Já pensou se a comida do seu prato pudesse falar? Confira os benefícios da aveia contados por ela mesma! "Aveia. Cereal que, na Inglaterra, costuma ser
Já pensou se a comida do seu prato pudesse falar? Confira os benefícios da aveia contados por ela mesma!
“Aveia. Cereal que, na Inglaterra, costuma ser dado aos cavalos. Mas, na Escócia, sustenta o povo.” – Dicionário da língua inglesa de Samuel Johnson (1755)
Acredite ou não, foi assim que o venerável Dr. Johnson, na obra de referência do inglês até o lançamento do The Oxford English Dictionary 173 anos depois, escolheu me definir. A mim! Ai! Mas isso foi na época em que a Escócia era, realmente, um dos poucos lugares onde os seres humanos me comiam. Felizmente para mim e para seu nível de colesterol, avancei muito nos últimos 264 anos.
Tem sido uma viagem muito louca com raízes pouco auspiciosas. Comecei como uma semente que crescia em vagens em cima de um capim com metro e meio de altura chamado aveia-verde, que antigamente era uma praga nos campos de trigo e cevada. Cerca de um século depois do desrespeito do Dr. Johnson, um imigrante alemão chamado Ferdinand Schumacher, merceeiro em Akron, no estado americano de Ohio, percebeu, muito depois dos escoceses, que, removida da casca, picada e cozinhada, eu era um ótimo cereal. Para me processar, ele inventou um jeito de me assar no vapor e me amassar para me preparar mais depressa. Então, tentou me vender em sua lojinha.
A princípio, os fregueses resistiram. Mas, quando a Guerra de Secessão começou e o Norte passou a me comprar para alimentar seus soldados, a demanda disparou. Assim, minha fama de alimento barato, saudável e substancial para seres humanos pegou. Schumacher, que passou a ser chamado de Rei da Aveia, fundou a German Mills American Cereal Company para tentar atender à demanda. E, de repente, aquele mato se transformou num cultivo muito viável.
Em 1877, o Escritório de Patentes dos Estados Unidos recebeu o pedido de registro da marca do primeiro cereal para o café da manhã, representado pela “imagem de um homem com ‘vestimenta quacre’”, escolhida, de acordo com os donos da época, para transmitir honestidade e boa qualidade.
A nova marca Quaker Oats acabaria se fundindo com a empresa de Schumacher. E, assim, se tornaria a gigante americana que hoje processa por dia até 1,6 milhão de quilos meus.
Qualquer consumidor conhece de nome minhas versões mais comuns, mas é raro ser capaz de descrever as diferenças entre elas, um tanto confusas. Farei esse favor. Quando meus grãos são cozidos no vapor e esmagados em flocos que cozinham em poucos minutos no fogão (o conteúdo daquela antiga lata de Aveia Quaker), sou “aveia em flocos”.
Enquanto isso, a “aveia instantânea” é feita de pedacinhos bem pequenos de “farinha de aveia”. Ou seja, aveia em flocos novamente exposta ao vapor e esmagada para cozinhar ainda mais depressa.
Para produzir a “aveia cortada”, mais pedaçuda, os produtores só me picam em pedaços pequenos com lâminas ou mós, sem o vapor e o esmagamento. Finalmente, em todas as minhas formas, os britânicos me chamam de “porridge” (“mingau”). Enquanto o que eles chamam de “oatmeal” (farinha de aveia) é apenas aveia moída grossa. Como eu disse: é confuso!
É o mesmo com a enorme variedade de maneiras de me servir. No Reino Unido, sou considerada um prato salgado. Tradicionalmente preparado só com água, sal e um pouco de manteiga ou creme de leite – na Irlanda, com açúcar mascavo. Nos Estados Unidos, previsivelmente, satisfaço sua fome, saudável ou não.
Saudável: em qualquer apresentação, contenho um tipo de fibra importante chamado betaglucano, ao qual foi atribuída parte de meu poder de baixar o colesterol. Os cardiologistas me preferem grossa, porque dessa maneira a digestão é mais lenta, não provoca picos de glicemia e é mais provável que eu baixe seu colesterol. Você encontrará meus grãos picados vendidos por Bob’s Red Mill, Quaker e McCann’s.
Menos saudável: os americanos me dulcificaram com versões açucaradas cheias de xarope de bordo e assemelhados. E assim me põem na mesma classe dos petiscos doces do café da manhã.
A melhor maneira de obter um prato perfeito é tema de 25 anos de experiências na terra de meus comedores mais leais. Em 1994, a aldeia escocesa de Carrbridge, com seiscentos habitantes, fez uma competição entre cozinheiros na esperança de atrair alguns visitantes ao minúsculo povoado.
Os participantes tiveram meia hora para fazer a melhor aveia grossa que conseguissem. Usando apenas a mim e um pouco de água e sal. O evento foi um sucesso e se tornou, simplesmente, o World Porridge Making Championship (Campeonato Mundial do Mingau). Hoje, frequentado por campeões da aveia dos Estados Unidos, da Rússia, da Finlândia e de outros países. Todos ansiosos para ganhar o famoso prêmio Spurtle (“colher de pau”). Você pode ter lido a respeito na embalagem de aveia Bob’s Red Mill; o próprio Bob foi um dos vencedores.
Talvez pareça impossível haver tantas maneiras assim de preparar um cereal simples. Porém, o concurso revela que tenho uma variedade extraordinária. De pedaçuda a macia e suculenta, do sabor de nozes aos carboidratos, tudo depende da quantidade de cada ingrediente, da água e das preferências do cozinheiro.
Ainda assim, um juiz revela que os vencedores têm métodos em comum: eles mexem lentamente sua aveia durante todos os trinta minutos da competição, deixando-a aveludada. Todos me ferveram até eu ficar grossa e lisa, e descobriram que minha melhor consistência é aquela quando podem me despejar. Em essência, não devo grudar na colher de pau, ou melhor, no spurtle. Sim, esse é um apetrecho culinário inventado só para me mexer, praticamente uma vareta reta e nada mais (mas ainda adoro sua mera existência).
O Dr. Johnson talvez não tenha previsto minha popularidade, mas aprecio todos os sinais de que sou amada. Em cidades daqui e da Europa, há restaurantes onde sou a estrela. E você pode me pedir com as coberturas que quiser. Imagine só! Assim, agora, sou o ingrediente principal de restaurantes modernos, apesar de ter começado como refeição adequada apenas a cavalos.
Kate Lowenstein e Daniel Gritzer
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