O processo pelo qual vivenciamos a dor é complexo e envolve tanto o cérebro como o sistema nervoso. Entenda mais sobre isso!
Rayane Santos | 29 de Outubro de 2021 às 13:00
O processo pelo qual vivenciamos a dor é complexo e envolve tanto o cérebro como o sistema nervoso. No entanto, compreender o mecanismo pode ajudar você a evitar ou minimiza esse desprazer.
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Embora seja desagradável vivenciar qualquer dor, trata-se de uma das mais relevantes funções orgânicas. É possível que você não aprecie isso ao ter uma dor de cabeça ou dente terrível ou, ainda, cólica estomacal, mas ela é um sistema de alerta: seu papel é dizer ao corpo quando corre o risco de sofrer algum dano ou já sofreu.
Por exemplo, uma dor de cabeça pode avisar que você está cansado ou estressado e precisa de repouso; dor de dente talvez o informe sobre uma lesão que necessita de atenção urgente; e dores de estômago pode indicar uma dieta pobre. Aprender a entender e reagir direito às mensagens de dor do corpo podem ajudá-lo a gerenciar muitos transtornos dolorosos.
Ninguém gosta de sentir dor, porém ela é vital à saúde e ao bem-estar – serve para alertar de situações perigosas e proteger de traumas físicos.
Quando o corpo se machuca, mensagens são transmitidas da área lesionada ao cérebro via sistema nervoso. A pele e os tecidos profundos contêm terminações nervosas que reagem a mudanças externas (calor, frio, pressão) e a estímulos internos (distensão, liberação de substâncias químicas por células danificadas).
Quando essas terminações são ativadas por estímulos diretos, uma mensagem é enviada ao cérebro. Primeiro, essa mensagem é levada a uma área da medula chamada corno dorsal (também conhecida como portão da dor). Dali, a mensagem viaja da medula até o cérebro, onde os vários aspectos da mensagem – local, tipo e gravidade, assim como todas as facetas emocionais da vivência da dor – são analisados de modo a determinar a ação apropriada.
Você, então, sente a dor. Os impulsos nervosos saem do cérebro e são transmitidos de volta aos músculos e órgãos internos para produzir a reação necessária a fim de protegê-lo de mais dor.
Em resumo: uma lesão envia mensagens de dor ao cérebro. Então, você sente a “primeira” dor. Sua reação é se proteger do risco de mais lesões. Em seguida, você sente a “segunda” dor. Finalmente, sua reação é descansar para permitir que o corpo repare o dano.
O cérebro é com frequência bombardeado com mensagens de diferentes partes do corpo que fornecem informações sobre mudanças que estão ocorrendo interna e externamente. A dor não pode ser sentida sem o cérebro – é por esse motivo que se recorre à anestesia geral durante uma cirurgia. A anestesia adormece o cérebro.
No entanto, o corpo possui um sistema inteligente para assegurar que as mensagens de dor relevantes tenham prioridade, lidando de imediato com qualquer potencial ameaça. O corpo envia mensagens urgentes por vias nervosas chamadas fibras “A”, que conduzem com rapidez, produzindo a “primeira”, o alerta de uma possível lesão. Já as fibras “C”, que levam mensagens de forma mais lenta, geram a “segunda”, motivando você a proteger a área lesionada.
Você sabia que algumas pessoas nunca sentem dor? É verdade. Quem tem analgesia congênita, condição rara, não possui fibras nervosas transmissoras dos sinais de dor.
A pele contém muitas fibras “A”, que são condutores rápidos. Isso reflete o fato de a pele ser a primeira linha de defesa contra ameaças externas. Se a criança aproximar a mão de uma chama, por exemplo, as fibras “A” da mão logo enviarão uma mensagem de alerta de dor ao cérebro, mesmo antes de a lesão ocorrer, de fato. O cérebro processa a mensagem e reage de imediato, instruindo os músculos a afastar a mão da chama e evitar qualquer lesão.
Após o primeiro forte sinal de alerta, uma mensagem de dor mais fraca e enjoativa é enviada pelas fibras “C”, de condução lenta. Essas fibras continuam a transmitir mensagens até o estímulo ser eliminado e o tecido ter se recuperado – e, em alguns casos, muito depois de isso acontecer. Como dentes e órgãos internos possuem, sobretudo, fibras “C”, você só se dá conta da existência deles quando já estão danificados.
O grau de dor costuma contrariar o tipo de lesão sofrida. Se você cair da bicicleta, por exemplo, ralar as mãos e também quebrar um punho, é possível que, no início, perceba apenas dores dos cortes e arranhões. Isso ocorre pois a sobrecarga sensorial das fibras “A”, presentes na pele, fecha o portão da dor bloqueando os impulsos dolorosos, conduzidos devagar pelas fibras “C”. Tais impulsos, vindos do tecido lesionado ao redor do osso quebrado, indicariam a lesão grave.
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Ao registrar somente os cortes na pele, o cérebro prioriza a mensagem de que a pele está machucada, e talvez ainda exista uma ameaça externa da qual o corpo deva se afastar. Assim como classifica as mensagens conforme a importância, o cérebro também prioriza outras sem correlação com a dor.
Por exemplo, os instintos de sobrevivência são de suma importância. Se você ficar preso num prédio em chamas, a prioridade do cérebro é auxiliá-lo a escapar do fogo em vez de avaliar a mensagem sobre as queimaduras sofridas. A
A habilidade do cérebro em ignorar a dor também tem sido observada no esporte, em situações que não colocam a vida em risco. Caso um jogador se machuque durante uma partida de futebol, em geral o registro de uma lesão grave só ocorre após o término do jogo. Ao perceber as mensagens como sendo menos importantes do que a vontade de ganhar o jogo, o cérebro termina por bloqueá-las.
O corpo produz os próprios analgésicos sob a forma de endorfinas. A serotonina e a noradrenalina também se encontram nas vias neurais, que diminuem a transmissão de sinais de dor. Ao serem emitidos da periferia do corpo até o prosencéfalo, esses sinais são inibidos em pontos-chave – medula, rombencéfalo, mesencéfalo e tálamo.
Pesquisas recentes constataram que o estado emocional consegue influenciar a liberação de endorfinas. O estresse e a ansiedade inibem essa produção. Quanto mais deprimida estiver uma pessoa com dores, menor o nível de serotonina produzida, reduzindo a quantidade de endorfina liberada. Logo, ocorre diminuição no mecanismo natural do corpo de enfrentar a dor, já que essas mensagens podem ser transmitidas livremente ao cérebro.
Você pode ajudar a aumentar a liberação de endorfinas, os analgésicos naturais do corpo. Basta:
Embora seja possível vivenciar a dor de muitas maneiras distintas, vale considerar duas categorias principais: aguda e crônica.
Esse tipo pode durar dias ou, em certos casos, semanas. Ela faz parte da reação do corpo a uma lesão ou doença. O objetivo principal é nos fazer descansar e permitir o início do processo de cura.
Ocorrem, então, mudanças fisiológicas: aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, suor e restrição da reação a outros estímulos. A dor aguda costuma responder a analgésicos, e, como a medicação é necessária por um curto período de tempo, os efeitos a longo prazo não são um problema.
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Essa categoria de pode ocorrer se houver inflamação (como na artrite reumatoide), cicatrização incompleta (em alguns problemas de coluna) ou se as vias neurais falharam em se normalizar após um evento inflamatório.
Em geral, é considerada “inútil” por não representar um aviso de dano no tecido, que exige um comportamento para evitar mais danos (prevenção) ou obter recuperação (repouso). Fatores psicológicos e sociais têm um papel crítico no modo como se vivencia a dor crônica.
A ansiedade cria uma expectativa e estado de “hipervigilância” – a transmissão do alerta de dor é ampliada, e sinais neurais não dolorosos podem ser erroneamente interpretados como dor.
Em geral, isso pode ajudar a entender o jargão que talvez ouça da equipe médica ou encontre em material de leitura. A dor é classificada de acordo com o local e seu mecanismo.
Onde é sentida: Pele, músculos, ligamentos, articulações, ossos.
Como é sentida: Aguda, em pontada, contínua.
Onde é sentida: Órgãos internos
Como é sentida: Profunda, em cólica, constritiva.
Onde é sentida: Tecido lesionado
Como é sentida: Latejante
Onde é sentida: Sistema nervoso central e periférico.
Como é sentida: Dormente, formigante, intensa, em queimação, elétrica.
Onde é sentida: Combinação de inflamatória e neuropática.
Como é sentida: Uma mistura de sensações dolorosas.