Narcóticos naturais são usados na medicina para aliviar dores, combater a depressão e as dores intensas de ferimentos graves e de muitas formas de câncer.
Redação | 9 de Outubro de 2018 às 17:00
O poder de certas plantas e fungos em alterar nosso estado mental há muito é reconhecido e usado em todo o mundo. E, embora eles possam ser prejudiciais ou até mesmo letais se usados abusivamente, alguns de seus poderosos componentes têm aplicações médicas importantes. Que, aliás, continuam sendo estudadas para nosso benefício.
A pesar de, ou talvez por causa dos riscos associados ao seu uso, plantas e fungos alucinógenos há muito fascinam a humanidade. A maioria deles possui componentes que são perigosos se tomados em excesso. Mas também são usados tanto como remédios quanto em rituais religiosos. A pesquisa médica começa agora a entender a ciência que fundamenta esses efeitos e encontra formas mais seguras de usá-los.
Em 1860, o químico alemão Albert Niemann extraiu cocaína das folhas de coca, iniciando o uso da droga no tratamento da exaustão e da depressão. A mais antiga evidência do uso medicinal da cânabis está em um manuscrito chinês de 2727 a.C., que a registra como tratamento para constipação, malária e reumatismo. E os antigos textos persas datados de 600 a.C. chamavam bhang – cânabis desidratada – de o bom narcótico. As vagens da papoula de ópio eram usadas pelos sumérios como analgésicos.E no Egito antigo as mães davam ópio aos bebês para induzir o sono. Seu uso recreativo veio para o Ocidente no século XVII. Trazendo o desenvolvimento de analgésicos narcóticos modernos como a morfina e a codeína.
Estudos de pinturas rupestres no norte da África de 9000 a.C. sugerem que os efeitos da psilocibina – derivado químico obtido de certos cogumelos – também eram conhecidos em culturas antigas. As civilizações maia e asteca das Américas do Sul e Central certamente os utilizavam para induzir transes e comunicar-se com os deuses.
Embora os opiáceos sejam utilizados terapeuticamente na medicina há alguns séculos, os cientistas ainda estão descobrindo as propriedades de outras drogas alucinógenas à base de plantas e revelando seu potencial no tratamento de uma variedade de doenças. O remédio resultante é então testado em termos de segurança e eficácia em ensaios clínicos.
Investigações no Centro de Medicina Integrativa do Arizona têm focado na mistura de alcaloides contidos na folha e no seu uso para tratamento de cinetose (enjoos de movimento), queixas digestivas e obesidade. Essas substâncias precisam ser tomadas oralmente, o que minimiza qualquer risco de dependência.
Na virada do século XXI, o valor medicinal da cânabis tornava-se conhecido. Em 2003, o Canadá se tornou o primeiro país a oferecer um extrato da planta para uso medicinal em forma de droga. Desde então, ele é autorizado para esse fim em vários países. Pode ser prescrito para aliviar alguns dos sintomas da esclerose múltipla. Prosseguem as pesquisas da eficácia dos medicamentos derivadas da cânabis. Principalmente, em aliviar sintomas de outras doenças associadas a lesões nervosas. Tais como Parkinson e lesões da medula espinhal. Esses fármacos têm se mostrado eficazes no tratamento de insônia, ansiedade e perda de apetite.
Com a invenção da seringa hipodérmica, a morfina tornou-se popular como um analgésico de efeito quase instantâneo. Hoje ela está disponível na forma líquida, em comprimidos e como adesivos epidérmicos. Ela funciona inibindo a ação no cérebro de receptores da dor e é usada como anestésico durante cirurgias. E, além disso, para tratar dores intensas de ferimentos graves e de muitas formas de câncer. A maioria das pesquisas atuais foca no desenvolvimento de fármacos que ajam como opiáceos, mas sem induzir tolerância ou vício. Tamanha é a escassez de ópio no mundo que a papoula está sendo
cultivada para colheitas comerciais no sudeste da Inglaterra e em outros países europeus.
Uma nova pesquisa sobre a psilocibina, droga alucinógena obtida de cogumelos da espécie Psilocybes, tem explorado seu uso como antidepressivo. Portanto, em estudos na University College London, voluntários receberam psilocibina no sangue. Dessa forma, os efeitos em seu cérebro foram monitorados por ressonância magnética. Além disso, os resultados mostraram que as áreas principais do cérebro afetadas pela droga são o córtex cingulado posterior. Que, sabe-se, sobretudo, estar relacionado à consciência e à identidade do eu. Bem como, o córtex pré-frontal medial, hiperativo naqueles que sofrem de depressão. O trabalho agora progride para o desenvolvimento de versões não alucinógenas da droga.
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