Profissionais explicam o que fazer quando o estresse aumenta demais para evitar o burnout
De acordo com o Instituto Americano do Estresse, antes mesmo da pandemia, 94% dos trabalhadores diziam que se sentiam estressados com regularidade. Mais recentemente, a Associação Americana de Psicologia divulgou que o estresse coletivo do país chegou a um nível alarmante. Todos estamos ocupados, mas sentir-se constante e cronicamente sobrecarregado e preocupado leva ao burnout.
O que é a síndrome de burnout?
O burnout é um estado de exaustão ou esgotamento físico e mental que pode ter consequências graves. Pense na exaustão como o estresse elevado a outro nível.
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“Em geral, o burnout é definido como um estado extremo de tensão psicológica”, diz YoungAh Park, professora associada da Escola de Relações de Trabalho e Emprego da Universidade de Illinois. É uma reação a estressores crônicos e prolongados cuja superação vai além de sua capacidade ou dos recursos disponíveis.
Como muita gente se sente estressada com frequência, fica difícil reconhecer quando o limite é ultrapassado. O verdadeiro burnout é diferente de se sentir sobrecarregado. Michael Leiter, professor de psicologia da Universidade Acadia, na Nova Escócia, explica: “O burnout combina três dimensões principais: exaustão avassaladora, cinismo e sensação de desestímulo, inadequação ou pouca realização”.
Sentir-se exausto quando começa a trabalhar é um alerta. “É um sinal de que as demandas aumentam mais depressa do que você consegue se recuperar”, diz ele. Essa fadiga se transforma em sentimentos como pessimismo e retraimento, e você “fica mal-humorado e cínico com o trabalho que antes amava e, principalmente, se sente assim com pessoas de quem deveria cuidar”.
Esse é o estágio final do esgotamento, mas chegar lá leva algum tempo. “A princípio, podemos sentir hiperatividade e tentar controlar os estressores trabalhando freneticamente para reduzi-los e, ao mesmo tempo, equilibrando cada vez mais coisas”, diz Emily Balcetis, professora associada de psicologia da Universidade de Nova York. Infelizmente, esse desespero contribui para erros, perda de concentração e até desequilíbrio emocional, e tudo isso abre caminho para o desenvolvimento de problemas mais crônicos.
Viver no nível de estresse constante que leva ao burnout tem consequências graves para a saúde, como padrões de sono problemáticos, dificuldades digestivas e até aumento do risco de depressão, doença cardíaca, diabetes e ganho de peso, de acordo com Balcetis. Talvez seja mais assustador que um estudo publicado na revista Journal of Psychosomatic Research tenha constatado que quem sofre de burnout crônico corre até 35% mais risco de morte precoce.
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Antes que o estresse chegue a esse nível em sua vida, os especialistas dizem que é possível tomar providências para prevenir o burnout. Veja a seguir 5 dicas para evitar o burnout e diminuir o estresse.
1. Procure significado no trabalho
Conseguimos tolerar o estresse por mais tempo quando acreditamos que fazemos algo com um propósito que vale a pena. Balcetis diz que é mais provável sofrermos o estresse que provoca o burnout quando algo parece fora de controle, contrário à nossa vontade ou totalmente sem sentido. Tente identificar de que modo até a menor das tarefas do dia contribui para a vida dos outros. “Faça um balanço de suas tarefas”, diz Balcetis. “Se puder, remova ou terceirize uma ou duas coisas que não tenham significado pessoal para você.”
2. Procure significado fora do trabalho
Se for difícil dar sentido ao trabalho, priorizar a vida fora dele faz muito bem. Uma pesquisa publicada na revista BMC Medicine mostra que as pessoas com mais probabilidade de ter uma sensação maior de engajamento no trabalho são as que têm um hobby, o supremo protetor contra o burnout.
3. Tente separar o trabalho da vida doméstica/externa
“Hoje as fronteiras entre trabalho e não trabalho são menos nítidas, e a pesquisa indica que há algumas táticas a empregar”, diz Park. Ela sugere desligar as notificações de e-mails do trabalho no celular, usar contas de e-mail separadas para o trabalho e a vida pessoal e estabelecer limites físicos e temporais entre o que é profissional ou não, principalmente se você trabalha em casa.
4. Não se negligencie
“Negligenciar a alimentação e só comer petiscos e fast food se torna um modo de lidar com o estresse, mas rouba do corpo e do cérebro os nutrientes necessários para ter energia e regular o humor”, diz Benjamin Maxson, terapeuta de família em Orange County, na Califórnia. A atividade física também é essencial para reduzir os hormônios do estresse. “Muitos indivíduos ficam menos ativos sob estresse com o objetivo de descansar”, diz Maxson. Mas o movimento é a resposta evolutiva mais natural ao estresse do corpo. Embora hoje não precisemos fugir de onças, até movimentos leves ajudam a “completar” o ciclo do estresse e tirar seus hormônios da corrente sanguínea.
5. Reconheça quando é demais
Converse com seus supervisores quando sentir que o trabalho deveria ser mais razoável, compensador e controlável. “É muito comum os superiores continuarem a aumentar as tarefas com o tempo”, diz Maxson, e, se não transmitirmos nossas necessidades ou limitações, elas podem ser desdenhadas. Se não espera que a situação melhore, pense em mudar de emprego ou de carreira.
Para a enfermeira Wendy Reynolds, diretora de uma unidade de tratamento intensivo num hospital da Pensilvânia, o estresse sempre fez parte do trabalho. Então veio a pandemia, e o estresse disparou para um novo nível. “Eu não dormia, vivia com dor de cabeça e estava sempre ansiosa e preocupada com tudo”, diz ela. “Sabia que precisava parar.”
Ela percebeu que a UTI era demais para ela e que o estresse e a longa jornada também não eram justos com a família, e resolveu o problema do burnout passando para um cargo administrativo, no qual consegue controlar o equilíbrio vida-trabalho e ainda ter uma carreira coerente com sua paixão pela assistência médica.
“Adoro meu novo emprego”, diz ela. “Agora, consigo ver minha família e usar minha habilidade clínica para ajudar os líderes de outros hospitais a melhorar o fluxo de trabalho do pessoal. É muito compensador.”
Quando se sentir esgotado, a terapia ajuda a processar o estresse ligado ao trabalho e a aprender estratégias para lidar com ele e se comunicar com o empregador para estabelecer limites saudáveis. Maxson diz que a terapia cognitivo-comportamental é muito eficaz para lidar com o burnout profissional.