A verdade sobre 3 remédios milagrosos

Eles “fortalecem o sistema imunológico”, “diminuem a ansiedade”, “curam o diabetes” e muito mais. Será?

Julia Monsores | 31 de Dezembro de 2020 às 23:00

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CBD

CBD é canabidiol, ingrediente ativo das plantas do gênero Cannabis; seu irmão, o tetra-hidrocanabinol ou THC, é o ingrediente psicoativo que provoca o “barato” da maconha. Com raízes na China, a planta talvez já fosse usada com fins medicinais por volta de 2700 a.C.

Embora o THC possa aumentar a ansiedade e/ou provocar desejo e dependência, o CBD é anunciado como possível tratamento para ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Também pode favorecer o sono, e há quem o tome para dor crônica. Parte da popularidade do CBD, vendido nos Estados Unidos sob a forma de óleo, pirulito, spray nasal etc., é que os consumidores sentem que podem ter o benefício sem o “barato”.

Funciona?

“O produto é promissor em várias linhas terapêuticas por ser relativamente seguro”, disse James MacKillop, diretor do Centro Michael G. Degroote de Pesquisa Medicinal da Cannabis da Universidade McMaster em Hamilton, na província canadense de Ontário.

Em 2018, depois que três estudos clínicos randomizados, duplo-cegos e controlados por placebo com 516 pacientes demonstraram que o Epidiolex, um extrato de CBD purificado, ajudava a reduzir as convulsões, ele foi aprovado nos Estados Unidos para tratar alguns transtornos convulsivos raros em pacientes com 2 anos de idade ou mais.

Embora haja esperança no tratamento de outras doenças, a maior parte das pesquisas tem sido feita em animais. Mas sua popularidade ultrapassou a ciência. Um pequeno experimento publicado na revista Neuro-
psychopharmacology constatou que o CBD reduzia o nervosismo e a deficiência cognitiva em pacientes com ansiedade social.

No entanto, um estudo duplo-cego verificou que voluntários saudáveis que tomaram CBD apresentaram pouca ou nenhuma mudança em sua reação emocional a imagens ou palavras desagradáveis quando comparados com o grupo do placebo.

Quanto ao TEPT, embora haja estudos clínicos em andamento, ainda não há
provas conclusivas de que o tratamento seja viável. E o sono? Uma recente revisão de prontuários de 72 pacientes psiquiátricos tratados com CBD verificou que o sono não melhorou a longo prazo. Quanto ao efeito do CBD na depressão, os psicólogos dizem que ainda é uma hipótese. 

É seguro?

Não se sabe com 100% de certeza, e a quantidade diária segura para consumo não é conhecida. A Dra. Smita Das, que comanda o grupo de trabalho sobre Cannabis do Conselho de Psiquiatria da Dependência da Associação Psiquiátrica Americana, não recomenda CBD para ansiedade, TEPT, insônia nem depressão; ela teme que os pacientes demorem a buscar o tratamento de saúde mental apropriado.

Os que veem com ceticismo a eficácia do CBD dizem que outra força
pode estar atuando no bem-estar desses pacientes: o efeito placebo –
quando a pessoa acredita que o medicamento funciona e os sintomas
melhoram.

Kombucha

Trata-se de uma bebida fermentada, como é o kefir, o kimchi e o chucrute.
Tradicionalmente carbonatada e com micro-organismos vivos, é feita
com chá-verde ou chá-preto, açúcar, líquido de um lote anterior e uma
cultura-mãe de bactérias e leveduras chamada, em inglês, de scoby. Acredita-se que esse “chá da imortalidade” começou a ser usado na China há mais de 2 mil anos, mas, em 2018, já havia evoluído para um mercado global de 1,24 bilhão de dólares.

A bebida é alardeada como capaz de melhorar a digestão e o diabetes, fortalecer o sistema imunológico, reduzir a pressão arterial e desintoxicar. Seus defensores chegam a ponto de afirmar que o kombucha melhora reumatismo, gota, hemorroida, nervosismo e o funcionamento do fígado, além de combater o câncer.

Anunciada como “probiótico”, seus promotores se aproveitam do interesse pelas comunidades microbianas dos intestinos; acredita-se que ingerir alimentos ricos em probióticos aumente as bactérias “boas” e reduza as “más”.

Funciona?

Não se sabe. Só um estudo examinou os benefícios à saúde humana, de acordo com uma revisão da literatura publicada em Annals of Epidemiology. Notadamente, 24 adultos com diabetes não dependente de insulina consumiram kombucha durante três meses, e sua glicemia média se estabilizou dentro da faixa normal. Mas o estudo não foi controlado nem randomizado, e os autores da revisão observaram que muitas pretensões do kombucha se baseavam em achados isolados e não verificados.

A pesquisa celular e em animais indica que o kombucha pode ter propriedades anti-inflamatórias e antimicrobianas. Como o chocolate amargo e o azeite de oliva, o chá em si é rico em antioxidantes. Mas, ao contrário dos laticínios fermentados como o iogurte, considerados benéficos para a saúde digestiva e geral, as vantagens probióticas do kombucha ainda não foram comprovadas. Algumas marcas de kombucha são enriquecidas com probióticos.

É seguro?

“Os produtos comerciais têm de ser seguros”, informa o Dr. Walton Sumner, pesquisador do Ronin Institute. Há algumas contraindicações: pessoas com doença renal ou pulmonar, que correm risco de acidose. Além disso, a cultura-mãe pode provocar infecções em imunossuprimidos.

Em algumas marcas, o conteúdo de açúcar é elevado; a presença de pequena quantidade de álcool em outras pode ser um problema para grávidas, crianças e indivíduos com pancreatite e problemas hepáticos ou em convalescença.

Para os interessados em integrar uma variedade de micróbios à alimentação, o Dr. Emeran Mayer, autor de The Mind-Gut Connection, recomenda fazer isso naturalmente. Em vez de usar comprimidos ou suplementos, ele sugere, alterne alimentos como chucrute, kimchi, laticínios fermentados e, sim, kombucha.

Óleo de peixe

Em 1971, uma equipe de pesquisadores dinamarqueses constatou que uma população inuíte da Groenlândia tinha menos problemas cardiovasculares do que os dinamarqueses e os inuítes que moravam na Dinamarca. Surgiu uma hipótese: a alimentação rica em gorduras marinhas do povo indígena protegeria o coração.

Desde então (e apesar de pesquisas mais recentes terem demonstrado que o estudo de 1971 tinha falhas), o óleo de peixe e os ácidos graxos ômega-3, seu principal componente saudável, foram tema de milhares de artigos sobre o bem que fazem à saúde.

O óleo vem de peixes de água fria: salmão, sardinha, cavala etc. O peixe
obtém os ácidos graxos ômega-3 (de que também são feitos os suplementos)
do plâncton que come. Dizem que o óleo de peixe melhora a artrite, reduz os sintomas do transtorno de déficit de atenção com hiperatividade
(TDAH), diminui a probabilidade de infarto e é útil no tratamento do câncer.

Além disso, ele pode aumentar os níveis de lipoproteína de alta densidade
(HDL), o colesterol “bom”.

Funciona?

O maior estudo, feito pelo Brigham and Women’s Hospital (afiliado à Escola de Medicina de Harvard), acompanhou mais de 25 mil pessoas saudáveis com mais de 50 anos durante cinco anos, a partir de 2010.

Foi constatado que os suplementos de ômega-3 reduziram em 8% o risco de eventos cardíacos graves numa população com risco usual; num subconjunto de pessoas com baixa ingestão de peixe, o risco foi reduzido em 19%. O estudo é considerado o padrão-ouro da medicina. Se você tem histórico de doença cardíaca ou nível elevado de triglicerídeos, talvez seja bom tomar ômega-3.

Seu impacto foi estudado em relação ao sistema nervoso e à saúde
cardíaca e no TDAH, na doença de Alzheimer e em doenças autoimunes,
por exemplo. Até agora, os resultados foram inconclusivos e inconstantes.

É seguro?

Provavelmente, é melhor obter seus ácidos graxos ômega-3 ingerindo peixes gordurosos, como salmão, sardinha e arenque. Comer esses
tipos de peixe baixa os triglicerídeos.

O óleo de linhaça é uma fonte vegetal de ômega-3. Consumi-lo na forma de suplementos não fará mal, mas, de acordo com o Dr. Pieter Cohen, professor associado de Medicina na Escola de Medicina de Harvard, seria melhor gastar o dinheiro com uma alimentação mais saudável.

Ele viu efeitos comportamentais negativos em alguns pacientes.

“Muitos pensam: vou tomar meu suplemento e aí não precisarei me preocupar com alimentação saudável. Essa é uma forma errada de pensar.
Não temos nenhum indício de que seja melhor substituir uma refeição
saudável de peixe por um suplemento de ômega-3.”

Por Dawn MacKeen (kombucha e CBD) e Crystal Martin (óleo de peixe)