Experimento divulgado na revista Cell Metabolism revela que o café da manhã pode não ser o horário ideal para uma maior ingestão calórica.
Redação | 12 de Setembro de 2022 às 16:34
Para manter uma ingestão de calorias adequada e perder peso, é comum acreditar que basta um café da manhã reforçado e outras pequenas refeições durante o dia. No entanto, um estudo publicado na revista científica Cell Metabolism revelou que priorizar a refeição como a principal do dia não é suficiente para se obter resultados consistentes de perda de peso.
“Existem muitos mitos em torno do momento de comer e como isso pode influenciar o peso corporal ou a saúde”, diz Alexandra Johnstone, uma das responsáveis pela pesquisa e membro do Instituto Rowett, da Universidade de Aberdeen, na Escócia. “No campo da nutrição, nos perguntamos como isso poderia ser possível.”
De acordo com a Alexandra Johnstone, avaliações sobre o ciclo circadiano. Período de 24 horas em que o relógio biológico do corpo humano se baseia. Motivaram essa noção. Os especialistas questionaram o destino para onde a energia era levada em diferentes momentos do dia.
“Decidimos dar uma olhada mais de perto em como a hora do dia interage com o metabolismo”, conta ela.
Dessa forma, pessoas saudáveis que eram obesas ou estavam acima do peso foram recrutadas para o experimento com dietas controladas. 16 homens e 14 mulheres — seguiram uma dieta altamente calórica pela manhã ou à noite. Ambas as dietas continham 30% de proteína, 35% de carboidrato e 35% de gordura, a regra girava em torno do horário de alimentação.
Os voluntários foram submetidos a ambos os regimes, correspondentes à manhã e à noite. Primeiro, foram selecionados de modo aleatório para fazer a dieta por quatro semanas. Após as semanas iniciais sem controle sobre o horário de comer, cada participante fez a outra dieta também por quatro semanas. Enquanto isso, os especialistas avaliavam o metabolismo de todos eles.
Nos testes, aqueles que escolheram momentos diferentes do dia para um maior consumo energético obtiveram praticamente o mesmo resultado.
A análise das informações obtidas levou à descoberta de que os gastos calóricos e a perda total de peso foram equivalentes, seja para a ingestão maior pela manhã ou à noite. Os participantes perderam aproximadamente pouco mais de 3kg durante cada um dos períodos de quatro semanas.
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Também foi contatado que o horário de maior ingestão de calorias teve influência direta no controle subjetivo do apetite, repercutindo no aumento ou na diminuição de peso. Assim, quem ingeriu mais calorias pela manhã sentiu menos fome.
“Os participantes relataram que seus apetites eram melhor controlados nos dias em que tomavam um café da manhã maior e que se sentiam saciados durante o resto do dia”, explicou Johnstone, que também atua como professora no campo de controle do apetite na universidade escocesa.
Para os avaliadores, os resultados podem ser aplicados na vida. Um bom exemplo disso é o jejum intermitente, uma alimentação com restrição de tempo. Eles indicaram, em comunicado, que as conclusões podem ajudar a determinar a melhor hora do dia para as pessoas que seguem esse tipo de dieta consumirem suas calorias.
Apesar dos resultados, os autores reconhecem que o experimento ainda se encontra limitado. Como indivíduos com menos problemas metabólicos foram inseridos, portanto isso pode afetar nas respostas.
“Assim, mais estudos são necessários para explorar os efeitos das refeições em vários grupos populacionais e com maior manipulação do horário das refeições”, pontuam os cientistas.
Os pesquisadores ressaltam, ainda, que a pesquisa foi conduzido em condições livres.
“Embora o benefício disso seja a replicação do contexto da vida real — ou seja, morar em um laboratório afetaria amplamente a atividade física normal dos participantes —, isso aumenta as chances de descumprimento das regras por parte deles”.
Em decorrência dessas questões, a equipe pretende expandir os experimentos sobre como o ritmo circadiano impacta o metabolismo. Sendo assim, uma das hipóteses reside na possibilidade de que profissionais que trabalham em turnos inversos tenham respostas metabólicas destoantes.
“Uma coisa importante a notar é que, quando se trata de tempo e dieta, provavelmente, não haverá uma que sirva para todos. Descobrir isso será o futuro dos estudos de dieta”, salienta Johnstone.