Descubra o que é a concussão, como identificar e porque é tão perigosa mesmo após anos da melhora.
Talvez você já tenha ouvido falar bastante de concussão. Em julho de 2011, nos Estados Unidos, um grupo de 75 jogadores aposentados de futebol americano abriu um processo coletivo afirmando que seus problemas de saúde mental, que variam de dificuldades de memória a depressão profunda e impulsos suicidas, foram causados por lesões cerebrais sofridas durante a carreira desportiva – e que a Liga Nacional de Futebol Americano escondera as provas da correlação entre concussões repetidas e lesões cerebrais permanentes.
“Antes achávamos que era possível sofrer uma concussão, sentir-se um pouco grogue e até desmaiar, e depois se recuperar sem que houvesse lesão a longo prazo”, diz o professor Michael Woodward, da clínica de memória da Austin Health, na Austrália. “O cérebro consegue se recuperar muito bem após uma lesão, mas agora percebemos que, provavelmente, há algum grau de dano permanente depois das concussões.”
O que é concussão
A concussão é uma lesão cerebral geralmente causada por uma pancada na cabeça. Não é um problema estrutural do cérebro em si, é mais um embaralhamento de neurônios, o software do cérebro, que provoca perda temporária do funcionamento cerebral normal.
No organismo, o cérebro equilibra seu peso em cima do tronco encefálico e flutua dentro do crânio, protegido pelo líquido cefalorraquidiano que o cerca. Quando há uma pancada na cabeça, o cérebro pode ricochetear nas laterais do crânio. Essa força pode lesionar minúsculos vasos sanguíneos e fibras nervosas, fazendo o cérebro parar temporariamente de funcionar direito.
Uma pancada na cabeça também pode lesionar os próprios neurônios. Em lesões mais graves, o cérebro pode inflamar, restringir o fluxo sanguíneo e, potencialmente, provocar um AVC. Lesões graves como essas têm de ser avaliadas e diagnosticadas com tomografia ou ressonância magnética. Por isso, procurar atendimento médico imediatamente é fundamental.
No entanto, em geral as concussões são leves. A maioria que sofre uma delas não desmaia, embora seja comum não se lembrar de nada logo antes ou logo depois do acidente. A concussão também é definida pela mudança de estado mental: a fala pode ficar arrastada, a pessoa pode se sentir confusa ou perder o equilíbrio.
Como identificar uma concussão
Quem suspeita de concussão deve procurar um médico imediatamente. Eis alguns testes simples para saber se é preciso se preocupar:
A vítima apresenta algum destes sintomas?
- Perda de consciência
- Convulsão
- Amnésia
- Dor de cabeça
- “Pressão na cabeça”
- Dor no pescoço
- Náusea ou vômitos
- Tontura
- Borramento visual
- Sensibilidade à luz ou a ruídos
- Sente‑se mais lento
- Sente‑se “enevoado”
- Dificuldade de concentração
- Perda de memória
- Fadiga ou sonolência
- Confusão
- Irritabilidade ou tristeza
- Nervosismo
- Ansiedade
Faça algumas perguntas:
- Em que mês estamos?
- Que dia é hoje?
- Em que ano estamos?
- Que horas são? (margem de erro de uma hora)
Verifique o equilíbrio:
- Peça à pessoa que fique de pé, com o dedão do pé não dominante encostado no calcanhar do outro pé, o peso regularmente distribuído entre os dois pés. É preciso manter a estabilidade durante 20 segundos com as mãos nos quadris e ambos os olhos fechados.
- Conte as vezes em que a pessoa sai dessa posição. Caso cambaleie, mande abrir os olhos e voltar à posição inicial.
- Quando a pessoa estiver pronta, comece a contar o tempo. Observe durante 20 segundos. Se houver mais de cinco erros (tirar as mãos dos quadris, abrir os olhos, erguer o calcanhar ou a parte da frente do pé, tropeçar ou cair, ou sair da posição inicial durante mais de cinco segundos), pode ser concussão.
- Quem suspeitar de concussão deve interromper imediatamente as atividades físicas e passar com urgência por avaliação clínica. Não deve ficar sozinho nem dirigir veículos motorizados.
Quais são as consequências
A maioria se recupera desses sintomas num período de 15 minutos a 24 horas, com recuperação total em sete a dez dias: “É como sacudir um computador e ele parar de funcionar; será preciso deixá‑lo descansar e reiniciar”, diz o professor Gary Browne, especialista em atendimento de emergência do Instituto de Medicina Desportiva do Children’s Hospital, na Austrália.
Mas pesquisadores como Woodward acreditam que, quanto mais frequentes as concussões, mais duradouras as lesões. Agressões repetidas, ao cérebro podem causar dano permanente aos nervos e vasos sanguíneos, resultando, mais tarde, em problemas cognitivos, como perda de memória.
Hoje se admite que a capacidade de recuperação do cérebro varia a cada indivíduo. Cerca de 20% das pessoas têm uma configuração genética que as faz recuperar‑se mais devagar das concussões, explica Woodward.
“Esse ainda é um tema controverso, mas sabemos que concussões múltiplas não são boas para a saúde do cérebro”, explica Nicola Gates, neuropsicólogo especializado em lesões cerebrais traumáticas. “Qualquer lesão cerebral é fator de risco de demência no fim da vida.”
Os perigos no esporte
Para a maioria, é relativamente improvável sofrer múltiplas concussões. Mas na área desportiva isso pode fazer parte da vida. Até cabecear repetidamente uma bola de futebol pode causar lesão cerebral semelhante à da concussão, como mostraram estudos.
Isso porque sabemos que a concussão pode prejudicar o tempo de reação, a capacidade de processar informações e a memória de curto prazo dos jogadores. Caso voltem ao jogo, correrão risco maior de sofrer uma segunda lesão na cabeça, potencialmente muito mais grave.
“Para o observador externo, o atleta parece bem, mas afirmamos que há razões de saúde para não voltar na mesma hora”, diz o professor Gavin Davis, da Cabrini Health, especialista em concussão.
Concluindo…
Portanto, o que se deve fazer se estiver preocupado porque levou muitas pancadas na cabeça ao longo da vida? Os especialistas ainda não chegaram a uma conclusão, mas há indícios de que o “treinamento cognitivo” – o treinamento ativo da memória – pode ajudar.
“O mais importante é o repouso”, diz Gates. “O que é bom para o corpo também é bom para o cérebro: é preciso dormir bastante, alimentar-se bem, reduzir o estresse e tratar a dor de cabeça, que, por si só, pode prejudicar a memória e a atenção.”
Por HELEN SIGNY