Enquanto os países mais afetados estenderam a quarentena, a redução no contágio em outros faz crescer a discussão sobre como retomar as atividades.
Iana Faini | 6 de Abril de 2020 às 11:30
O coronavírus ainda faz novos doentes e provoca mortes todos os dias na Europa, mas esses números diários estão decrescendo em alguns países. Enquanto os governos dos países mais afetados estenderam a quarentena, a redução no contágio em outros faz crescer a discussão sobre como retomar a atividade, paralisada há quase um mês na Itália e há três semanas na maioria dos outros países.
Na Áustria, o governo afirmou que os números diários de novos casos e de internados em UTIs caíram significativamente nos últimos dias, e houve mais recuperados que diagnosticados: entre sábado (4) e domingo (5), o país registrou 240 novos contágios, e 491 pessoas receberam alta.
Apesar de os números darem indícios de melhora, o ministro da Saúde austríaco, Rudolf Anschober, pediu que as pessoas mantenham as medidas de isolamento: “Nada de viagens de feriado e celebrações de Páscoa”.
O chanceler da Áustria, Sebastian Kurz, deve apresentar nesta segunda (6) um primeiro projeto de retomada das atividades, indicando quando e em que condições as restrições serão retiradas.
“Se todos mantivermos a disciplina durante a Páscoa, estou confiante de que poderemos começar a voltar gradualmente e cautelosamente à normalidade”, disse Kurz ao jornal Kleine Zeitung. O país tem 11.934 casos e 204 mortes.
Espanha, Bélgica, França e Finlândia criaram comissões para estudar opções para a volta às aulas e o relaxamento de restrições; já o governo italiano disse que está em “constante consulta” com cientistas para decidir quando começar a reabertura.
Neste domingo, a Espanha divulgou o menor crescimento de mortes diárias em nove dias: 674 em 24 horas, elevando o total para 12.418. O número de novas infecções subiu 5%, também a menor taxa de crescimento desde o começo da crise. O país, que tem 130.759 infectados, entrou em quarentena em 15 de março, 11 dias depois da primeira morte.
Apesar da queda nos novos registros, ainda há hospitais com capacidade de atendimento esgotada; e o governo espanhol renovou as medidas de isolamento até 25 de abril.
Na Bélgica, o número diário de internações em UTIs teve neste domingo sua maior redução: houve 16 novos pacientes internados; o menor número desde quando começaram os registros.
Em quarentena desde o dia 17 de março, seis dias depois da primeira morte, a Bélgica não enfrentou colapso nos hospitais. A ocupação dos leitos para cuidados intensivos se manteve em cerca de 50% na última semana, com 1.261 casos graves de Covid-19.
Na Itália, que completa um mês de quarentena na próxima quinta (9), também caiu o número diário de internações em hospitais em UTI. De 1.276 novas entradas diárias em hospitais e 120 novos casos em UTI em 23 de março, passou a 201 internações diárias e 15 casos em UTI na sexta (3).
Entre sexta e sábado, o número total de internados em UTIs caiu 74, e entre sábado e domingo, houve nova redução, de 17. No total, 3.977 doentes estão em cuidado intensivo no país.
Foi neste domingo o menor incremento no número de mortes em duas semanas, 525; e pela primeira vez, caiu o número de hospitalizados, de 29.010 para 28.949.
No mesmo pronunciamento em que anunciou uma prorrogação da quarentena até 13 de abril, o premiê Giuseppe Conte afirmou que espera o aval de cientistas para começar a relaxar as restrições, mas que, apesar de números recentes, não pode antecipar uma data.
A desaceleração acontece também em países que têm intensificado o número de testes (o que aumenta o número de confirmações), como a Alemanha, que registrou números menores de novos casos em três dias seguidos.
Neste final de semana, a Alemanha atingiu a capacidade de testar 100 mil pessoas por dia, segundo o instituto de controle de doenças Robert-Koch Institute. No total, já foram feitos 1,5 milhão de exames para detectar infectados.
Os alemães preparam agora um novo programa intensivo de testes para descobrir quem desenvolveu anticorpos contra o coronavírus; o que acontece quando o corpo entra em contato com o patógeno e reage à infecção, derrotando-a.
O Centro Helmhotz de Pesquisa de Infecções (HZI) vai coordenar um estudo com 100 mil participantes, para detectar a presença dos anticorpos.
Em tese, um resultado positivo poderia significar imunidade. “Indivíduos imunes poderiam ter um certificado semelhante ao de vacinação, que os isentasse de restrições em algumas atividades, afirmou o coordenador do estudo, Gérard Krause.
É essa uma das estratégias também do Reino Unido, que vem estudando a ideia de um “passaporte de imunidade”, segundo o secretário da Saúde, Matthew Hancock. O país negocia 17,5 milhões de testes de anticorpos e tem planos para submeter um quarto da população a eles em meados deste mês.
Conselheira-adjunta para assuntos médicos do governo britânico, Jennie Harries disse que regiões do país em que haja mais imunidade podem voltar à atividade antes. O retorno será feito “com muita cautela”, no entanto, para evitar uma segunda onda de infecções.
A ideia é arriscada, segundo cientistas, porque ainda não se sabe com certeza se quem se curou da doença desenvolveu imunidade duradoura. “Certificados de imunidade podem dar uma falsa segurança, que leve as pessoas a reduzirem cuidados indispensáveis“, escreveu a professora de imunologia da Universidade de Edimburgo, Eleanor Riley, no jornal britânico The Guardian.