Você tem o hábito de usar colírio? Esse medicamento de uso tópico é indicado para o tratamento de diversas doenças oculares, como glaucomas e
Você tem o hábito de usar colírio? Esse medicamento de uso tópico é indicado para o tratamento de diversas doenças oculares, como glaucomas e conjuntivites.
Além disso, também costuma ser bem popular para quem passa longos períodos em frente ao computador, hábito que pode ressecar os olhos, trazendo desconfortos ao longo do dia.
Mas antes de comprar o seu colírio é importante saber que existem colírios para todo tipo de situação e, dependendo do caso, é importante ter atenção para que seu uso não cause algum prejuízo para sua saúde ocular.
Por isso, conversamos com a Dra. Aline Couto, oftalmologista do dr.consulta especialista em córnea. A médica explicou para que servem os colírios, quem pode usar e como deve ser o uso. Confira!
Qual é o intuito do colírio?
Dra. Aline Couto: O colírio tem várias funções, mas basicamente serve para tratar ou melhorar sintomas diversos de queixas oftalmológicas. Assim, pode ter a finalidade terapêutica quanto a sintomática. Também há a categoria dos lubrificantes, que servem para diminuir a sensação de ressecamento dos olhos.
Eles podem ser usados no tratamento de quais doenças oculares?
Dra. Aline Couto: Eles podem ser usados para diversas doenças oculares, como glaucoma, doenças de acometimento da conjuntiva, que incluem degenerações, cistos, tumores, metaplasias etc.
Também há colírios para acometimentos na córnea, como ceratite, úlcera, desepitelização (alteração na primeira camada da córnea, chamada de epitélio, quando há uma perda de células epiteliais).
Além disso, também há colírios para o filme lacrimal, como a síndrome do olho seco. No geral, inflamações na estrutura do olho podem ser tratadas com colírio, inclusive as causas infecciosas.
As doenças mais comuns e que não se tratam com colírio são a catarata, descolamento de retina, além doença macular (DMRI) que é devido à idade, uma degeneração natural das células responsável por captar a luz e transformá-la na imagem que enxergamos, localizada na parte central da retina, que também não é tratada com colírio, e sim com uso de medicação local por meio de injeções intraoculares.
Como o colírio para glaucoma atua?
Dra. Aline Couto: Há basicamente quatro categorias de colírios para tratar o glaucoma, lembrando que cada categoria age de formas diferentes. Por exemplo, uma categoria de colírio diminui a produção do líquido que fica dentro do olho, para evitar picos de pressão.
Há também a categoria responsável por otimizar a drenagem do líquido dentro do olho. As outras duas categorias são mais específicas para vários tipos de glaucoma. Assim, o oftalmologista vai indicar o tratamento ideal para cada um.
Muita gente recorre ao uso dos colírios para “limpar a vista”, fazendo uso contínuo deles. Esse hábito pode fazer mal à vista?
Dra. Aline Couto: Depende. A superfície do olho acumula sujeira na área dos cílios, proveniente das impurezas que se encontram no ambiente. Essa sujeira pode cair na conjuntiva (superfície branca do olho), e a córnea, que é a área central (basicamente a lente do olho – um tecido transparente localizado na frente da íris).
Um exemplo é a maquiagem utilizada na margem ciliar, e no momento que a pessoa pisca, os cílios de cima cruzam com os de baixo, assim fragmentos podem cair na superfície anterior do olho. Uma queixa usual que as pessoas têm é a sensação de areia ou coceira.
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O uso de colírios neste caso seria o da categoria de lubrificantes, mas é importante ressaltar que existem diversos tipos, em que cada um atua para cada finalidade.
Existem colírios lubrificantes que fazem uma vasoconstrição dos vasinhos localizados na superfície do olho, responsáveis por clarear o olho, para tratar a vermelhidão que incomoda o paciente.
Só que esses colírios não colaboram para a limpeza do olho, apenas para a hidratação natural. Para os pacientes que têm sintomas, e a consulta oftalmológica é fundamental, podem ser indicados alguns tipos de colírios lubrificantes, com as doses e frequências corretas.
Assim, a orientação é higienizar a área ciliar com um sabonete ou shampoo neutro. De toda forma, caso a pessoa tenha algum incômodo, a recomendação é procurar um oftalmologista.
Quem trabalha em frente ao computador pode fazer uso de colírios para evitar o ressecamento da vista?
Dra. Aline Couto: Sim, mas há algumas observações. A pessoa que fica muito tempo em frente ao computador pode ter o ressecamento por vários motivos. Por exemplo, se a pessoa tem indicação de usar óculos para enxergar melhor pode ter ressecamento por não estar usando e pode ficar intolerante para olhar a tela.
Um segundo ponto, e esse é muito importante, quando se fica na frente da tela, o olho pisca menos, porque temos um modo de atenção e concentração por muitas horas, o que faz piscar menos. Neste piscar menos, o olho pode ter, ao longo do dia, a sensação de ressecamento.
Outra coisa é o ambiente. Se houver ar condicionado, pode piorar a queixa. Também é importante pontuar que a sensação de ressecamento é maior no verão que no inverno.
Quando examinamos o paciente, também avaliamos o que ele tem de queixa, porque às vezes ele pode achar que é ressecamento, mas é falta de óculos. Durante a consulta, conseguimos avaliar a quantidade de lágrima, estimar o tempo que ela fica na superfície, se isso está sendo suficiente para o paciente.
Às vezes, não basta uma consulta, temos que acompanhar o paciente mais de uma vez, em momentos diferentes do dia para conseguir identificar outras coisas.
Mas na maioria das vezes, quando essa queixa é compatível com o que é examinado, podem ser indicado um hidratante ocular ou um lubrificante para minimizar essa sensação. E é uma queixa comum de pacientes que trabalham muito tempo em frente às telas.
Os colírios são livres de interações medicamentosas?
Dra. Aline Couto: Não, mas é raro, porque a maioria dos colírios têm ação, principalmente local, no globo ocular mesmo. A concentração de colírio que circula de forma sistêmica não dá nem para quantificar.
Existem, no entanto, alguns colírios que são usados em posições bem definidas, pois devem atingir uma determinada área do olho, mas mesmo assim a interação é bem rara, mas pode acontecer. Por isso, durante a consulta, perguntamos ao paciente quais são os antecedentes pessoais (como uma doença sistêmica) ou se faz tratamento.
O mais comum é o paciente que ingere um medicamento para alguma doença sistêmica ter sintomas ou alterações oculares, como para quem tem pressão alta ou depressão, que geram sintomas ou pioram para a síndrome do olho seco, por exemplo.
Se usados em excesso, os colírios podem ser prejudiciais?
Dra. Aline Couto: Sim, principalmente para quem usa colírio sem prescrição médica, porque o olho é uma estrutura bem delicada.
Assim, há pessoas que podem ter alguma queixa, como ressecamento ocular, e vão à farmácia para se automedicar, sem saber qual é o colírio correto. Pode até haver paciente que tem ressecamento e acabar usando colírio com corticoide, sem supervisão médica.
Os colírios lubrificantes, por exemplo, têm dose e frequência mínimas e máximas, e o uso em excesso pode prejudicar. Os colírios sem conservantes, que são os que mais se aproximam das lágrimas, se usados em excesso, não permitem que o olho possa produzir naturalmente componentes importantes para a hidratação natural, deixando a lágrima mais instável do que já era.