Você sabe como funciona o congelamento de óvulos? Confira as principais respostas às perguntas sobre esse procedimento de fertilidade.
Julia Monsores | 13 de Abril de 2022 às 17:00
Na última segunda-feira (19), a atriz Claudia Raia usou seu Instagram para contar aos seguidores que está grávida. Com 55 anos de idade, a atriz gerou alvoroço na internet por conta de sua idade. O que poucas pessoas sabem que é mais que possível engravidar nessa idade. Em uma entrevista dada em 2020, Claudia afirmou que tinha vontade de ser mãe novamente e, por isso, havia congelado óvulos.
O congelamento de óvulos é uma técnica de preservação da fertilidade realizada por especialistas de reprodução assistida. Trata-se de um procedimento que já não é uma grande novidade – sobretudo para mulheres que desejam engravidar no futuro.
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Todos sabemos que a idade é um dos fatores que exercem influência na fertilidade da mulher. Outro fator que é de conhecimento público é que quanto mais velha, maiores são os riscos de abortos e malformações na gestação. No entanto, para muitas mulheres, engravidar na faixa dos vinte anos não é mais uma opção, como costumava ser no passado. Desse modo, optam por técnicas de preservação da fertilidade, como o congelamento dos óvulos.
Mas apesar da popularidade do procedimento, muitas dúvidas ainda persistem, como por quanto tempo esses óvulos podem ficar congelados,ou como é feito o procedimento. Para responder essas e outras questões sobre o assunto, conversamos com o ginecologista e responsável técnico do Centro de Reprodução Humana do IPGO, Dr. Arnaldo Cambiaghi.
O congelamento de óvulos é benéfico para todas as mulheres que desejam preservar a fertilidade para o futuro. É um procedimento seguro, indolor e que apresenta altas taxas de sucesso.
“Milhares de bebês nasceram de óvulos congelados e nenhum estudo demonstrou aumento da taxa de defeitos congênitos, quando comparados à população geral nem aumento das taxas de defeitos cromossômicos entre embriões oriundos de óvulos congelados em comparação com embriões derivados de óvulos frescos”, explica o Dr. Arnaldo Cambiaghi.
As indicações para o procedimento são para mulheres solteiras com menos de 35 anos que estejam preocupadas com a diminuição da fertilidade; mulheres com histórico familiar de menopausa precoce e mulheres que serão submetidas a tratamentos oncológicos.
Antes de mais nada, a paciente inicia um tratamento de indução da ovulação por meio de medicamentos à base de hormônios. É o mesmo processo de estimulação dos ovários que se realiza na fertilização in vitro.
O objetivo é que ela produza a maior quantidade possível de folículos em seu ciclo menstrual. Por volta do 12º dia, é feita a coleta de óvulos, com a paciente sedada e com o auxílio de uma agulha. Em seguida, os óvulos são congelados.
“Este procedimento é feito sob sedação endovenosa e não é doloroso. Os óvulos são imediatamente congelados após sua retirada, ao invés de serem fertilizados. E só quando a paciente desejar serão descongelados, fertilizados e os embriões ‘colocados’ (transferidos) no útero. O processo todo demora de 4 a 6 semanas”, explica o Dr. Arnaldo Cambiaghi.
O médico explica que, com o tempo, a técnica foi se aprimorando e aumentando sua eficácia.
“Quando congelados, os óvulos formam cristais de gelo que podem destruir a célula. Ao longo dos anos aprendemos que devemos desidratar o óvulo e substituir a água com um ‘anticongelamento’ antes de congelá-lo, a fim de evitar a formação de cristais”, detalha o Dr. Arnaldo Cambiaghi, que completa: “aprendemos também que, porque a casca do ovo endurece quando congelado, o esperma deve ser injetado com uma agulha para fertilizar o óvulo usando uma técnica padrão conhecida como ICSI (injeção Intracitoplasmática de espermatozoide)”.
Outra dúvida comum é sobre o tempo em que é permitido o congelamento dos óvulos.
“Não há limite. Os óvulos ficam armazenados da mesma maneira que os embriões, utilizando uma temperatura de congelamento de -196º graus. Com base em evidências científicas, bem como a nossa experiência de conseguir a gestação com embriões, há segurança que o armazenamento de longo prazo de óvulos congelados não resulta em qualquer redução na qualidade”, explica o ginecologista.
Com base em dados do estudo do Centro de Reprodução Humana do IPGO, as taxas de degelo do óvulo são de 75%, assim como as taxas de fertilização em mulheres de até 38 anos de idade.
“Assim, se dez ovos são congelados, sete devem sobreviver ao descongelamento e, de cinco a seis, são esperados para fertilizar e se tornar embriões. Geralmente três a quatro embriões são transferidos em mulheres acima de 38 anos de idade”, explica.
O médico recomenda que pelo menos oito óvulos sejam armazenados para cada tentativa de gravidez. “A maioria das mulheres de 38 anos de idade ou menos pode esperar para colher de 10 a 20 óvulos por ciclo”, explica.
A idade da mulher influencia diretamente nas taxas de sucesso do procedimento. Após os 38 anos no momento do congelamento menores são as chances de uma gravidez futura.
“As taxas de gravidez de óvulos congelados irão depender da idade no momento em que os óvulos foram congelados, e não na idade em que serão implantados. Embora as taxas de sucesso sejam menores em idades mais avançadas, é sempre bom lembrar que isto não significa a impossibilidade e, muitas vezes, esta é a única alternativa no momento”, explica o médico.
O quadro abaixo demonstra as chances de sucesso de acordo com a idade da mulher. Estes resultados têm nos encorajado, cada vez mais, na indicação deste procedimento.
“Os custos para o congelamento de óvulos correspondem aproximadamente a 80% de uma fertilização in vitro convencional”, explica o ginecologista.
Mas no valor do procedimento, que costuma variar de R$ 15 mil a R$ 30 mil, já está incluso o uso dos medicamentos e o monitoramento. Além disso, a paciente deverá pagar uma taxa anual de manutenção deste congelamento, que costuma ser de R$ 1 mil.