O câncer de cólon é o terceiro tipo de câncer mais comum no mundo. Saiba mais sobre a doença que causou a morte do “rei do futebol”, o ex-jogador Pelé
Brasileiros e fãs do futebol ficaram abalados na tarde desta última quinta-feira (29) com o anúncio da morte de Pelé, aos 82 anos, vítima de complicações de um câncer de cólon. O ex-jogador enfrentava a doença desde setembro do ano passado até que no dia 28 de novembro o rei do futebol foi internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Segundo boletim divulgado pelo hospital, a causa da morte de Pelé foi falência múltipla de órgãos em decorrência do câncer de cólon. Em todo mundo, esse é o terceiro tipo de câncer mais comum, e representa 10% de todos os novos casos da doença em geral. Uma das particularidades desse tumor é que ele é mais frequente em regiões mais desenvolvidas, como a América do Norte, Europa e Oceania. Mesmo no Brasil, as maiores taxas de incidência estão no Sul e no Sudeste.
Atenção:
Para ter o diagnóstico correto dos seus sintomas e fazer um tratamento eficaz e seguro, procure orientações de um médico.
O que é o câncer de cólon?
O câncer de cólon ou câncer colorretal começa quando células anormais crescem descontroladamente e formam um tumor no cólon, a parte do intestino grosso que se estende do ceco ao reto.
Muitos cânceres colorretais começam com um pólipo (crescimento de tecido anormal em uma membrana mucosa) que eventualmente forma um tumor. Se não for tratado, o tumor pode causar sangramento, bloquear o intestino ou romper a parede do órgão. Em seguida, as células cancerosas podem se espalhar para os gânglios linfáticos ou outros órgãos, como o fígado e os pulmões.
Uma vez diagnosticado, o câncer de cólon é classificado de acordo com seu grau de agressividade. Em seguida, certos testes determinam se ele se espalhou para os gânglios linfáticos ou outros tecidos (metástase).
Cada câncer é classificado de acordo com uma escala de quatro estágios – de I a IV – para determinar o tratamento e o prognóstico. Pessoas com câncer em estágio I, confinado ao revestimento do cólon, têm o melhor prognóstico. Mais de 90% dos pacientes que têm os tumores detectados em estágio inicial conseguem se curar da doença.
Pessoas com tumores em estágio III ou IV, como o caso do ator Chadwick Boseman, geralmente não têm um prognóstico tão bom, embora a maioria dos cânceres em estágio II ou III possam ser tratados com eficácia.
Quais os sintomas do câncer de cólon?
O câncer de cólon e reto não costuma apresentar sintomas em seus estágios iniciais, o que dificulta a detecção precoce. No entanto, é importante ficar atento a alguns sinais que possam aparecer:
- Mudança injustificada de hábito intestinal, incluindo diarreia ou constipação
- Fezes pastosas de cor escura ou em forma de fita
- Sangramento retal ou sangue nas fezes
- Desconforto gástrico, como cólicas, gases ou dor
- Fraqueza ou fadiga
- Perda de peso injustificada
- Náuseas e vômitos constantes
- Sensação dolorida na região anal, com esforço ineficaz para evacuar.
Embora a presença dos sintomas listados acima possam ser indícios de câncer colorretal, isto não significa que você tenha câncer. Todos esses sintomas podem ser causados por outras doenças gastrointestinais. Por isso, é importante procurar um médico assim que suspeitar que algo não está certo. Somente ele poderá investigar o seu caso e indicar o melhor tratamento.
Quem faz parte do grupo de risco?
O câncer de cólon, que geralmente tem crescimento lento, costuma começar em uma célula com mutações genéticas. Algumas pessoas herdam genes que permitem que as células que causam o câncer de cólon cresçam. Mais frequentemente, as anormalidades surgem por razões desconhecidas, embora o tipo de dieta pareça ter um papel causal. Estudos sugerem que existe uma relação entre obesidade e o câncer de cólon e de reto.
Leia também: 15 mil novos casos de câncer de boca no Brasil: aprenda a se prevenir!
Quando analisados grupos étnicos, negros e judeus têm uma maior incidência de câncer colorretal, mas as razões ainda não são bem compreendidas. Os judeus de origem europeia oriental têm um dos maiores riscos de câncer colorretal quando comparados a qualquer outro grupo étnico do mundo.
Fatores de risco modificáveis
- Ingestão excessiva de carnes vermelhas, principalmente as processadas: o mecanismo de ação seriam os compostos carcinogênicos gerados durante o processamento (para virar salsicha, bacon, presunto etc,) ou quando a carne é submetida a altas temperaturas (como assar, fritar ou grelhar). O churrasco seria ainda pior, pois inclui os compostos provenientes da queima do carvão. Por excesso, entenda-se mais de cinco vezes por semana, ou uma média superior a 100 gramas por dia.
- Dietas pobres em frutas, legumes e verduras: vegetais são ricos em antioxidantes e fibras, que têm papel protetor contra a obesidade e o câncer. Por isso a recomendação é ingerir cinco porções ao dia desses alimentos.
- Obesidade abdominal: a condição envolve reações hormonais e inflamatórias que aumentam o risco de câncer.
- Sedentarismo: a prática regular de exercícios combate a obesidade e melhora o perfil hormonal.
- Fumo: o tabaco também já foi relacionado ao câncer colorretal.
- Consumo excessivo de álcool: homens que ingerem mais de 14 doses de bebida alcoólica por semana, bem como mulheres que bebem mais que sete doses por semana, têm risco mais alto de ter esse e outros tipos de câncer.
Fatores de risco não modificáveis
- Idade: a maior parte dos pacientes com a doença tem mais de 50 anos.
- Doenças inflamatórias intestinais: pacientes com colite ulcerativa ou doença de Crohn têm propensão maior ao câncer colorretal.
- Herança familiar: algumas famílias têm histórico desse tipo de câncer, e nesses casos é comum o surgimento antes dos 50 anos. Também há síndromes associadas à doença, como o câncer colorretal hereditário não poliposo (HNPCC, ou síndrome de Lynch) e a polipose adenomatosa familial (FAP).
- Histórico pessoal de câncer ou pólipos: quem já teve pólipos adenomatosos ou tratou-se de câncer colorretal, de ovário, útero ou mama também é mais propenso.
- Etnia: estudos indicam que judeus de origem europeia oriental têm maior tendência a esse tipo de câncer, bem como pessoas negras, embora as causas não sejam claras.
- Diabetes tipo 2: de acordo com a Associação Americana do Câncer, pacientes com a doença têm maior risco mesmo descontando-se fatores como obesidade abdominal e sedentarismo.
Como é feito o diagnóstico do câncer de cólon e de reto?
O principal exame para detectar o câncer colorretal é a colonoscopia. Além de solicitado quando há sintomas, ou após um resultado positivo na pesquisa de sangue oculto nas fezes (PSOF), é utilizado no rastreamento do câncer colorretal a partir dos 50 anos, ou a partir dos 40 anos em pacientes com histórico familiar.
Embora no Brasil a maioria dos diagnósticos ocorram a partir dos 55 anos, casos de câncer colorretal em pacientes com 40 ou 45 anos têm aumentado, segundo os médicos.
Como é feito o tratamento de câncer de cólon e reto?
De todos os tipos de câncer, o câncer colorretal é um dos mais curáveis. A escolha do tratamento geralmente depende do estágio de evolução. Pacientes de todas as idades, incluindo idosos, podem se beneficiar. Para a maioria das pessoas, a remoção cirúrgica do tumor é o primeiro passo. Dependendo da localização do tumor e do grau de disseminação, a radiação e a quimioterapia também podem ser usadas para aumentar as chances de cura permanente.
Dependendo do tipo e estágio do câncer, estes tratamentos são usados:
Câncer de cólon ou reto estágio I
A cirurgia costuma ser suficiente para curar os dois tipos de câncer e é improvável que tratamentos adicionais sejam necessários.
Câncer de cólon estágio II
Pode ser tratado apenas com cirurgia. Se o tumor se espalhou para a parede externa do cólon, alguns médicos recomendam o uso de quimioterapia para matar as células cancerosas que podem permanecer após a operação, um tratamento que está atualmente em debate.
Câncer retal estágio II
A radioterapia e a quimioterapia são o tratamento padrão.
Câncer de cólon estágio III
A quimioterapia é usada após a cirurgia.
Câncer retal em estágio III
Os médicos prescrevem quimioterapia após a cirurgia e geralmente recomendam a radioterapia antes ou depois da operação.
Câncer retal ou de cólon em estágio IV
Os cirurgiões podem remover tumores no intestino ou em órgãos distantes, como o fígado ou os pulmões. Isto geralmente funciona bem se não houver muitos tumores metastáticos. Quimioterapia, radioterapia ou ambas também podem ajudar a reduzir os tumores.
Métodos de tratamento
A maioria dos pacientes com câncer de cólon pode se beneficiar da ressecção cirúrgica – termo que os médicos usam para se referir à remoção do tumor. A operação, chamada de colectomia parcial, envolve o corte do segmento do cólon onde está o tumor, uma parte do tecido normal circundante e, se o câncer se espalhou, os gânglios linfáticos próximos; então o cólon se reconecta. A operação requer anestesia geral e pode durar várias horas. O médico geralmente realiza vários exames pré-operatórios e exames de sangue para determinar a extensão do tumor.
Se for câncer retal, a operação costuma ser mais complicada, pois muitos músculos e nervos que controlam as funções sexuais, intestinais e urinárias passam pelo reto. As sequelas podem incluir controle da bexiga ou intestino insatisfatório e problemas sexuais, embora muitas vezes possam ser revertidos.
Leia também: Câncer colorretal: veja 12 dicas para se prevenir da doença
Para ajudar a destruir as células tumorais remanescentes e diminuir o risco de recorrência, a radioterapia é frequentemente usada após a cirurgia retal. Normalmente, cinco sessões de radioterapia são necessárias por semana, durante cinco a seis semanas. Durante as sessões, os médicos direcionam raios-X de alta dose no tumor, geralmente de várias direções.
Se o tumor estiver bloqueando o intestino ou se o câncer se espalhar para os músculos do reto ou ânus, o paciente provavelmente precisará de uma colostomia. Esse procedimento consiste em fazer uma pequena abertura na parede do abdome através da incisão do cólon, permitindo que as fezes sejam retiradas do corpo e recolhidas em uma bolsa externa. A maioria das operações de câncer de cólon não requer uma colostomia. Quando praticada, geralmente é uma medida temporária e que pode ser revertida com outra operação. Além disso, existem muitos dispositivos e técnicas disponíveis para manter os movimentos intestinais sob controle e ajudar o paciente a ficar limpo e sem odores.
Medicamentos
As drogas quimioterápicas são projetadas para destruir células malignas, mas são uma faca de dois gumes: também atacam células saudáveis, causando náuseas, vômitos, diarréia, queda de cabelo, fadiga, úlceras na boca e outras reações. A boa notícia é que as dosagens podem ser ajustadas e existem medicamentos para atenuar os efeitos colaterais.