É possível determinar o fim de uma pandemia? Descubra o que os fatos históricos nos dizem e o que falam os cientistas sobre a covid-19.
Thaís Garcez | 11 de Novembro de 2020 às 17:00
Os registros históricos evidenciam que desde os primórdios a humanidade sofre com o surgimento de pandemias. São doenças virais que surgem e se espalham por toda a população em escala global. Mas como é o fim de uma pandemia?
Nem sempre uma pandemia tem um final diretamente ligado à erradicação da doença. Em alguns casos, o surto é apenas controlado com medicamentos, como é o caso do HIV e algumas pandemias de gripe do passado.
Entretanto, com a evolução tecnológica da medicina, hoje é possível vislumbrar uma solução mais definitiva, como a descoberta de uma vacina eficaz. Há de se ter, contudo, certa dose de paciência na espera pela conclusão das pesquisas.
Existem diversos fatores que podem influenciar na duração de uma pandemia. Estratégias de contenção da contaminação, adesão às medidas de proteção e intervenções por parte do Estado são apenas alguns desses aspectos.
Mas, historicamente, é possível afirmar que os números de contágio raramente cessam ou diminuem em menos de 1 ano. Na ocasião da gripe espanhola (1918-1920), por exemplo, foram dois anos de casos identificados em 3 ondas de contaminação.
Veja a duração de outras pandemias:
Mesmo tendo esses dados como parâmetro, é difícil, hoje, determinar quando deixaremos de conviver com o risco de contágio pelo covid-19. Apesar dos grandes avanços nas pesquisas, a vacinação em massa levará um bom tempo para ser finalizada.
Desde março, a prevenção contra o covid-19 tem feito parte da nossa rotina. Porém, nenhuma das medidas estabelecidas são suficientes para pôr um fim à pandemia. E, provavelmente, nem a aplicação da vacina nos dará um final imediato.
Recentemente, a diretora-executiva e cientista-chefe da Organização Mundial de Saúde (OMS), a pediatra Soumya Swaminathan, alertou sobre o período necessário para que todos sejam vacinados e, consequentemente, seja possível determinar o fim da pandemia.
“Estamos prevendo que demorará, pelo menos, até 2022 para que um número suficiente de pessoas comece a receber a vacina e construir imunidade. Portanto, ainda por muito tempo, teremos de manter o mesmo tipo de medidas que estão sendo implementadas atualmente, como o distanciamento físico, o uso de máscara e cuidados com a higiene”
Desse modo, apesar das previsões otimistas e do andamento satisfatório das etapas de testes, é preciso ter cautela. De acordo com a Fiocruz, somente em meados de 2021 poderemos ter uma vacina aprovada.
Entretanto, os desafios seguintes serão muitos, para que a vacinação seja ampla e irrestrita, como a fabricação em grande escala e a logística de distribuição global, por exemplo.
De acordo com a pediatra Soumya, somente depois da vacinação de aproximadamente 70% da população mundial é que será possível ter uma redução da transmissão do vírus.
Com a chegada do verão na Europa, muitos países do continente afrouxaram as restrições, e parte da população europeia abandonou as medidas de proteção; como o distanciamento social e o uso de máscaras.
O resultado foi a segunda onda de covid-19, identificada recentemente.
Os números de contaminados pela doença e de internações subiram vertiginosamente, levando alguns países a recorrerem novamente ao lockdown. No Brasil, os dados não apontam ainda um movimento semelhante.
Na verdade, é provável que a primeira onda ainda não tenha chegado ao fim por aqui. De acordo com os especialistas, os gráficos mostram que estamos no chamado platô, quando não há queda acentuada e permanente no número de casos.
Apesar das normas de flexibilização já terem sido implementadas em muitos Estados, e muitas pessoas não seguirem corretamente os protocolos de segurança, o país pode levar vantagem com a chegada da nova estação. No verão, a propagação do vírus costuma ser menor.
Contudo, é extremamente importante a manutenção das medidas de proteção, como: usar máscara quando sair, manter o distanciamento social e continuar a higienizar as mãos corretamente.
A imunidade de rebanho, quando não ocorre pela vacinação, consiste na exposição de uma grande parcela da população ao vírus, a fim de que criem anticorpos contra a doença e diminuam a propagação. Contudo, esse recurso é extremamente perigoso e desaconselhável.
Em artigo publicado na revista médica The Lancet, cientistas afirmam que a transmissão descontrolada, principalmente entre os jovens, poderia resultar em epidemias recorrentes; como é possível observar em pandemias anteriores. Além disso, não há comprovação de durabilidade.
Já um estudo publicado recentemente pela Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, que faz projeções da pandemia para os próximos meses, indica que apostar nessa estratégia, em nível mundial, pode ocasionar a morte de 4 milhões de pessoas até o final do ano.
Ademais, desde agosto foram identificados casos de reinfecção de covid-19. Até o momento, estão sendo investigados no Brasil 93 casos de possíveis reinfecções. E, recentemente, foram descobertas mutações no vírus; o que pode levar à disponibilidade de reinfecção por essa nova condição do vírus.
Sendo assim, fica claro que a imunidade de rebanho por meio da contaminação em massa não é o caminho correto. É de suma importância manter os protocolos de segurança contra o covid-19. Enquanto não houver o resultado de uma vacina segura e eficaz, é preciso cautela.