O carvão ativado está na pasta de dente, no shampoo e até na comida. Conheça como ele age em nosso organismo e para o que é indicado.
Redação | 1 de Julho de 2020 às 01:01
Nos últimos tempos, algumas mídias sociais têm sido inundadas por estranhas tendências de alimentos e bem-estar. Uma das imagens mais compartilhadas pode ser o sorvete preto-gótico enriquecido com carvão ativado, que começou a aparecer há poucos anos.
Mas foi apenas um momento muito fotogênico desse ingrediente cada vez mais comum. No supermercado, vemos carvão ativado em produtos de limpeza, desodorantes e até pasta de dente, tanto em marcas populares quanto sofisticadas. E, embora o sorvete fizesse mais sucesso, você também encontrará o ingrediente em outros alimentos.
O carvão ativado é criado com a queima de materiais ricos em carbono, como madeira, turfa, bambu, casca de coco e caroço de azeitona, e transformado numa substância preta concentrada. Depois, o carvão é “ativado” ao ser tratado com vapor a alta temperatura, que abre sua estrutura carbônica e o torna poroso, cheio de nichos e furinhos que permitem a ligação à sua superfície de todo tipo de sujeira (como pó, óleo e bactérias causadoras de odor).
A questão é: apesar de relatos isolados de pele mais limpa e radiante vindos de nutricionistas, personal trainers e celebridades como Kim Kardashian e Gwyneth Paltrow, não há provas clínicas da eficácia do carvão ativado como ingrediente cosmético. Simplesmente não há nenhuma pesquisa importante nem estudos grandes que investiguem essas pretensões.
Do mesmo modo, não há boas provas de que o uso de produtos de carvão na saúde bucal deixe o hálito mais agradável nem os dentes mais brancos; na verdade, eles podem ser prejudiciais ao esmalte dentário.
Se quer uma pele mais viçosa, um sorriso mais branco e intestinos mais saudáveis, beber bastante água todos os dias e ingerir alimentos ricos em fibras é o caminho seguro. “Invista seu dinheiro em alimentos integrais e minimamente processados”, sugere a nutricionista Abby Langer. “E fique tranquilo, porque não carregamos quilos de lodo dentro do corpo para precisar de desintoxicação.”
Além do sorvete, o carvão ativado é usado por restaurantes e fabricantes de alimentos para deixar pretos massa de pizza, caldo de macarrão, pão de hambúrguer, sucos de fruta, coquetéis e uma longa lista de outros produtos. Mas, antes de desembolsar um dinheirinho a mais com a limonada com carvão ativado, lembre-se de que está pagando pela aparência; não há provas científicas de que o prometido efeito “detox” aconteça.
“Não vai lhe fazer mal”, diz Langer, “mas não fará o efeito que você talvez ache que teria, então por que usar?”
Há um uso comprovado da substância. No pronto-socorro, às vezes os médicos dão a pacientes envenenados ou que tomaram quantidade grande demais de medicamentos uma pasta de carvão ativado. Se tomada logo – idealmente, em poucos minutos, mas até uma hora depois da ingestão, enquanto a substância venenosa ainda estiver no estômago –, essa pasta impede que o corpo a absorva.
No entanto, os potenciais usuários precisam saber que ela não se liga ao álcool ou etanol, portanto não apagará magicamente a ressaca da bebedeira de ontem. E é bom deixar claro que ela não distingue o bom do ruim: vai se ligar a medicamentos para a pressão e outros, tirando-os também de seu organismo.