“Corona Party”: psicólogo explica motivação das festas clandestinas na pandemia

"Corona party", "festa do coronavírus". Esses são alguns dos nomes que as festas clandestinas que ocorrem agora na pandemia vem recebendo. Medidas de

Julia Monsores | 6 de Abril de 2021 às 12:30

Crédito: jacoblund/iStock -

“Corona party”, “festa do coronavírus”. Esses são alguns dos nomes que as festas clandestinas que ocorrem agora na pandemia vem recebendo. Medidas de distanciamento, máscaras e álcool em gel não entram na lista dos convidados — nem poderiam. Afinal, nessas festas superlotadas, mal há espaço para circulação. Parece até piada de mau gosto, mas infelizmente esses eventos têm sido cada vez mais comuns, mesmo em meio à segunda onda de Covid-19 (que mais parece um tsunami).

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Mas o que está por trás dessa súbita vontade de romper as recomendações de segurança, mesmo em meio ao recorde de mortes diárias no país? Segundo o psicólogo Alexander Bez, especialista em Relacionamentos pela Universidade de Miami (UM), muitos são os fatores que influenciam esse processo. Inclusive a vontade de contrair a doença de uma vez. E assim, tornar-se logo imune.

“São várias as contradições mentais… A começar pela própria rede negacionista que vem de cima, influenciando algumas pessoas, infelizmente. A manifestação psicológica da negação dos fatos se concretiza como uma vertente, é mais fácil para algumas pessoas negar o perigo do que enfrentá-lo! Outros preferem (erroneamente) entender que quanto mais cedo pegar o vírus, mais cedo ficará ‘protegido'”, explica.

O que temos visto, no entanto, são pacientes cada vez mais jovens sendo internados. Segundo Suzana Lobo, presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), profissionais em todo o país têm observado um considerável aumento do número de pacientes mais jovens em estado grave, que agora ocupam majoritariamente os leitos nas UTIs.

Se no ano passado o perfil de internação era um — sobretudo composto por idosos e pessoas com comorbidades –, agora, com a maior circulação de jovens nas ruas e a nova cepa do vírus, que é até dez vezes mais contagiosa, o perfil é outro. E o preço para a conquista da imunidade a qualquer custo pode ter um valor bem alto: a própria vida.

Corona party por todo o país

Imagem: bernardbodo/iStock

Carlinhos Maia, Belo, Mc Gui e o jogador Gabigol foram algumas das personalidades que já participaram dessas festas clandestinas. Apesar de terem sofrido duras críticas por outras celebridades e por seus seguidores na Internet (vale lembrar que o cantor Belo virou até mesmo caso de polícia, depois de promover um show ilegal no Complexo da Maré), eles também receberam apoio de pessoas que compartilharam de suas intenções.

O influencer Carlinhos Maia, que deu uma festa de Natal em Alagoas, no ano passado, justificou sua conduta, alegando à Record:

“Na minha vila já não teve Natal no ano passado, é um povo pobre que precisa dessa visibilidade para poder continuar crescendo e a minha cidade também. Já que as pessoas não vão deixar de ir para as ruas, vamos fazer uma coisa dentro da lei mesmo”.

Já o cantor Belo, que teve a festa gravada e publicada nas redes sociais em fevereiro deste ano, depois desculpou-se, por meio de uma nota publicada em uma de suas redes sociais.

“Belo teve a saúde acometida há três meses e a agenda cancelada integralmente há um ano. Ciente da gravidade da crise sanitária, Belo pede desculpas por ter se apresentado em uma aglomeração. O cantor retomou há pouco uma agenda parcial de shows, com compromissos ainda insuficientes para reverter o prejuízo dos meses em que esteve impedido de trabalhar”, dizia a nota publicada no Instagram

Fique em casa — se puder

Imagem: iStock

Embora o home office ainda venha sendo realidade para muitas pessoas, outras já retornaram aos trabalhos presenciais. E assim, precisam encarar o deslocamento diário em transportes públicos lotados, correndo o risco de contaminação. Essas pessoas, infelizmente, não podem escolher resguardar-se em casa.

Mas o que temos observado é um número cada vez maior de pessoas que não têm seguido os protocolos de segurança recomendados pelo Ministério da Saúde, mesmo com o avanço dos números de casos por todos os estados do país. Segundo o psicólogo Alexander Bez, esse pode ser também um traço de “pânico pandêmico”.

“Algumas pessoas entram no que podemos chamar de “Pânico Pandêmico”, no qual a manifestação do Transtorno resulta na impossibilidade de conseguir se distanciar”, explica.

Segundo o psicólogo, algumas estratégias podem facilitar a permanência dessas pessoas em casa.

“As melhores estratégias são elaboradas invariavelmente pelas associações da criatividade e da improvisação constante, o vírus muda semanalmente, assim como as suas apresentações, e nós também temos que evoluir acompanhando essas mudanças!”, explica.

O especialista acrescenta que é importante manter as informações atualizadas e seguir as orientações de saúde sanitárias — como tentar manter as atividades físicas em dia, procurar fazer o que gosta, praticar a empatia e solidariedade e manter o contato social mesmo que à distância. Além disso, não ter receio de procurar ajuda profissional sempre que julgar necessário.

“Essas são algumas dicas importantes que auxiliam na saúde mental e a passar por essa fase mais crítica. E o principal, pensar positivamente, de que essa fase vai passar e você terá todo o tempo do mundo para aproveitar esses momentos de lazer de maneira segura. Mas agora é hora de se cuidar e pensar coletivamente no bem da sociedade!”, conclui.


Fonte: Alexander Bez – Psicólogo; Especialista em Relacionamentos pela Universidade de Miami (UM); Especialista em Ansiedade e Síndrome do Pânico pela Universidade da Califórnia (UCLA). Atua na profissão há mais de 20 anos.