Não existe maneira fácil de superar o luto. A maioria das pessoas que perde alguém que ama experimenta medo, tristeza, culpa, raiva, frustração, confusão
Douglas Ferreira | 21 de Julho de 2021 às 20:00
Não existe maneira fácil de superar o luto. A maioria das pessoas que perde alguém que ama experimenta medo, tristeza, culpa, raiva, frustração, confusão e solidão. Alguns psicólogos dizem que esses sentimentos são estágios pelos quais passamos. Mas a verdade é que o caminho por esses estágios é circular. Quando começamos a olhar para a frente, vemos uma roupa ou um livro da pessoa que partiu e caímos novamente em desespero.
Infelizmente, uma consequência desses sentimentos incontroláveis é algo ainda mais difícil de se lidar: a maioria de nós simplesmente não consegue dormir. Deitamo-nos na cama, apagamos a luz, fechamos os olhos – e a mente continua alerta. E, quando finalmente mergulhamos na inconsciência, acordamos com frequência durante a noite.
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O sono interrompido torna mais difícil lidar com o luto, com a vida e até com nossos deveres cotidianos, como arrumar a cama ou pagar as contas. E também pode afetar nossa saúde. Em um estudo da Universidade de Glasgow com 4.395 casais, quando um dos cônjuges morria, o risco de o outro morrer de uma causa diversa, que variava desde doença cardíaca, acidente vascular cerebral, câncer, acidentes e até violência urbana, aumentava em 27%.
Pesquisadores ainda estão tentando descobrir a relação exata entre luto, sono e mortalidade. O que eles realmente sabem hoje é que o luto parece fragilizar o sistema imunológico e que ocorre um enorme aumento de adrenalina em resposta à morte de um ente querido.
“A adrenalina é a substância bioquímica que acarreta a perda de sono”, explica a terapeuta Belleruth Naparstek, de Cleveland, que perdeu o marido, Art, há alguns anos. “A adrenalina é desencadeada pela perda e, no caso de morte de um cônjuge, também pelo terror da sobrevivência.”
O terror da sobrevivência vem da compreensão repentina de que você foi deixada com todas as coisas que seu cônjuge costumava fazer, explica ela. Não importa o que seja – ir ao banco, cozinhar, fazer investimentos, fazer compras –, você é a pessoa que vai precisar arregaçar as mangas. Na maioria dos casos você se sairá bem. Em outros, terá uma curva de aprendizado. E, independentemente de as responsabilidades serem factíveis ou não, você terá de descobrir como ao integrá-las ao seu conjunto de responsabilidades já existentes.
Só isso já consegue manter qualquer um “ligado” e cheio de adrenalina durante a noite.
“O luto também pode desencadear muitos pensamentos cíclicos”, diz Naparstek. Preocupações do tipo “como vou pagar o aluguel”; “como vou criar as crianças”; “o que eu deveria ter feito de diferente”.
“Mesmo se não houver culpa envolvida no processo”, diz ela com conhecimento de causa, “você sempre vai pensar em algo.”
Tentar descobrir como você se relaciona com os outros depois de uma perda também vai manter sua adrenalina em alta, completa ela. “Não é apenas porque você perdeu seu lugar na comunidade como parte de um casal; suas próprias preferências mudam.” Conversas com as amigas sobre problemas com os cônjuges não são mais interessantes para você.
“Há um realinhamento da sua rede social”, conclui ela, “não importa se são as pessoas ou você que provocam isso.”
O que realmente mantinha Naparstek acordada eram todas as frases inacreditavelmente inapropriadas ou insensíveis que as pessoas diziam. “Lidar com gente sem sensibilidade é horrível”, diz ela. “Principalmente durante o primeiro ano, quando você se sente mais vulnerável. ‘Deus não dá uma carga maior do que você pode suportar’”, exemplifica. Ou “É uma perda enorme para a co mu nidade”. E até “Veja ainda as coisas boas pelas quais você precisa ser grata”. “Gente que nem a conhece segura sua mão, olha para você com pe na e faz um comentário insensível”, diz ela, irritada. “Você tem vontade de dar um soco nessa pessoa.”
“Um dia eu estava na academia lendo o New York Times e caminhando na esteira quando alguém que eu conhecia apenas de vista chegou perto de mim e quis que eu ‘desabafasse com ela’.”
“As pessoas ficam apavoradas com a possibilidade de que o mesmo aconteça com elas, e então projetam a própria ansiedade. Ou a pessoa sempre quis ser sua amiga e vê no momento a chance.” De qualquer forma, diz a terapeuta, “você gasta energia tentando se livrar dessa pessoa, depois passa a noite em claro com a sensação de ter sido invadida”.
Deixe que seus amigos tirem algumas responsabilidades de seus ombros. Você dormirá mais tranquilamente só de saber que eles estão dispostos a fazer qualquer coisa de que você precise. Eis alguns exemplos do que você pode lhes pedir: