e movimentos do beijo”, diz a escritora inglesa Adrianne Blue. Freud considerava o beijo como a busca do seio da mãe nos lábios dos outros. “Adoramos beijar porque o beijo esteve presente em nosso primeiro amor verdadeiro. “
Como confirmação da ideia freudiana, a maioria inclina a cabeça para a direita ao beijar, de acordo com um estudo de 2003 publicado na revista Nature. Diana Platas confirma: “Fiz uma experiência rápida com pessoas que conheço. Observei 25 casais, dos quais 24 inclinaram a cabeça para a direita ao beijar.” Isso pode ser causado pela assimetria hemisférica do cérebro, mas especula-se que a assimetria resulte do hábito materno de segurar os bebês do lado esquerdo ao amamentar, o que predomina em 80% da população, de acordo com Desmond Morris. Uma razão pode ser que o coração da mãe fica do lado esquerdo.
Quando Berenice viu Alejandro pela primeira vez, pensou: Ele é um deus. Foi amor à primeira vista que ela não ousou confessar. Limitou-se a fantasiar o encontro glorioso dos lábios do dois. Seia anos depois, sem tê-lo tirado da cabeça sequer um único dia, ela confessou sua atormentada paixão. Boquiaberto a princípio ele não soube o que fazer, mas depois decidiu concretizar a fantasia: beijá-la apaixonadamente.
“Ele disse: ‘Ei, me dê um beijo’, e eu recuei, mas ele me beijou mesmo assim. Depois de tanto tempo, o amor não era mais idealizado… o que provavelmente não foi uma boa ideia. De repente senti a língua dele quase chegar às minhas cordas vocais. Fiquei chocada. Não senti nada, nada! Aí tossi e fiquei com vontade de chorar”, diz Berenice. Apesar do anticlímax, eles saíram juntos durante um mês e meio, mas a relação não foi adiante.
Parece que um beijo ruim pode tirar dos trilhos, logo no princípio, o relacionamento entre duas pessoas. Uma pesquisa realizada pela versão espanhola do Mach.com, famoso site de encontros pela Internet, revela que uma em cada quatro pessoas abandonam o parceiro porque não ficou satisfeita com seu beijo. Dentro do grupo, 42% afirmaram que foi no beijoque perceberam que a química não dava certo. Outros 15% mencionaram que o parceiro parecia “lambê-los”, um tipo de beijo aparentemente não muito popular.
Para reduzir o risco do uso inadequado dos lábios, há muitos livros que prometem transformar os leitores em beijoqueiros especializados. Em A História Íntima do Beijo (Matrix Editora), a jornalista Julie Enfield desvenda os mistérios dessa arte e investiga as origens e até a alquimia do beijo. Julie afirma que “tudo começa com um beijo. Nós nascemos a partir do primeiro beijo de nossos pais, e a lembrança mais antiga que todo mundo guarda é dos beijos carinhosos da própria mãe”.
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Terri e Ray, aquele casal feliz cuja história inicia este artigo, decidiram certo dia fazer uma homenagem à força do amor. Depois de muito pensar e navegar na Internet, tiveram a ideia de criar um site que reunisse fotos de beijos mandadas pelos usuários. Foi assim que começou o bestkisses.com, um blog onde a participação de todos é bem-vinda. Desde a imagem clássica logo depois das palavras mágicas “pode beijar a noiva” até uma coleção de demonstração íntimas de afeição entre familiares, esses são momentos ternos que nos fazem sorrir e deixam uma mensagem de amor no coração do visitante.
Aqui vão algumas dicas para quem quer se tornar um mestre na arte de beijar:
Respire!
Há quem pare de respirar durante o beijo e por isso não consegue aumentar a paixão nem aguentar um beijo prolongado. É preciso inspirar profundamente, sincronizar o ritmo respiratório com o do parceiro e sentir o prazer ao mesmo tempo.
Mantenha o contato visual
Estabeleça uma ligação olho no olho, abra o coração e crie uma fonte única de energia para os dois.
Ao se despedir de manhã,
nunca saia sem um beijo expressivo. Um beijo de dois segundos é como dizer “não tenho tempo suficiente para você”. É preciso dedicar pelo menos um minuto inteiro ao parceiro antes de sair de casa.
Reserve algum tempo para o beijo
Com a maior frequência possível, diga a seu parceiro que quer estar com ele, conectar-se com ele e passar algum tempo em companhia um do outro, para que possam crescer juntos emocionalmente. Se não for possível ter esse tempo de qualidade naquele momento, marque uma hora para estarem juntos mais tarde.
Um, dois e até três: confira a origem do cumprimento com beijos.