O simples ato de sair de casa pode estar desencadeando sua ansiedade. Entenda como a Covid-19 pode agravar a agorafobia em algumas pessoas.
Douglas Ferreira | 16 de Novembro de 2020 às 17:00
Desde que a pandemia da Covid-19 começou, muitas coisas mudaram. Em geral, as pessoas estão passando mais tempo em casa, seja porque precisam ficar em quarentena, porque querem reduzir o risco de transmissão da doença ou porque perderam seu sustento e estão desempregadas.
Embora o impacto desse isolamento na saúde mental possa variar, o impacto nas pessoas que já têm ansiedade ou algum nível de medo de multidões ou de interagir com outras pessoas é inegável.
“O isolamento, por causa da pandemia do coronavírus, certamente está reforçando a ansiedade para pessoas que sofrem de agorafobia, ansiedade de separação ou ansiedade social ”, diz Jenny Yip, psicóloga e professora assistente de psiquiatria na Escola de Medicina Keck da Universidade do Sul da Califórnia em Los Angeles.
A agorafobia é um tipo de transtorno de ansiedade em que o indivíduo teme e evita lugares. Ela é caracterizada por sintomas como medo e ansiedade incontroláveis de viver situações que fujam do controle do indivíduo e possam causar constrangimento em meio a multidões, locais abertos ou muito fechados. Uma pessoa agorafóbica também tende a evitar situações onde se sinta desamparada, envergonhada ou situações das quais acha que não poderá escapar.
Segundo dados do Hospital Israelita Albert Einstein, cerca de 150 mil brasileiros sofrem de agorafobia – número que pode ter aumentado por causa da pandemia.
A professora Carmem Beatriz Neufeld, do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto esclarece que pessoas que já tiveram ataques de pânico são mais suscetíveis a apresentar o problema.
A agorafobia tende a ocorrer no fim da adolescência ou depois dos 40 anos. O tratamento varia de caso para caso, mas, em geral, a indicação é de psicoterapia, podendo ser associada ao tratamento medicamentoso.
Com a pandemia, algumas pessoas podem sentir uma ansiedade crescente ao sair de casa. Mas também há aqueles cuja ansiedade é desencadeada por ficar em casa, pois um ambiente sem distrações gera ruminação que pode levá-lo a um lugar negativo, diz Yip. De qualquer forma, são tempos estressantes.
Quanto mais a pandemia persistir, maior será o impacto que ela terá sobre as pessoas que se sentem desconfortáveis ao sair de casa, diz a psiquiatra Carole Lieberman.
“Há muitos meses nos dizem que é perigoso ir a qualquer lugar onde possa haver outras pessoas, como um supermercado ou uma igreja”, diz ela. Portanto, as ameaças parecem ainda maiores.
A maioria das pessoas ajustou suas vidas e adquiriu o hábito de passar mais tempo em casa. Isso inclui trabalhar em casa, o que nos condiciona a estarmos confortáveis dentro de casa quase o dia todo, todos os dias
“Quando olhamos para fora, pode parecer que é preciso muito mais energia para realmente sair e fazer as coisas”, diz Lieberman.
Um dos tratamentos possíveis para um transtorno de ansiedade é conhecido como terapia de exposição.
A terapia de exposição é uma forma de terapia cognitivo-comportamental que envolve a exposição repetida às situações que você teme. Evitá-los apenas reforça o medo. Portanto, enfrentá-los de frente fornece a seu cérebro a oportunidade de aprender e descobrir que seu medo é desproporcional ou irracional. Enfrentar ou superar medos também aumenta a confiança.
Isso não significa que você deva sair por aí se você não se sentir confortável – especialmente se você mora em uma área com um número crescente de casos.
Em vez disso, Yip sugere criar o hábito de sair várias vezes por semana. De preferência, algo como dar um passeio ao ar livre pelo quarteirão ou parque, já que a combinação de natureza, luz solar e atividade física desencadeia “hormônios da felicidade”, como endorfinas e dopamina. Isso vai reforçar a noção de que, sim, é bom estar fora, explica ela.
Isso pode parecer complicado em uma pandemia – afinal, você não deveria evitar sair e interagir com as pessoas? Você ainda precisa viver sua vida. Mas tome as medidas de segurança necessárias como higienizar as mãos adequadamente, usar máscara e praticar o distanciamento social, diz Yip.
A pandemia faz parecer que todas as suas ansiedades e medos são normais e justificados. E isso pode fazer você pensar que não deveria procurar ajuda, já que quase todo mundo tem medo de sair.
Mas pergunte-se: até que ponto sua ansiedade e preocupação estão interferindo em seu funcionamento? Pergunte-se:
Se você respondeu positivamente a essas perguntas, é hora de procurar ajuda. A boa notícia é que muitos médicos e psicólogos adotaram o teleatendimento, o que significa que você pode se sentir confortável para iniciar a terapia.