Mais velho, do meio ou caçula? Isso pode determinar por que você e seus irmãos são tão diferentes um do outro! Saiba mais!
Redação | 1 de Julho de 2020 às 01:01
Digamos que você esteja planejando uma festa. Se tiver resolvido cada detalhe perfeitamente com uma semana de antecedência, com até os guardanapos combinando, provavelmente você é o filho mais velho. Se junta as coisas de qualquer jeito e convida mais alguém no último minuto, posso apostar que é o filho do meio. Mas, se prefere que outra pessoa faça tudo para que você só apareça e divirta todo mundo, provavelmente é o caçula.
A ordem do nascimento e sua influência sobre como levamos a vida é tema de fascínio há mais de um século para pesquisadores, psicólogos, terapeutas e todos os interessados na dinâmica familiar. “As pessoas usam a ordem do nascimento como um modo poderoso de entender a vida”, diz Frank Sulloway, professor-adjunto do Departamento de Psicologia da Universidade da Califórnia, campus de Berkeley. Sulloway é um dos principais pesquisadores do assunto. Ele diz que os irmãos têm em comum apenas cerca de metade dos genes, o que nos deixa uma combinação de genes não idênticos e influências ambientais para explicar as diferenças de personalidade. “E a ordem do nascimento ainda está entre as maiores diferenças que fomos capazes de documentar”, destaca ele. Na verdade, a diferença na ordem do nascimento tem papel quase tão importante quanto a diferença de gênero.
Supomos que os irmãos nascem exatamente na mesma família, mas não é bem assim. Os primogênitos chegam a um ambiente de adultos e, tipicamente, recebem muita atenção de pais inexperientes, fascinados com cada marco e apavorados com cada contratempo. Os filhos do meio nunca terão os pais só para si e são ofuscados pelos irmãos mais velhos, que correm, escalam e falam antes deles; depois, espera-se que deem o exemplo para os mais novos. O caçula da família chega a uma casa movimentada, com pais menos tensos, e logo aprende a trocar encanto por atenção. Em consequência, os primogênitos são condicionados a realizar bem as coisas, os do meio, a negociar e os caçulas, a agradar.
Embora explique que a ordem do nascimento não causa diretamente certos traços, Marion Balla, terapeuta e educadora de Ottawa, no Canadá, acredita que “esse é um dos fatores mais determinantes do desenvolvimento da personalidade”. Ela é presidente do Grupo Adleriano de Orientação e Assessoramento, que recebe o nome de Alfred Adler, psicoterapeuta austríaco que, no início dos anos 1900, foi o primeiro a ligar a ordem do nascimento à personalidade. Balla diz: “Durante quarenta anos, venho usando a ordem do nascimento para ajudar as pessoas a entenderem o modo como se veem e como isso pode influenciar seus relacionamentos.”
Pesquisas do mundo inteiro indicam que os primogênitos costumam ter mais em comum entre si do que com os próprios irmãos. Os filhos mais velhos logo aprendem a agradar os pais e se tornam conscienciosos, organizados, confiáveis e minipais dos irmãos mais novos. São grandes realizadores e escolhem profissões sólidas e estabelecidas, como direito, medicina, educação ou contabilidade, chegando a cargos de liderança.
Isso não surpreende o psicólogo Kevin Leman, de Tucson, do estado americano do Arizona, autor de uma série de livros como Mais velho, do meio ou caçula: A ordem do nascimento revela quem você é. “Os primogênitos sempre mandarão”, revela ele. Vários estudos mostraram que sua probabilidade de se tornarem presidentes executivos de empresas é duas ou três vezes maior do que a dos caçulas. E um estudo norueguês clássico de 2007 constatou que os primogênitos têm um Q.I. cerca de três pontos mais alto do que o irmão seguinte. Pode ser que os pais ofereçam mais estímulos mentais ao primeiro filho.
“O tempo disponível para ler para o primeiro filho, para lhe explicar coisas, é maior”, afirma Meri Wallace, terapeuta de crianças e famílias de Nova York e autora do livro Birth Order Blues (A melancolia da ordem de nascimento). Por exemplo, diz ela, o pai pode perguntar ao filho numa caminhada: “Por que você acha que o céu é azul?” Assim, os filhos mais velhos desenvolvem mais habilidade analítica e pensamento conceitual. Talvez por isso 21 dos primeiros 23 astronautas da NASA foram primogênitos. Albert Einstein e Winston Churchill eram primogênitos também.
No entanto, eles sentem mais pressão para fazer tudo bem-feito e podem se tornar perfeccionistas. E, por acreditar que só há um jeito certo de fazer as coisas, os primogênitos criticam os outros jeitos. Leman diz que quem nasce depois – os filhos do meio e os mais novos – tende a observar isso nas reuniões familiares. “Você pode ter criado quatro filhos, mas agora sua irmã mais velha vem lhe dizer como cozinhar.”
Sua filosofia é: “Vou fazer isso direito, e você também deveria.” Você é consciencioso, confiável, sério, voltado para metas, organizado e analítico. Evita a imprevisibilidade.
As pessoas o veem como líder, solucionador de problemas e defensor da tradição, mas podem se incomodar com sua visão crítica, falta de perdão e mania de mandar.
As carreiras prováveis são engenharia, direito, medicina, educação, enfermagem, contabilidade ou administração.
Nos relacionamentos românticos, você espera tanto dos outros quanto de si, o que pode provocar decepções. O casamento entre dois primogênitos pode provocar atrito, diz Leman, porque ambos se esforçam para ser o líder. A melhor combinação é com um caçula ou filho do meio.
Enquanto os primogênitos querem fazer tudo certo, os do meio preferem fazer diferente. O segundo filho observa com atenção a posição que o mais velho ocupa e depois cria um nicho distinto. Se o primeiro brilha em matemática, tênis e violino, o segundo pode buscar desenho, violão e skate. No mundo dos prêmios Nobel, os primogênitos são super-representados
na ciência; os filhos do meio, na literatura. Em termos históricos, os filhos do meio é que foram responsáveis por mudanças sociais, que lutaram por igualdade, liberdade de expressão, liberdade de culto e abolição da escravatura, diz Sulloway. Madre Teresa, Darwin, Nelson Mandela e Gandhi foram todos filhos do meio.
A chegada de um terceiro filho cria o filho do meio, e é difícil classificá-lo; para ele, tudo bem, pois evita ativamente as classificações. Em geral, os filhos do meio se tornam pacificadores dos irmãos e são ótimos árbitros e negociadores. Um estudo mostrou que os filhos do meio têm melhor desempenho em situações grupais do que os filhos mais velhos ou os caçulas. “Eles tendem a se relacionar bem com os outros e acalmar situações”, explica Wallace. “Conseguem ver as coisas de vários ângulos.”
Os filhos do meio, seja o segundo de três, o segundo e o terceiro de quatro ou os cinco intermediários de sete, costumam aparecer em menos fotos nos álbuns da família. Por terem menos tempo de exclusividade com os pais, os filhos do meio formam apegos com os colegas e, em geral, desenvolvem extensas redes de amizade. Embora possam amar profundamente a família, têm mais chance de se mudar para longe, menos probabilidade de se preocupar com genealogia e são mais preparados para as vicissitudes da vida.
Os filhos do meio são os mais monógamos e têm os relacionamentos mais felizes, de acordo com uma pesquisa israelense sobre felicidade. Katrin Schumann, coautora de The Secret Power of Middle Children (O poder secreto dos filhos do meio), diz que eles têm a mente mais aberta e são mais aventurosos no sexo, e sua probabilidade de trair nos relacionamentos é menor do que a dos irmãos. Também têm menos probabilidade de fazer terapia e, de acordo com um estudo espanhol de 2013, menos probabilidade de receber diagnóstico de transtornos emocionais. Isso pode se dever ao companheirismo constante dos irmãos.
Sua filosofia é: “Vamos olhar isso de um jeito diferente.” Você é sociável, flexível, tem a mente aberta, o espírito livre, é inventivo, agradável e, às vezes, rebelde. As pessoas o veem como construtor de consensos, pacificador, defensor dos fracos e oprimidos e rebelde contra injustiças.
Você evita confrontos e classificações, e as pessoas podem se incomodar com seu sigilo, indecisão e indisposição de revelar seus sentimentos.
Entre as carreiras prováveis estão mediação, diplomacia, serviço social, ensino e atividades autônomas.
Nos relacionamentos românticos, você é fiel. Às vezes, você cede ao parceiro em nome da cooperação e ignora seus próprios sentimentos. Num casamento entre dois filhos do meio, ambos podem evitar abordar problemas e se comunicar mal, diz Balla. A melhor combinação é com um primogênito ou caçula.
O menorzinho da família tende a receber menos castigos, menos responsabilidades e mais público. Embora raramente sua opinião seja consultada ou respeitada, os caçulas logo aprendem que ser engraçado e adorável é muito útil para conquistar atenção e aprovação. Não admira que muitos comediantes sejam caçulas: Jim Carrey, Tina Fey, Robin Williams, Steve Carell e Billy Crystal, para citar alguns.
Também são mais empreendedores; um estudo de 2016 feito no Reino Unido constatou que os caçulas de famílias não empreendedoras têm probabilidade muito maior de abrir empresas próprias do que os outros irmãos. Essa característica afeita aos riscos tem seus pontos negativos: o caçula é o mais vulnerável a hábitos viciantes, de acordo com a Dra. Sue Varma, psiquiatra de Nova York. É mais provável que comecem a fazer sexo e a fumar cigarros mais jovens do que os irmãos. Um estudo feito com adultos suecos mostrou que os que nascem por último têm mais probabilidade de morrer de câncer do aparelho respiratório do que os irmãos mais velhos. Os pesquisadores desconfiam que é porque começam a fumar mais cedo, o que pode promover um hábito de longo prazo.
Mas há boas notícias no campo da saúde: num estudo japonês apresentado em 2011, com mais de 13 mil crianças entre 7 e 15 anos, os irmãos mais novos tinham menos chance de apresentar febre e alergia alimentar do que os mais velhos. Uma explicação possível: os filhos mais velhos são superprotegidos de micróbios em comparação com os demais, expostos aos germes que os irmãos maiores trazem da escola. Além disso, quando os mais novos nascem, os pais talvez tenham relaxado a limpeza impecável da casa, o que pode estimular o sistema imunológico dos menores.
Sua filosofia é: “Parece divertido. Vamos lá!” Você é encantador, impetuoso, divertido, afetuoso, convincente, sentimental, inseguro e aventuroso. Tem fome de atenção e respeito e evita responsabilidades.
As pessoas podem vê-lo como a alma da festa, amante de riscos e inovador, mas podem se incomodar com suas outras características: você pode ser desatento, autocentrado ou manipulador.
Entre as carreiras prováveis estão: teatro, comédia, música, artes plásticas, esportes, vendas e marketing.
Nos relacionamentos românticos, você é adorável, mas tende a querer muita atenção. É impaciente com coisas como pagar contas ou marcar consultas e talvez deixe essas responsabilidades para o cônjuge. O casamento entre dois caçulas pode se concentrar na diversão à custa da responsabilidade. A melhor combinação é com um primogênito ou filho único. Leman diz que os caçulas precisam dos primogênitos para endireitá-los, e os primogênitos precisam dos caçulas para ficarem mais leves.
Não se identificar com a descrição de sua ordem de nascimento não é raro, como explica Jennifer Campbell, psicóloga e pesquisadora do assunto na Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos: “Só 60% das pessoas se identificam com sua ordem cronológica de nascimento.” Há muitas variáveis que podem alterar o efeito da ordem, inclusive o gênero. Quando um menino nasce depois de uma ou mais meninas (ou uma menina depois de um ou mais meninos), essa criança pode ser criada como “primogênito funcional” – o primeiro filho ou filha da família. Se o espaço entre os irmãos for de cinco anos ou mais, o efeito da ordem de nascimento se reduz. Divórcio, incapacidade física ou morte de qualquer membro da família também altera o efeito.
As famílias menores de hoje provocam um excesso de primogênitos e filhos únicos e déficit de filhos do meio. “Com famílias menores, corremos o risco de ter mais crianças decididas e perfeccionistas”, adverte Leman.
E as crianças sem irmãos? O filho único recebe toda a atenção dos pais pelo resto da vida, o que tem prós e contras. “Você é o primeiro e o caçula, por isso tem uma mistura de experiências”, diz Wallace. Embora possa ser um grande realizador, também é infantilizado. Ao mesmo tempo, “os filhos únicos são como miniadultos, porque vivem num mundo de adultos”, explica Campbell. Mas não é preciso ter pena dos filhos únicos: um estudo do Reino Unido constatou que são mais felizes porque não têm de enfrentar a rivalidade entre irmãos. Ao contrário do pensamento popular, a análise mostra que os filhos únicos não são solitários. Os recursos que os pais podem lhes dedicar costumam levá-los ao sucesso.
Uma última nota: Leman alerta que, seja qual for a ordem de seu nascimento, provavelmente você acha que seus irmãos tiveram um quinhão melhor. Se for o caçula, acha que o irmão mais velho recebeu primeiro o que havia de melhor da família; se for primogênito, inveja o filho do meio que tem a liberdade de escolher um caminho independente; e todos reclamam que o caçula sempre se dá bem em tudo. Basta lembrar que a ordem do nascimento é só uma influência, não um destino.