A instabilidade nos dados atrapalha o monitoramento da Covid-19 no Brasil; a doença avança, porém é difícil mensurar quanto.
Arman Neto | 27 de Novembro de 2020 às 15:00
Por diferentes fontes, é possível depreender que a Covid-19 está acelerando mais uma vez no estado de São Paulo, especialmente na Grande São Paulo, assim como em outras regiões do país. É difícil, porém, mensurar de quanto é o crescimento, devido a um sério problema na base de dados do Ministério da Saúde.
Entre a primeira e a segunda semana deste mês, houve apagão no sistema que mostra a situação de casos e de mortes. A pasta informou que uma das possibilidades para a queda no sistema foi um ataque hacker.
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Por isso, por ao menos cinco dias boa parte dos novos casos e de novas mortes não foi computada. Esses são dois dos principais indicadores para se avaliar a extensão da pandemia.
Devido ao problema técnico, o estado de São Paulo chegou a registrar nenhuma nova morte ou novo caso por cinco dias, sendo que a média no fim de outubro ficava na casa dos 5.000 novos casos diários e mais de 100 mortes.
Quando o sistema voltou, os dados que não haviam sido inseridos passaram e entrar junto com os atuais, o que inflou a contabilização.
Assim, de zero novos casos diários, o estado de São Paulo saltou para 21 mil no dia 10 de novembro (o maior da série histórica).
A instabilidade nos dados prejudica diversas formas de monitoramento da doença no país, pois leva a uma aceleração que, na verdade, está influenciada por dados antigos (e, no período anterior, houve queda irreal).
Por exemplo, o monitor de aceleração da Covid, do jornal Folha de S. Paulo, considera acumulado de 30 dias de casos confirmados para classificar o estágio da pandemia, dando mais peso para os dias mais recentes.
No começo deste mês, devido ao apagão de dados, não havia nenhum estado no estágio acelerado e 21 estavam no desacelerado. Nesta quarta (25), devido à inserção dos dados antigos, eram 6 estados acelerados e 9 desacelerados.
Problema semelhante enfrentam outras formas de monitoramento, como a média móvel adotada por diferentes veículos de comunicação e o cálculo do Rt (taxa de transmissão), que estima para quantas pessoas um infectado está transmitindo a doença.
A base do Rt é o número de novos casos. No cálculo feito pelo Imperial College, por exemplo, a taxa no Brasil caiu para 0,68 (a menor desde abril) no início de novembro. Duas semanas depois, saltou para 1,30, o maior número desde maio (esse dado significa que 100 infectados estão passando a doença para 130 pessoas, segundo essa estimativa).
Não é possível saber o que é aceleração real do coronavírus no Brasil e o que é efeito do problema com a contabilização de novos casos e mortes.
Por outras métricas, é possível verificar que a situação parece mesmo estar piorando. Dados da Secretaria de Saúde de São Paulo mostram que houve aumento de 30% de internações em UTIs na Grande São Paulo, devido à Covid, em relação a duas semanas atrás. O tamanho dessa expansão, porém, será conhecida apenas daqui a alguns preciosos dias.