Sentir cheiros inexistentes pode ser sinal de distúrbios no olfato, como a fantosmia. Veja causas, sintomas, riscos e quando buscar um médico.
Luana Viard | 27 de Maio de 2024 às 18:30
Você já sentiu cheiro de perfume, fumaça ou queimado sem que nada estivesse por perto ou sem qualquer explicação aparente? Esse fenômeno pode parecer algo inventado, mas é mais comum do que você imagina e a ciência tem um nome para ele: fantosmia, também conhecida como odor fantasma.
Embora em alguns casos seja passageiro e inofensivo, sentir cheiros que não existem também pode estar relacionado a condições de saúde que vão desde gripes e sinusites até alterações neurológicas mais sérias. Entender quando se preocupar e quando encarar como algo temporário é fundamental para cuidar do bem-estar.
O odor fantasma, ou fantosmia, é um distúrbio olfativo que faz a pessoa sentir cheiros que não estão realmente presentes no ambiente. Em outras palavras, o cérebro interpreta sinais como se houvesse um aroma, mas, na prática, ele não existe. "Trata-se da percepção de odores fantasmas, que não existem e podem ser intermitentes ou constantes", explica o Dr. Andy Vicente (CRM 92.351), otorrino do Hospital Cema, em São Paulo.
De acordo com o especialista, esses odores podem surgir de forma esporádica, em episódios rápidos e isolados, ou se tornar recorrentes, interferindo no bem-estar e na qualidade de vida. Na maioria das vezes, estão associados a aromas desagradáveis como cheiros de fumaça, queimado, fezes, carniça, ovo podre ou substâncias químicas fortes, mas algumas pessoas com essa condição também relatam sentir fragrâncias agradáveis, como perfumes.
O fenômeno é diferente de outros problemas relacionados ao olfato, como a anosmia (perda completa do olfato) e a parosmia (alteração na percepção de cheiros reais), e pode ser um sintoma de diversos problemas de saúde como resfriados simples, sinusite, epilepsia, enxaqueca ou até mesmo tumores cerebrais.
Os sintomas da fantosmia variam bastante de pessoa para pessoa, mas, como explicado acima, o mais comum é sentir cheiros fortes desagradáveis que não estão presentes. No entanto, algumas pessoas podem sentir cheiros de fragrâncias agradáveis, mas isso não torna a fantosmia algo bom. Isso porque, quando esses aromas aparecem e desaparecem de forma recorrente, podem ser igualmente perturbadores e prejudiciais para o bem-estar emocional.
Além do incômodo físico, o odor fantasma pode gerar consequências emocionais, como ansiedade e irritação constantes, medo de que algo esteja pegando fogo ou queimando e alterações no apetite e no prazer de comer, quando os odores parecem vir acompanhados das refeições.
Sinais de alerta!
É importante procurar um médico se:
Quanto à origem desse fenômeno, há ainda pouco conhecimento, entretanto, o Dr. Andy Vicente esclarece que, assim como na parosmia, vírus e bactérias podem ser possíveis agentes causadores de inflamações nos nervos (neurites), embora não os únicos. Além disso, ele também menciona a existência de pólipos nasais, tumores, exposição prolongada a tintas, solventes, álcool e substâncias entorpecentes, condições neurológicas e distúrbios psiquiátricos como fatores contribuintes.
Traumas emocionais também podem causar este distúrbio. "No luto, como os odores ficam registrados no inconsciente, a pessoa pode senti-los de novo devido a associações geradas por outros sentidos, como enxergar algo que remeta a uma memória", esclarece Wimer Bottura, psiquiatra pelo IPq-FMUSP (Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
O sistema nervoso, quando afetado por acidente vascular cerebral (AVC), epilepsia, esquizofrenia, depressão, doença de Parkinson, doença de Alzheimer, transtorno bipolar, passa por mudanças, lesões e danos nos neurônios, incluindo aqueles da região olfatória, situada no córtex cerebral. Explica Júlio Pereira, médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e neurocirurgião.
"Isso gera uma enorme confusão sensorial e que ainda atinge, pela proximidade, o sistema límbico, relacionado às emoções. Por isso, o cheiro pode despertar sensações diversas, como tristeza, perigo, mal-estar, ansiedade", explica Pereira.
Sentir cheiro de perfume, queimado, fumaça ou gás quando não há nada no ambiente costuma gerar preocupação imediata. Em alguns casos, essa percepção pode ser apenas um episódio isolado, ligado a gripes ou alergias. Mas quando o sintoma se repete ou vem acompanhado de outros sinais, pode indicar alterações neurológicas sérias. Sendo assim, procure atendimento médico caso esteja sentindo cheiros de coisas que não existem no ambiente.
Estudos mostram que odores fantasmas estão relacionados a crises epilépticas que afetam a região do cérebro responsável pelo olfato, AVC (acidente vascular cerebral), especialmente quando surgem de forma repentina junto a tontura, fraqueza ou dificuldade para falar e doenças degenerativas como Alzheimer e Parkinson, em que o olfato pode ser um dos primeiros sentidos a sofrer alterações.
O tratamento da fantosmia depende diretamente da causa identificada pelo médico. Em alguns casos, os odores desaparecem sozinhos após alguns dias ou semanas. Em outros, é preciso acompanhamento especializado.
Exercícios de treinamento olfativo (cheirar diferentes aromas em sequência, como café, limão, rosas e eucalipto) ajudam a “reeducar” o cérebro. O processo pode levar meses, mas estudos mostram melhora gradual da percepção.
Se você tem percebido odores que não existem de forma recorrente, não ignore e nunca se automedique. Somente um médico pode indicar o tratamento adequado, de acordo com o histórico clínico e os exames de cada pessoa. Sendo assim, procure um médico para investigar a causa e determinar a melhor forma de cuidar da sua saúde.
Nem sempre sentir um odor fantasma significa algo grave. Porém, é essencial estar atento aos sinais que indicam a necessidade de avaliação médica. Procure um otorrinolaringologista ou neurologista se você:
Dica prática: se possível, anote a frequência, a intensidade e os tipos de odores percebidos. Esse diário ajuda o médico a identificar padrões e chegar mais rápido ao diagnóstico.
Na maioria das vezes, trata-se de um episódio de fantosmia, quando o cérebro interpreta estímulos inexistentes como odores. Pode ser algo passageiro, mas também está ligado a doenças respiratórias ou neurológicas.
Nem sempre, mas se o sintoma for súbito e recorrente, ou vier acompanhado de dor de cabeça, tontura, convulsões ou dificuldade para falar, procure atendimento médico imediato, pois pode estar relacionado a um AVC ou crises neurológicas.
Sim. Em alguns casos, especialmente após resfriados ou viroses, os odores fantasmas desaparecem espontaneamente em poucos dias ou semanas.
Não há um único tratamento para todos os casos. A melhora depende da causa identificada. Pode envolver medicamentos, cirurgias, reabilitação olfativa ou mudanças de hábitos, como parar de fumar.
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