A primeira arma contra essa doença dolorosa é a informação. Saiba mais sobre artrite e fique por dentro das novas descobertas.
Julia Monsores | 3 de Julho de 2021 às 14:00
Se a palavra artrite faz você pensar em idosos com vidros de ibuprofeno, você precisa se atualizar. E isso porque esta doença dolorosa das articulações pode ter muitas formas.
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Atualmente, o tipo mais comum, que afeta 4% dos brasileiros, é a osteoartrite. A revista britânica Rheumatology indica risco de 45% de se sofrer de osteoartrite do joelho e de 25% do quadril. De acordo com a revista, é a causa de incapacidade física que mais cresce no mundo.
A gota afeta entre 1% e 2,5% da população, dependendo do país. Já a artrite psoriática, menos de 0,5%. E a artrite reumatoide, cerca de 1%.
Segundo a Liga Europeia Contra o Reumatismo (EULAR), as doenças reumáticas e outras doenças musculoesqueléticas atacarão mais de 120 milhões de pessoas em algum momento da vida.
Não há cura para nenhuma forma dessa doença incômoda. Mas a ciência já fez vários progressos para tratar a dor e a inflamação e também interromper o dano articular. Mas qual é a primeira linha de defesa? Informar-se! Confira tudo que você deve saber sobre a artrite.
A osteoartrite é o desgaste da cartilagem amortecedora entre as articulações, que costuma provocar inflamação crônica – e, em alguns casos, é causada por ela.
Um estudo da Universidade de Washington observou que as radiografias permitem diagnosticar a osteoartrite com tanta exatidão quanto a ressonância magnética; e são muito mais rápidas e baratas. Identificar logo a artrite permite mudar o estilo de vida antes que haja dano irreversível aos joelhos (a mais frequente) ou a outras articulações.
Até 85% dos pacientes experimentam anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), como o ibuprofeno. Embora sejam eficazes para ajudar a passar o dia, Kelli Allen, pesquisadora da Universidade da Carolina do Norte, diz que eles não protegem as articulações do dano progressivo e podem ter efeitos colaterais graves.
Como essas versões são de aplicação local, menos medicamento entra na corrente sanguínea. O que reduz o risco de sangramento gastrointestinal, problemas cardíacos e outros efeitos colaterais. Não use esses tratamentos tópicos se tiver doença renal ou se estiver tomando AINEs por via oral.
Um estudo de 2018 com 240 pacientes com osteoartrite mostrou que, um ano depois, quem tomou opioides sentiu mais dor do que quem tomou medicamentos não opioides. Não se sabe o motivo, mas como esses remédios podem viciar, a recomendação é contrária a eles.
A doença contribui para a inflamação crônica, reduz a atividade física e aumenta o uso de AINEs – fatores de risco cardiovascular. Os pesquisadores estimam que a osteoartrite aumenta em 24% a probabilidade de doença cardíaca. (As artrites psoriática e reumatoide elevam o risco ainda mais.)
Pesquisadores australianos que revisaram os indícios de 20 ervas e suplementos alimentares muito recomendados no tratamento da osteoartrite concluíram que três deles – extrato de Boswellia serrata, extrato de casca de pinheiro e curcumina – são mais eficazes para reduzir a dor e a inflamação a curto prazo.
“Uma injeção pode aliviar a dor”, diz o Dr. Timothy McAlindon, chefe da reumatologia do Centro Médico Tufts, em Boston. Mas um estudo recente verificou que injeções repetidas do esteroide cortisona, além de não controlarem a dor, provocaram mais danos à articulação.
A falta de sono pode intensificar a sensibilidade à dor, um problema para pacientes com osteoartrite; de acordo com um estudo da Universidade Johns Hopkins. A terapia cognitivo-comportamental, pode ajudar as pessoas a mudarem pensamentos distorcidos que podem piorar o nível de dor e melhorar o sono.
Um novo aparelho chamado Coolief usa eletrodos para enviar ondas de rádio resfriadas aos tecidos que cercam o joelho; o que desativa temporariamente os nervos. Os pacientes relataram alívio maior e mais duradouro da dor com o Coolief do que com injeções de cortisona.
Na artrite reumatoide, o sistema imunológico ataca o fluido que lubrifica as articulações, provoca inflamação e destrói a cartilagem. Veja abaixo alguns fatos sobre essa doença!
Num estudo, pesquisadores viram que as pessoas com nível sanguíneo baixo de vitamina D, corriam mais risco de artrite reumatoide. Uma ótima fonte gratuita de vitamina D: a luz do sol.
Um estudo de 2018 com 8.189 mulheres, publicado na Rheumatology, confirma algo que as mulheres com artrite reumatoide vivenciam há muito tempo: a degeneração das articulações se acelera depois da menopausa. A menopausa precoce também pode provocar a doença.
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Câncer de pulmão, linfoma e mieloma múltiplo são mais comuns em pessoas com artrite reumatoide, em parte por causa da inflamação e em parte porque os medicamentos para artrite reumatoide inibem o sistema imunológico.
“Os modificadores podem pôr a artrite reumatoide em remissão, mas podem deixar de agir depois de alguns anos. Algumas pessoas precisam experimentar vários até achar o que funciona melhor”, diz o Dr. David Daikh, ex-presidente do Colégio Americano de Reumatologia.
O fator de necrose tumoral (TNF, na sigla em inglês) é uma proteína responsável pela dor e pela degeneração da cartilagem. E, às vezes, os chamados inibidores de TNF conseguem bloqueá-lo.
E, se um inibidor – como o etanercepte (Enbrel) e o adalimumabe (Humira) – não funcionar, experimente outro. Num estudo recente, 43% dos pacientes que não reagiram a um tipo de inibidor reagiram positivamente a outro.
Eles funcionam alvejando partes específicas do processo inflamatório em vez de inibir o sistema imunológico como um todo (como fazem DMARDs mais antigos) e tendem a ter menos efeitos colaterais.
Num novo estudo multicêntrico publicado em maio de 2018 na revista americana Arthritis & Rheumatology, pesquisadores analisaram o tecido das articulações de 41 pacientes com artrite reumatoide para determinar as variações genéticas de cada um e como reagiam a cada tipo de fármaco. Eles esperam prever que pacientes reagirão melhor a remédios específicos com base em sua assinatura genética, poupando tempo e dinheiro.
Esta doença autoimune na qual o sistema imunológico ataca o tecido saudável das articulações atinge cerca de 30% das pessoas com psoríase. Caracteriza-se por manchas vermelhas e escamosas na pele ou couro cabeludo.
Até 2013, os medicamentos para artrite psoriática eram para artrite reumatoide. Desde então, vários tratamentos específicos para artrite psoriática estão disponíveis.
“Na artrite psoriática, as mudanças erosivas da articulação podem começar seis meses depois dos primeiros sintomas”, diz o Dr. Sergio Schwartzman, reumatologista. “Mas, para muitas pessoas, o diagnóstico pode demorar cinco anos.”
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A inflamação está por trás da doença de Crohn, e alguns medicamentos para tratar a artrite podem causar ou exacerbar os sintomas intestinais. (Mas outros medicamentos para artrite psoriática melhoram esses sintomas.) Quem tem artrite psoriática também corre mais risco de desenvolver diabetes, osteoporose, doença renal e outras doenças autoimunes.
Causada por cristais de ácido úrico nas articulações, geralmente no dedão do pé.
O número de casos no Reino Unido subiu quase 30% entre 1997 e 2012. No Brasil, estima-se que uma em cada 3 mil pessoas sofra de gota, essa forma de artrite caracterizada por dor intensa.
O uso de determinados medicamentos para hipertensão arterial – principalmente os diuréticos de alça e a tiazida – estão entre as principais razões para esse aumento. Alimentos e bebidas ricos em compostos chamados purinas (como álcool, bacon e doces) também contribuem para a formação de cristais de ácido úrico, assim como o excesso de peso e o sedentarismo. Saiba mais sobre como lidar com essa forma complexa de artrite!
Eles aumentam o nível de ácido úrico e foram o quarto gatilho alimentar mais comum; depois de frutos do mar, álcool e carne vermelha.
As cerejas podem baixar o risco de um ataque de gota. Num estudo realizado em 2012, pesquisadores acompanharam pessoas com gota por um ano e descobriram que quem comeu cerejas frescas ou tomou extrato de cereja durante o ano teve probabilidade 37% menor de ataques recorrentes.
Num estudo de 2018 com mais de 6 mil pessoas com gota, as que tomaram febuxostate tiveram probabilidade 34% maior de morrer de doença cardíaca do que as que tomaram alopurinol; outro remédio comum para a gota. Mas o alopurinol provoca problemas no fígado, e a colchicina, outro remédio mais antigo para a gota, diarreia grave.
Novas pesquisas provaram que os remédios antigos funcionam. Embora a maioria dos estudos tenha sido feita com pacientes com osteoartrite ou artrite reumatoide, os especialistas dizem que essas estratégias aliviarão quase todos os tipos de artrite.
Num estudo com 640 pessoas obesas ou acima do peso, as que perderam ao menos 5% do peso em dois anos apresentaram nível mais baixo de degeneração da cartilagem do que os participantes de peso estável.
Quem comeu mais de 22 g de fibra por dia teve um risco menor de dor no joelho. Um estudo mostrou que pacientes com AR que comiam peixe pelo menos duas vezes por semana tinham articulações menos inchadas e sensíveis do que os que raramente comiam.
Apenas 45 minutos por semana de caminhada ou outro exercício leve ajudaram pessoas com osteoartrite a reduzir a dor e melhorar em 80% a função da articulação do joelho, do quadril e do tornozelo. Já uma revisão constatou que acupuntura, massagem, ioga e tai-chi foram as mais eficazes para aliviar a dor.