A acuidade visual é diferente em cada fase da vida. É imprescindível saber como a visão se modifica com a idade e quais são os riscos.
Rayane Santos | 13 de Outubro de 2022 às 18:30
A acuidade visual se modifica desde o nascimento. A visão torna-se mais nítida após um início “borrado”, mas os olhos começam a perder sua potência no início da meia-idade, e o risco de doenças aumenta à medida que envelhecemos. Esse sentido é muito importante para a vida diária e por isso é importante compreender como ele funciona.
A seguir, entenda mais sobre como a visão se modifica com a idade, possíveis riscos e cuidados necessários em cada fase da vida.
Uma ideia errada comum é a de que os recém-nascidos não enxergam. Sem dúvida, a qualidade da visão é baixa, mas eles conseguem enxergar objetos próximos e reconhecer o rosto da mãe quando ela está perto. Todavia, a interação entre a retina e o encéfalo ainda precisa aumentar para que o indivíduo enxergue bem.
Os bebês começam a aprender a focalizar entre 1 e 2 meses de idade, quando conseguem acompanhar um objeto em movimento, sobretudo aqueles dos quais gostam, como um rosto ou um chocalho brilhante. A coordenação dos músculos extraoculares está se iniciando, embora o acompanhamento ainda seja bastante irregular durante alguns meses. Aos 4 meses já há percepção de profundidade, e o bebê já consegue apanhar objetos mais facilmente.
A criança enxerga cores desde o nascimento, mas vê apenas as cores primárias. Somente por volta dos 9 meses começa a notar outras cores e a incorporar os vários tons e matizes. A visão das cores continua a ser aperfeiçoada depois desse período, assim como de objetos distantes. Aos 9 meses a acuidade visual do bebê é quase igual à do adulto.
O desenvolvimento pulmonar dos prematuros ainda é incompleto e por isso eles necessitam de oxigênio em uma incubadora. Isso os coloca sob risco de desenvolver um distúrbio chamado “retinopatia da prematuridade” (RP), que ocorre porque os altos níveis de oxigênio necessários para a sobrevivência podem ser tóxicos para os vasos sanguíneos em desenvolvimento na retina. O sangue dos vasos sanguíneos anormais extravasa e, em casos graves, há fibrose da retina.
Nesses casos, o oftalmologista pode tratar o tecido anormal da retina com laser ou crioterapia para evitar que essa condição evolua para cegueira. No entanto, a RP causa cegueira em cerca de 1% dos prematuros e provoca alguma deficiência visual em quantidades muito maiores. Os bebês nascidos antes de 28 semanas, pesando menos de 1,25 kg, correm maior risco, porque os vasos em formação na retina são particularmente vulneráveis.
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Durante o complexo processo de desenvolvimento do olho e do encéfalo que culmina na visão, podem ocorrer – e ocorrem – muitos problemas, que provocam distúrbios comuns dos olhos, como o estrabismo, a ambliopia e o nistagmo.
O estrabismo é o distúrbio no qual um olho aponta para uma direção diferente do objeto focalizado, causando o desalinhamento dos olhos. Pode ocorrer em adultos, mas é observado principalmente em crianças: ocorre em cerca de 4% delas, sendo pesquisado nos exames feitos antes do ingresso na escola.
Os olhos estrábicos podem apontar em direção ao nariz (esotropia) ou para fora (exotropia), e o estrabismo pode ocorrer sempre (estrabismo constante) ou apenas em uma parte do tempo (estrabismo intermitente).
Quando os olhos estão desalinhados, há perda da visão binocular e o encéfalo não consegue mais fundir as imagens dos dois olhos para formar uma imagem estereoscópica. Nessa situação, a criança pode ter visão dupla. Quando o estrabismo é constante, o encéfalo suprime a visão do olho mais fraco para evitar a visão dupla.
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Se o problema não for corrigido e a supressão da visão continuar, pode haver perda visual permanente. O distúrbio é chamado de ambliopia pelos médicos, mas é conhecido popularmente como “olho preguiçoso”.
O objetivo do tratamento é realinhar os olhos e obter a melhor visão possível com o olho mais fraco, para alcançar a visão binocular única. Não é verdade que o estrabismo melhora com a idade. Ele requer tratamento médico, que pode incluir uso de óculos, oclusão ocular e exercícios dos olhos, e quanto mais cedo for iniciado, melhor deverá ser o resultado final. A cirurgia dos músculos oculares é o último recurso. Pode haver necessidade de terapia visual para que os olhos atuem juntos nos casos de estrabismo.
Um distúrbio na via visual ou nos próprios olhos (glaucoma, catarata infantil e problemas da retina são alguns exemplos) pode provocar oscilações involuntárias dos olhos de um lado para outro, ou de cima para baixo, ou mesmo circulares. Isso é chamado de nistagmo. Pode ter início na vida adulta ou na infância.
Crianças albinas e portadoras da síndrome de Down são particularmente propensas ao nistagmo. Os adultos que têm o distúrbio tendem a apresentar movimento constante da imagem formada, mas o encéfalo dos jovens adapta-se muito melhor ao movimento ocular.
O nistagmo está associado à deficiência visual, e algumas crianças afetadas podem ter visão parcial ou cegueira. Mesmo aqueles com visão relativamente boa podem ter problemas em algumas atividades, como a leitura, cansando-se facilmente e necessitando de uma lupa.
O processo de aprendizagem em crianças com problemas visuais graves pode ser excelente, seja em escolas regulares ou especializadas. Para tanto, é preciso identificar a necessidade visual e oferecer os recursos adequados, bem como o apoio do professor.
Por outro lado, crianças com problemas visuais leves não diagnosticados podem ter dificuldades de aprendizado específicas que não são associadas à visão. A visão a distância, a visão periférica e a coordenação olho-mão são importantes para a prática de esportes, por exemplo, ao passo que a visão de perto e as habilidades de movimento ocular são essenciais para a leitura.
Sinais comuns de dificuldade de aprendizagem associada à visão são:
Algumas crianças com problemas visuais podem ser disléxicas, embora esses tipos de problema não sejam a principal causa de dislexia. Dificuldades de aprendizagem relacionadas à visão e à dislexia são dois distúrbios diferentes que se superpõem.
A capacidade de leitura das crianças com síndrome de Meares-Irlen, por exemplo, melhora muito com o uso de lentes coloridas nos óculos, ou com a colocação de folhas plásticas coloridas sobre a página. O brilho na página, a distorção e o emaranhamento das letras desaparecem com esse recurso simples.
Identificar e corrigir problemas visuais pode fazer toda a diferença entre a capacidade de participar plenamente ou não das atividades escolares – o que é decisivo para uma vida escolar feliz e produtiva. Os pais devem marcar um exame de vista se notarem um dos sintomas a seguir na criança – é provável que não haja problemas, mas é melhor verificar:
No início da vida adulta a visão geralmente é estável, mas à medida que envelhecemos é comum que haja deterioração da visão.
Crianças pequenas conseguem ver uma imagem nítida mesmo quando se sentam bem perto da televisão. Depois dos 40 anos, porém, fica cada vez mais difícil realizar tarefas de perto, e até a leitura pode ser dificultada. Isso é chamado de presbiopia, e o seu aparecimento é apenas uma questão de tempo.
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Com o passar dos anos, o cristalino aumenta e endurece. A presbiopia está associada à perda da capacidade de acomodação do cristalino, que perde a capacidade de mudar seu formato e focalizar objetos próximos. Quando isso acontecer, você deve procurar o oftalmologista para que ele prescreva óculos de leitura. Os óculos corrigem a visão – não afetam a presbiopia, e o endurecimento do cristalino pode continuar, por isso é importante fazer exames de vista regulares a cada dois anos.
Em uma pessoa de 60 anos, a quantidade de luz que chega à retina é três vezes menor do que em uma pessoa de 20 anos. Por isso, à medida que envelhecemos, precisamos cada vez mais de melhor iluminação, tanto em casa quanto no trabalho.
Essa necessidade está associada à lentidão da resposta da pupila e à má transmissão da luz através do cristalino. Com o envelhecimento gradual dos olhos, a pupila reage mais devagar e de modo inadequado às alterações da luz. Assim, a visão dos idosos tende a ser ofuscada com mais facilidade quando exposta à luz intensa e leva mais tempo para se adaptar ao escuro, o que aumenta o risco de acidente.
A gravidez pode influenciar a refração da córnea, dificultando a visão. Logo após o parto esse efeito costuma desaparecer e a visão fica normalizada. No entanto, a turvação associada a cefaleia e sensibilidade à luz deve ser comunicada ao médico, pois são sintomas que podem ser causados por hipertensão arterial associada à gravidez.
O ressecamento ocular ocorre quando não há lágrimas suficientes na superfície dos olhos. Em algumas mulheres, ele é acentuado durante a gravidez, o que pode dificultar o uso de lentes de contato. O edema palpebral, causado pela retenção de água, pode ser um efeito colateral desconfortável da gravidez. Abandonar a ingestão de cafeína e diminuir o consumo de sal ajuda a reduzir o edema.
À medida que o tempo passa, aumenta o risco de glaucoma, catarata ou degeneração macular relacionada à idade (DMRI) – problemas comuns em idosos.
Além disso, pode haver retinopatia associada ao diabetes melito. A catarata é a principal causa de cegueira em todo o mundo, ao passo que a DMRI predomina nos registros de cegueira e deficiência visual no Ocidente. A maioria das pessoas, se viver por tempo suficiente, sofrerá de algum distúrbio ocular associado à idade.
Estima-se que cerca de 1 milhão de brasileiros tenham glaucoma diagnosticado, mas, segundo dados da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, 80% dos portadores do distúrbio não apresentam sintomas no início da doença, indicando que o número de pessoas acometidas pode ser muito maior.
O tipo mais comum é o glaucoma de ângulo aberto, que é tratável, pois a perda do campo visual induzida pela pressão intraocular (visão em túnel) pode ser impedida ou retardada por medicamentos que reduzem a pressão intraocular. Os colírios precisam ser usados diariamente durante toda a vida.
Se o tratamento for mal sucedido, a cirurgia é uma opção com alto índice de sucesso. A identificação precoce do glaucoma tem bom prognóstico, mas se o diagnóstico é tardio os resultados são piores. Ainda não há meios de reverter a perda do campo visual; o tratamento destina-se a preservar a visão remanescente.
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Nesse distúrbio, ocorrem alterações no centro do cristalino que o tornam opaco. No início, a área opaca é pequena e não tem consequências reais, mas com o passar dos anos a opacidade se dissemina. Aos 65 anos, muitas pessoas têm algum grau de catarata.
Ainda não existe medicamento que reverta ou interrompa seu avanço, mas o cristalino opaco pode ser removido cirurgicamente, se necessário, para restaurar a visão. Por meio de técnicas de cirurgia endoscópica, é introduzida uma lente plástica no olho, evitando o uso dos antiestéticos óculos para catarata, que já foram muito comuns.
A DMRI acarreta uma perda da visão central lenta ou, em alguns casos, rápida, causada pela disfunção da mácula na retina. A mácula acaba degenerando e morre. Por isso, o resultado final é a perda total da visão central.
A incidência de DMRI está aumentando no Ocidente, mas ainda não há tratamento para a grande maioria dos casos – embora as pesquisas sejam intensas e progressos venham sendo alcançados. Apesar de ainda ser mal compreendida, está claro que a DMRI não acomete igualmente todos os grupos populacionais: é rara, por exemplo, na África e no Extremo Oriente.
O estilo de vida e a alimentação são fatores importantes – acredita-se que a exposição excessiva à luz forte (olhar para o sol ou para a luz de uma fotocopiadora, por exemplo) e o tabagismo provoquem DMRI, e alguns estudos mostraram que as vitaminas antioxidantes (C, A e E) dos alimentos retardam seu início. Para a qualidade de vida, é importante que os portadores de DMRI usem da melhor forma possível a visão restante, o que exige apoio e orientação adequada, boa iluminação e recursos visuais.
O ressecamento dos olhos é comum em idosos. Usar colírios do tipo lágrima artificial quando os olhos parecerem muito arenosos traz alívio.
A probabilidade de problemas palpebrais também aumenta com a idade. A queda da pálpebra superior (ptose) decorre da perda dos tecidos elástico e adiposo. Em casos extremos, quando a visão é prejudicada, a cirurgia é a solução.
A cirurgia também é a solução quando os cílios na pálpebra inferior se viram para dentro, irritando e lesando a córnea (entrópio), ou para fora, causando lacrimejamento e maior risco de infecção.