Um dia após cientistas de Hong Kong terem confirmado um caso de reinfecção por Covid-19, Bélgica e Holanda também anunciam.
Julia Monsores | 26 de Agosto de 2020 às 11:00
Um dia após cientistas de Hong Kong terem anunciado um caso de reinfecção por Covid-19, um canal de televisão holandês relatou dois novos possíveis casos de reinfecção, um na Bélgica e um na Holanda.
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A divulgação do caso na Holanda foi feita por uma virologista do governo, Marion Koopmans.
No entanto, a própria especialista disse que, para confirmar que se trata de uma recontaminação, os pesquisadores devem ser capazes de demonstrar que os códigos de RNA do vírus são diferentes.
Para confirmar a reinfecção, é preciso fazer uma análise do genoma dos dois vírus e comparar a sequência do RNA — molécula “prima” do DNA, com uma única fita — para ver se são de fato duas linhagens diferentes.
“O importante é saber qual a frequência de casos [de reinfecção] na população. A infecção [pelo coronavírus Sars-CoV-2] possui uma impressão digital, um código genético.
As pessoas podem estocar por um bom tempo em seu organismo o vírus e excretar um pouco do material genético viral de tempos em tempos”, afirmou Koopmans.
Ela disse que o paciente holandês com aparente reinfecção é uma pessoa de idade e com sistema imunológico debilitado.
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No caso de Hong Kong, o paciente, um homem de 33 anos, foi infectado em 26 de março e se recuperou da Covid-19 em 14 de abril. A segunda infecção, assintomática, foi detectada em um teste feito em aeroporto em 15 de agosto, quando ele voltava de uma viagem à Espanha.
Ele apresentou anticorpos neutralizantes no sangue, adquiridos na primeira infecção, em exame sorológico.
A análise genética do material coletado nos dois períodos revelou uma sequência de RNA diferente, com pelo menos 23 nucleotídeos (elementos que compõem o material genético dos seres vivos) distintos.
Já o caso da Bélgica foi reportado pelo virologista Marc Van Ranst na noite de segunda-feira (24) e também está sob investigação. A informação divulgada é que o paciente não desenvolveu anticorpos suficientes no primeiro contágio, três meses atrás.
Em todo o mundo, investigações de casos suspeitos de reinfecção intrigam cientistas, que se debruçam em pesquisas para compreender não só como o organismo reage a uma segunda contaminação, mas também o processo de evolução e mutação do vírus na população.
Os primeiros casos reportados de possível reinfecção em fevereiro, no Japão, parecem casos de pacientes que continuaram a expelir material genético viral após um longo período de tempo.
Um estudo coreano avaliou pessoas que, após isolamento de 14 dias, foram acompanhadas e continuaram a eliminar o vírus nas vias aéreas respiratórias, mas possivelmente não transmitiam mais o vírus.
O estudo de Hong Kong foi o primeiro a efetivamente comprovar duas infecções distintas em um mesmo paciente.
Os autores concluem que houve duas contaminações por linhagens distintas. Porém, estudos mais aprofundados serão necessários para compreender melhor a circulação do vírus e se esses casos podem influenciar no desenvolvimento de uma vacina.
Para Natália Pasternak, doutora em microbiologia pela USP e presidente do Instituto Questão de Ciência, não há motivos para pânico com esses anúncios.
“Na verdade, o que aconteceu é perfeitamente compatível com uma resposta imune protetora, e compatível com o que buscamos em vacinas”, escreveu em seu Twitter, ao explicar que uma segunda infecção assintomática é um sinal de provável proteção do corpo ao desenvolvimento da doença, mesmo que não impeça completamente a transmissão.
Outros especialistas reforçam essa ideia.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) não comentou os dois casos europeus, mas citou o exemplo de Hong Kong para reforçar o pedido de cautela.
“Não precisamos tirar conclusões precipitadas. Mesmo que este seja o primeiro caso de reinfecção documentado.” disse Maria Van Kerkhove, médica à frente da organização no combate ao coronavírus.
Sim. Para os autores do artigo é provável que a segunda infecção do paciente de Hong Kong tenha sido assintomática devido a uma pequena quantidade de anticorpos residuais.
Estudos têm mostrado que uma infecção pelo novo coronavírus produz células de memória imunológica em grande parte dos casos.
Assim, quando o vírus entra em contato com o corpo novamente, o organismo consegue produzir defesas mais rapidamente para controlar o patógeno.
Sim, os vírus passam por diversas mutações. Um estudo publicado em julho na revista Cell mostrou que o novo coronavírus já apresenta várias mutações na proteína em forma de espinho que o reveste e que ele usa para infectar células humanas.
Algumas dessas mutações estariam tornando o vírus mais sensível ou mais resistente aos anticorpos neutralizantes conhecidos.
Sim. Os pesquisadores de Hong Kong afirmam que é possível que uma vacina contra o Sars-Cov-2 pode não proteger para o resto da vida. Assim, novas doses e atualizações poderiam ser necessárias.
Os cientistas defendem que estudos com a vacina devem incluir pessoas que já tiveram a Covid-19 e que a aplicação da imunização deve ser considerada para os ex-pacientes da doença também.
Os cientistas de Hong Kong não investigaram se o vírus que causou a segunda infecção é mais transmissível do que outros.